As estórias de Vida são a cura dos sistemas estruturados para oprimir.
A publicação "Árvores . Memórias e Reflorestamento" trata-se de uma compilação de transcrições de Relatos Orais de Estórias de Vidas, em Áfrika e Brasil.
(clique nos títulos das conversas e leia o texto na íntegra)
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Eu sou Diango Diabaté. Venho de Kita, do Mali, de uma família de Griô Diabaté. Pai Griô, Mãe Griô, Toda Família Griô.
Meu Pai se Chamava Tchepogo Diabaté e Minha Mãe se chamava Meimuna Damba.
Maimouna Damba Era descendente de Sumauro Kanté, Fakoly. Damba é o Mesmo Nome Kanté. As Mulheres de Sobrenome Kanté se chamam Damba.
Mas eu nunca vi Maimouna Damba, porque quando Eu Nasci, Ela Morreu. Quem Me Criou foi a Primeira Mulher do Meu Pai, Kanduba Diabará, uma Grande Cantora. Ela fez muito por mim. Ela me Criou como seu Próprio Filho.
Antes o Casamento de um griô durava uma semana. A cada Dia se Tocava o Djambé, o Balafon, o Ngoni ...
Na Tradição de Kita, durante o Casamento todos os Griôs se Reunem e alguns entram na Floresta pra conseguir Arroz, Vacas, Trazem o Tama, os Dundun à Casa do Rei.
A cada Dia se Come uma Vaca ou Cabra, por uma semana. Mas não é o Noivo que paga por tudo. São os Griôs que se juntam pra realizar a FESTA. Em Kita, no Mali é assim...
Eu Nasci e cresci Dentro da Cultura Griô.
Quando uma Criança Nasce, lhe damos o nome de uma Pessoa que é Respeitada, Nunca damos um Nome qualquer à Criança, porque quando você dá o nome a Alguém, isso vai marcar seu Caráter.
Antes o Casamento de um griô durava uma semana. A cada Dia se Tocava o Djambé, o Balafon, o Ngoni ...
Na Tradição de Kita, durante o Casamento todos os Griôs se Reunem e alguns entram na Floresta pra conseguir Arroz, Vacas, Trazem o Tama, os Dundun à Casa do Rei.
A cada Dia se Come uma Vaca ou Cabra, por uma semana. Mas não é o Noivo que paga por tudo. São os Griôs que se juntam pra realizar a FESTA. Em Kita, no Mali é assim...
Eu Nasci e cresci Dentro da Cultura Griô.
Quando uma Criança Nasce, lhe damos o nome de uma Pessoa que é Respeitada, Nunca damos um Nome qualquer à Criança, porque quando você dá o nome a Alguém, isso vai marcar seu Caráter.
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Boa tarde, Mame Diarra Bousso … é verdade … eu tenho uma estória muito grande que não cabe mesmo num livro … uma estória muito grande por parte de meu pai. Eu sou neto de Sengh Sengh … O Que é Sengh Sengh? Sengh Sengh Faye é primeiro Griô de Dakar, no Senegal. Nasci numa família muito grande, uma família de Griô … Griôs são os contadores de historias de Africa … Se não era o Griô ninguém sabe o que é Africa.
Nasceu minha família pra contar o que é Africa, o que é minha terra, o que é Senegal … Tô aqui no Brasil pra representar Senegal e a cultura africana, a cultura de Griô.
Tem doze anos que trabalho aqui com a Escola Municipal através de Historia de Africa e história de percussão, porque sou percussionista.
Na minha terra nós tocamos percussão não só pra brincadeira porque africano … a percussão dele é tudo dialeto, é tudo palavra.
Não tocamos percussão só para fazer zoada ou para fazer som … Nossa percussão tem representação. Nossa percussão tem representação. E percussão é minha vida. É tudo! Eu sou uma pessoa que gosto muito de minha percussão. Gosto muito de tocar porque eu tenho só isso na minha vida. É de minha família. É um dom que tá na minha família. É um dom que não acaba.
Nós Griôs amamos muito de contar história.
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Darshan Ram: Em busca da minha Africanidade
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Senny Camará: Moussolou, uma mulher forte
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Mamadou Fall e a Ilha de Goré
Então ... eu sou Mamadou Fall .
Eu habito dentro de um canhão.
Eu habito em um forte que se chama Forte São Michel, uma base militar francesa, que possui uma galeria subterranea.
Hoje estou embaixo de um canhão e tento desenvolver este espaço como um espaço cultural, com uma galeria de arte e um espaço para tomar o chá. Nós estamos na Ilha de Goré. Uma Ilha que se encontra na África do Oeste, no Senegal, ao Sul da Capital, Dakar.
É uma Ilha que tem uma estória ... Uma estória trágica ... Por ser uma Ilha onde se transitava os escravizados ... Uma Ilha onde os primeiros europeus que chegaram foram os portugueses, em 1.444, durante o Tráfico Negreiro, o tráfico dos escravos. Porque a posição geográfica desta Ilha na África do Oeste representa um ponto em que Afrika se encontra mais perto da costa caribenha e da costa americana.
Então foi um lugar que várias nações desejaram ocupar e invadir para despachar escravos africanos por várias partes do mundo.
A escravidão durou 400 anos nesta Ilha.
É uma pequena Ilha de 900 por 300 metros que nem ao menos está no Mapa Nacional!
Foi uma Ilha utilizada como um espaço comercial de escravos. E daqui eles levavam os escravos para todas as partes, para o Brasil, Antilhas, Caribe, América do Sul, América do Norte, Ásia e Europa. Mais de 120 milhões de afrikanos transitaram por esta Ilha para serem deportados e partir por todo o mundo afora.
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Yaya Fall Rokhayatou Guissé e a luta
Panafrikana.
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Darshan Ram: Em busca da minha Africanidade
Eu me chamo Darshan Ram Singh. Este é meu nome dentro da Kundalini Yoga.
Eu sou de Cabo Verde. Nasci na Ilha do Fogo e estou há quase 8 anos morando no Brasil, em Fortaleza.
Fiz uma formação em Comunicação Social mas não atuo muito na área. Agora tô terminando uma outra formação em Pedagogia e tô ensinando Kundalini Yoga, trabalho com terapias como Reike, Numerologia ...
Então ... Eu queria falar um pouco da minha jornada, da minha busca pela Afrika ... parece meio estranho ... "Como Assim? Você Nasceu Na Áfrika ... e busca a Áfrika?"
Meio estranho ... porque se eu busco é porque não tenho algo, porque talvez está faltando alguma coisa ...
Na verdade eu tava sem a minha identidade afrikana. Cabo Verde em si é um país que tem uma crise de identidade por não sabermos quem nós somos.
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Senny Camará: Moussolou, uma mulher forte
Eu me chamo Senny Camará. Eu nasci em Dakar mas cresci num pequeno povoado com minha avó.
Em casa, somos 8 filhos mas sou a única que toca música.
Em casa, somos 8 filhos mas sou a única que toca música.
E amo a música! Eu toco a música tradicional mandengue. Eu não sei o que me fez me apaixonar pela Kora, mas amo este instrumento que vem da Casamance, da Gambia, da Guiné e do Mali!
Já faz mais de dez anos que estou aprendendo a tocar a Kora.
No início eu tinha uma Kora tradicional, mas quando fui morar na Europa não era fácil afinar a Kora para tocar com outros músicos e instrumentos, então eu modifiquei a Kora e lhe transformei numa Kora moderna, pela facilidade de me permitir trabalhar.
Eu moro na França mas todos os anos eu venho ao Senegal, porque realmente preciso disto!
Quando me mudei do Senegal, no começo não foi nada fácil. Era a primeira vez que saía da Áfrika e realmente percebia muita diferença entre aqui e lá. Eu não consegui me adaptar muito bem no começo.
Mas foi a música que fez toda a diferença e me ajudou muito a conseguir viver lá.
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Mamadou Fall e a Ilha de Goré
Então ... eu sou Mamadou Fall .
Eu habito dentro de um canhão.
Eu habito em um forte que se chama Forte São Michel, uma base militar francesa, que possui uma galeria subterranea.
Hoje estou embaixo de um canhão e tento desenvolver este espaço como um espaço cultural, com uma galeria de arte e um espaço para tomar o chá. Nós estamos na Ilha de Goré. Uma Ilha que se encontra na África do Oeste, no Senegal, ao Sul da Capital, Dakar.
É uma Ilha que tem uma estória ... Uma estória trágica ... Por ser uma Ilha onde se transitava os escravizados ... Uma Ilha onde os primeiros europeus que chegaram foram os portugueses, em 1.444, durante o Tráfico Negreiro, o tráfico dos escravos. Porque a posição geográfica desta Ilha na África do Oeste representa um ponto em que Afrika se encontra mais perto da costa caribenha e da costa americana.
Então foi um lugar que várias nações desejaram ocupar e invadir para despachar escravos africanos por várias partes do mundo.
A escravidão durou 400 anos nesta Ilha.
É uma pequena Ilha de 900 por 300 metros que nem ao menos está no Mapa Nacional!
Foi uma Ilha utilizada como um espaço comercial de escravos. E daqui eles levavam os escravos para todas as partes, para o Brasil, Antilhas, Caribe, América do Sul, América do Norte, Ásia e Europa. Mais de 120 milhões de afrikanos transitaram por esta Ilha para serem deportados e partir por todo o mundo afora.
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Salamalecum, bom dia!
Bom dia, Brasil!
Eu sou
Rokhayatou Guissé, eu vivo no Senegal, precisamente em Toubab
Jallaw.
Eu sou atriz, estudei
música no conservatório e sou mãe de quatro filhos! Eu sou Panafricanista!
Eu sou discípula de
Mame Shake Ibrahima Fall e faço parte da família de Serigne Sheike Mbantou
Fall e Serigne Moud Abdoulah Panda então, faço parte da família de
Sheike Ibrahima Fall. Assim, eu também sou Yaya Fall.
Eu preparo uma emissão
de televisão que se chama “Black Woman Show”.
“Black Woman Show”
fala da cultura afrikana, mais precisamente de tendências do mundo da moda,
cultura e do cinema também.
E por que essa
emissão? Porque quero que os afrikanos sejam afrikanos, quero que nós
retornemos aos nossos valores afrikanos!
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Eu comecei tocando
afrobrasileiro, capoeira, samba, na comunidade onde morava. Depois me apaixonei
pela música da Bahia, o samba reggae, eu já gostava de reggae, e toquei samba
reggae durante dez anos .... Até decidir morar em Olinda, pra estudar o côco,
o maracatu, ciranda, essas coisas nossas ... Aqui a cultura popular é muito
rica! E aí acabei fazendo um ano de aula no Axe Ribeiro.
Depois de um ano ele precisou viajar, e me deixou dando aula no lugar dele... e aí foi onde eu conheci várias pessoas do mundo, comecei a fazer essa troca também, de ensinar coisa de Pernambuco e aprender música de outras lugares do mundo.
Aí eu me apaixonei pela música da Áfrika ... djambe! eu já gostava de timbal, atabaque, instrumentos que se toca com a mão ... mas o djambê ... quando eu pude tocar pela primeira vez, eu senti que tinha uma magia especial, que tinha a ver com meus ancestrais ... a primeira vez que eu toquei um djambé, foi uma coisa que mexeu comigo ... não era um instrumento que eu ia chegar e tocar ... eu tentei tocar e recebi um recado "Calma, meu filho ... não é por aí não ... vai mais devagar ... que você chega lá!"
Depois de um ano ele precisou viajar, e me deixou dando aula no lugar dele... e aí foi onde eu conheci várias pessoas do mundo, comecei a fazer essa troca também, de ensinar coisa de Pernambuco e aprender música de outras lugares do mundo.
Aí eu me apaixonei pela música da Áfrika ... djambe! eu já gostava de timbal, atabaque, instrumentos que se toca com a mão ... mas o djambê ... quando eu pude tocar pela primeira vez, eu senti que tinha uma magia especial, que tinha a ver com meus ancestrais ... a primeira vez que eu toquei um djambé, foi uma coisa que mexeu comigo ... não era um instrumento que eu ia chegar e tocar ... eu tentei tocar e recebi um recado "Calma, meu filho ... não é por aí não ... vai mais devagar ... que você chega lá!"
E aí entrei neste
mundo, né?
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Meu nome é Joab Jo
Malungo Jundiá. A capoeira faz parte da minha vida. Meu primeiro contato com
a capoeira foi com 12 anos, mas aos 15 foi quando eu comecei a treinar
realmente. E desde lá eu nunca parei. Percorri vários caminhos … caminhos
que eu preferi seguir… caminhos que eu preferi voltar e pegar outro caminhos, mas todos eles,
mesmo os caminhos que eu voltei, foram me dando bagagem para eu hoje estar
aqui. Então é isso ... minha vida é Capoeira …. Gostaria de dizer isso sem
ressalva, mas talvez infelizmente ou não… eu não consigo dizer isso sem
ressalva, dizer eu sou Capoeira. a gente tem que acrescentar uma
série de coisas e tal … mas é isso, porque a capoeira me possibilita uma série
de coisas que pra mim continua Capoeira.
Desde pensar o mundo,
sentir o mundo… pensar, tocar, escrever, minha relação com a minha família.
Eu tive 8 filhos e 7
são vivos. Um nasceu e chegou retornando … e todos eles fazem capoeira. E eles
não lembram quando iniciaram a capoeira, porque foi desde muito pequeno. Eles
são duas mulheres e cinco homens. É isso … eu não posso falar de mim sem falar
de meus filhos e sem falar dos meus avôs, meu pai, minha mãe.
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Meu nome é Elaine Una, na verdade meu nome é Elaine Gomes,
mas essa coisa do Una veio já dessa busca destas memórias dessa minha
relação indígena brasileira ... Eu fui conversando com as pessoas da minha
família para tentar entender de onde a gente vinha, porque minha avó
fenotipicamente era indígena e essa memória se perdia na minha família e as
pessoas não conversavam sobre essa grande diferença que existia entre as
feições e os traços dela e do meu avô, que já tinha o fenótipos de branco,
português… E as pessoas tratavam com muita naturalidade, chegando até a mim
essa mistura eu fiquei interessada em saber … E aí conversando com algumas
pessoas da minha família, me diziam "A gente veio de tal região… sua avó
veio de tal lugar, sua bisa…." e foi adentrando em Pernambuco, por essa
memória, que se traduziu na oralidade para mim e eu fui ter com os parentes
Fulni-ô, conversando, passando um tempo com eles ... Consanguinamente eu não
consegui chegar nessa arvore geneológica para saber exatamente essas origens,
mas nesse mesmo processo eu fui acolhida pelo povo e nesse acolhimento eles
perceberam que eu tinha muito a fala das africanidades, que para eles também é
um mundo novo e eles sempre me viam muito com essas temáticas … inclusive nas
questões fenotípicas, nas questões de convivência, de como eu me mostro ao
mundo … e aí as pessoas me chamavam de preta, preta, preta … então me disseram
"Vamos dar um nome a você, que diga quem você é, mas não precisa ser na
língua que você fala…" E aí foi de onde veio o Una. Una é preto, na língua
original brasileira … por isso que ficou Elayne Una, desde então eu
adotei, passei a ter para mim mas também vivo essas experiências agora de saber
minhas origens a partir do nome africano, mas vai ser uma caminhada, em
processos que também são religiosos. Mas até então, eu deixei de lado meu nome
do colonizador e assumi o Elayne Una que foi um presente dos
parentes Fulni-ô, daqui de Pernambuco.
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Meu nome é Gonzalo Hidalgo. Eu sou chileno de nascimento, mas
eu moro nos Estados Unidos há mais de 34 anos. Sou artista formado em
performance e também em artes de impressão. E comecei a fazer permacultura há
mais de 25 anos.
A permacultura me encontrou em uma viagem ... meu trabalho
artístico tinha muito a ver com objetivos que eram ecológicos e sociais e
comecei a pensar por muito tempo que as condições de museus e galerias
artísticas não davam pra expressar o que eu queria fazer: interagir com mais gente,
inclusive manifestar minha visão do mundo só através da arte. Fiquei com um
compromisso de fazer um trabalho que tinha como objetivo ter mais contato com
mais gente. Que ele fosse um veículo de transformação para mais gente, e a
permacultura foi esse veículo. E eu fui um aprendiz e ainda sou aprendiz. Aqui
ninguém tem qualidade para dizer que ficou maestro apenas. O verdadeiro maestro
é aquela pessoa que pode aprender sempre. Eu acredito que isso é importante.
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Eu sou Xan Marçall, sou Parauára, de Belém do Pará. Nasci dia
28 de fevereiro de 1986, sou pisciana e filha de Alda Barros de Oliveira e
Pedro Paulo Pires Moura.
Sou do Pará e tenho toda uma ligação mística com a história
do nascer, porque acho que as pessoas antes de nascer já escolheram nascer
nesse lugar. Então ... antes da gente encarnar a gente já tinha consciência de
todo trajeto que a gente queria percorrer nessa vida. É como se fosse uma
espécie de Déja Vu, sabe? Não sei se estou falando loucura, sabe? Mas é
como se a gente já tivesse visto tudo o que ia acontecer … na verdade, existem
também as possibilidades de tu escreveres o teu caminho a partir de uma coisa
que já foi vista, entendeu? Mas eu tenho impressão de que a gente é o total,
então a gente já viu tudo, todas as possibilidades, só que a gente não tem
consciência disso. Eu acho que a gente tem esse insight espiritual, essa visão
espiritual de que a gente tem a visão de todas as possibilidades que a gente
pode assumir na vida, só que quando a gente tá aqui nesse momento carne, osso,
físico, nessa fisicalidade a gente não tem mais essa consciência, então a gente
acha que o fato da gente ter escolhido um caminho foi também algo que tivesse
fora de um acontecimento que a gente tivesse ciência, entendeu? Eu acho que a
gente é muito desatento, descuidado … Nem sei porquê eu to falando tudo isso…
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Meu nome é Dimitri Dracius. Nasci na Martinica, em
79. Sempre fui uma criança que gostava de dançar. Eu gosto do ritmo.
Meu pai era apaixonado de salsa, apaixonado de percussão. Então eu nasci numa
casa que tinha muita música. Principalmente do Caribe.
A Martinica é um lugar com 95% de negros. Então, uma cultura
musical, uma cultura de dança. A gente tem várias danças. Tem o Zouk, tem
música tradicional, mas ao mesmo tempo eu não tinha muita ligação com
isso.
Eu nasci dançando. Quando cheguei na idade de 13, 14, 15 ...
eu gostava de brincar um pouco de imitar as pessoas da Ladja com amigos. A
gente tentava fazer o golpe para imitar eles, mas neste tempo a gente não
valorizava nossa cultura.
Com 18, 19 anos eu fui pra Canadá. Lá eu descobri a Capoeira
Angola e ao mesmo tempo, um amigo me iniciou realmente no Danmye, porque
antes disso eu fazia só para brincar.
Quando fiz a primeira aula, eu me senti em casa, eu senti que
isso era minha expressão natural. Quando eu dançava as pessoas me falavam “você
dança de um jeito diferente, mais roots.” Eu não gostava de dançar de um jeito
refinado. Mas nesse tempo eu me apaixonei pela capoeira angola. Então eu
coloquei todo meu fogo na capoeira angola mas ao mesmo tempo eu praticava
Ladja, eu fazia parte de um grupo de dança tradicional da Martinica e da
Guadalupe e fazia as danças, apresentações, eu apresentava Ladja, Danmye.
O Danmye sempre estava lá, só que eu praticava mais a capoeira. Eu fugia
um pouco do Danmye para não me perder.
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Meu nome é Jocilene
Cunha. As pessoas me conhecem por Tina. Tenho 39 anos de idade e faço parte da
Capoeira Angola Comunidade, sou aluna de Mestre Naldinho desde 1996, lá em João
Pessoa, na Paraíba.
Já tenho 21 anos na prática, nessa vivência dentro do grupo.
E não só faço parte da capoeira, mas também do outro lado da cultura popular de
raíz, onde faço parte de um grupo chamado "Cavalo Marinho Infantil
Sementes do Mestre João do Boi".
Antes não tinha este nome "sementes". Foi colocado
depois da morte do meu Mestre, que é o João Antônio do Nascimento Pereira,
também conhecido como João do Boi. O cavalo marinho infantil de lá tem uma
resistência e existe desde 1968 nessa base e após o falecimento do meu mestre,
eu tô dando continuidade ao brinquedo, a pedido dele. Ele pediu pra não deixar
a brincadeira acabar e hoje eu tô na responsabilidade de manter a tradição viva
nessa cultura maravilhosa, genuinamente brasileira, lá na Paraíba.
A gente faz ensaios todos os sábados, apresentações em vários
lugares, eventos de capoeira, festival em faculdade, aniversário, onde quer que
esteja, dia de reis, quando a gente comemora a nossa brincadeira. Eu já
conhecia um pouquinho o cavalo marinho, em apresentações, no próprio bairro que
eu moro, em João Pessoa. E até então eu era apenas parte do público. Eu via o
grupo se apresentar e gostava muito de ver o pessoal brincando, se
divertindo.
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ar vo re da me mo ri a hi st or ias tr an sa tl an ti ca s
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