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Árvore da Memória: Yaya Fall Rokhayatou Guissé e a luta Panafrikana


Em janeiro de 2019 estivemos com a Yaye Fall Rokhayatou  Guissé, em sua botique, loja de cosméticos e produtora numa cidadezinha perto de Dakar (no Senegal)

da árvore da memória 

de nossas conversas:


Yaye Fall Rokhayatou  Guissé, no Senegal

Salamalecum, bom dia! Bom dia, Brasil! Eu sou Rokhayatou  Guissé, eu vivo no Senegal, precisamente em Toubab Jallaw.

Eu sou atriz, estudei música no conservatório e sou mãe de quatro filhos! Eu sou Panafricanista!

Eu sou discípula de Mame Shake Ibrahima Fall e faço parte da família de Serigne Sheike Mbantou Fall e Serigne Moud Abdoulah Panda então, faço parte da família de Sheike Ibrahima Fall. 

Assim, eu também sou Yaya Fall.

 Eu preparo uma emissão de televisão que se chama “Black Woman Show”.

“Black Woman Show” fala da cultura afrikana, mais precisamente de tendências do mundo da moda, cultura e do cinema também. 

E por que essa emissão? Porque quero que os afrikanos sejam afrikanos, quero que nós retornemos aos nossos valores afrikanos!

Eu trabalho com estilistas, criadores,  modelistas ... Vamos trabalhar o wax (tecido de estampa afrikano) ...  Para as questões de estética, vamos trabalhar com salões que apostam no “Naty Hair”, o Cabelo Natural.  

Desde bem criança que eu me sinto panafrikana ... Mas me tornei ativista desde que conheci Kemmy Sebá. Kemmy Seba, o grande panafricanista que esteve aqui em Dakar.

Depois de lhe conhecer passei a fazer parte da ONG Gurgence Panafricanist.


É um combate muito nobre. Nós devemos nos unir, todos os panafrikanos, devemos nos unir para que todos os opressores e colonizadores saiam da Áfrika.


Mo: Aqui em Toubab Jallaw e mesmo em Dakar você conhece muitas pessoas que pensam como você?

Mesmo se eles pensam como eu, eles tem medo, porque não é todo mundo que é ativista. Você pode ser panafrikano, mas não ativista, sabe? Eu sei que tem muita gente que é panafrikano mas que não se mostra. Na ONG Yakade a maioria dos militantes são jovens. A diretora da ONG tem 22 anos, ela se chama Deiba Ben So, 22 anos, e sabe o que quer. Ela estudou e é genial, mas é uma jovem! 

Mo: Você tem alguma mensagem para os afrikanos, até mesmo para aqueles afrikanos que não nasceram na Áfrika, e estão espalhados pelas terras da diáspora?

Na Europa, eu sei que tem muitos brancos que são afrikanos, brancos que vivem na Europa, que são afrikanos e que vivem como afrikanos. E que tem medo de se afirmar como afrikanos, de deixar sua afrikanidade se aflorar … Por exemplo, se um branco lhe diz a seu pai: "Pai, eu sou afrikano" e seu pai vai pensar: "mas o que ele está querendo dizer com isso?" Então, este tipo de coisa devemos combater na Europa, também. Que as pessoas possam ser livres para ser o que quiserem …


Para os afrikanos eu digo: nós somos afrikanos, nós temos a pele negra! Por que clarear a pele? Por que alisar o cabelo? Eu sou Rasta. Antes tinha longos cabelos alisados, mas depois deixei o cabelo Rasta para ser mais natural … Porque tem afrikanos de pele clara, e tem brancos também que vem para cá para pegar sol e ter a pele mais escura … então naturalmente! Mas tentar clarear a pele, trás doenças para a pele, pode causar até mesmo câncer! Com nossa pele preta nós somos mais fortes! Nós somos mais saudáveis! Somos afrikanos e devemos ter orgulho da cor da nossa pele, orgulho de portar nosso cabelo Afro, como antes! Deixar tudo natural! Naturalmente afrikano! 

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