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Guedra - O ritual das mulheres do "Povo Azul"

Guedra

A palavra "Guedra" quer dizer "caldeirão" e também "aquela que faz ritual".

Guedra é usado para nomear um ritual de transe do "Povo Azul" do deserto do Saara, que se estende desde a Mauritânia passando pelo Marrocos, até o Egito.

Através da dança e da ritualística que a envolve, esse povo traça místicos símbolos espalhando amor e paz, agradecendo a terra, água, ar e fogo, abençoando todos os presentes entre pessoas e espíritos, com movimentos muito antigos e simbólicos.

É uma dança ritual que, como o Zaar, tem a finalidade de afastar as doenças, o cansaço e os maus espíritos.





Guedra é uma dança sagrada do "Povo do Véu" ou "Kel Tagilmus", conhecido como "Tuareg.

Em árabe, "Guedra" é Também o nome de um pote para cozinhar, ou caldeirão, que os nômades carregam com eles por onde vão. Este pote recebia um revestimento de pele de animal, que o transformava em tambor.

Somente as mulheres dançam "Guedra". Vêm totalmente cobertas por véus negros e entram tocando sinos. 

Estes povos acreditam que os maus espíritos tem medo do poder feminino e é por isso que somente elas dançam, enquanto os homens das tribos cobrem seus rostos com tecidos.

Durante a dança, elas usam um acessório na cabeça feita de arame e madeira, trançada na própria cabeça e enfeitada com pedras preciosas e seda. 

Elas batem palmas, gritam, as mãos abençoam as pessoas (como se as mãos estivessem espirrando água nas pessoas). 

Estes movimentos são feitos 3x para cada direção (norte, sul, leste e oeste). Depois, movimentos em direção ao fígado, coração e cabeça para as pessoas e para ela própria. Depois, tiram o Fular do rosto e continuam fazendo movimentos com as mãos. O canto dos que assistem se modifica e mais parece um lamento gutural. 

No final, as mulheres vão se ajoelhando, acalmando a respiração e terminam no chão, desmaiadas.  

Um homem pode dançar, mas não faz o ritual. Ele usa uma roupa parecida com a bata de Khaleege, com mangas encolhidas, mas sem movimentos das mãos. 

Diferente de outras danças de transe do Oriente Médio, como o Zar e Hadra, não envolve o exorcismo de demônios nem tampouco a matança de animais. É puramente uma dança de purificação e felicidade. 

Os movimentos são simples, mas como em todas as danças de transe, você precisa se soltar e permitir o envolvimento total para que de fato a experiência tenha fundamento. A questão é que as danças de transe de fato funcionam e induzem a um estado alterado de consciência, que pode e deve ser sentido por aqueles que a experimentam.

O ritmo Guedra

O ritmo Guedra no Marrocos poderia ser comparado ao ritmo Bulerias do Flamenco, pois tem um padrão rítmico similar. Não é tradicionalmente tocado pelo derbak ou tabla, e nem possui os agudos taks que estamos acostumadas quando se trata de musica árabe para dança.

Executado com apenas um instrumento o ritual do Guedra depende do canto e das palmas.

A Base rítmica é: Duh Dah m Duh Dah/ Dun Dah m Duh Dah e o ritmo é constante e tem as batidas do coração.

As palmas são alternadas entre o grupo, uma parte bate 1 e a outra bate 2.

Normalmente, Guedra é um ritual noturno, realizado à luz da lua e ao redor do fogo.

O Ritual tem início com uma mulher, coberta por um véu preto (Haik), representando a escuridão do caos. As mãos se direcionam aos pontos cardeais, mimetizando os quatro elementos  (fogo, terra, ar e água) e o tempo (Passado, presente e futuro).

Aos poucos, ela vai acompanhando o ritmo com o corpo, mostrando a ordem cósmica necessária para a criação do Universo e suas criativas. Os gestos das mãos simbolizam a beleza, o amor entre os elementos, o drama, a tristeza.

Significado básico das mãos:
- Mãos ao Alto - Paraíso
- Mãos para Baixo - Terra
- Ondulações do pulso para baixo - Águas
- Ondulações do pulso para trás - Passado
Ondulações do pulso nas laterais - Presente
Ondulações do pulso para frente - Futuro

O grupo acelera as batidas do tambor e das palmas motivando a dançarina a cair no transe, quando isso acontece ela cai ao chão e outra dá início à dança. A queda corresponde a um transe e não a uma coreografia programada, assim como no Zaar.



Origem dos Kel Tagilmus

Os Tuaregs não se referem a si próprios como Tuaregs, porque consideram o termo pejorativo. Eles se autodefinem como "Kel Tagilmus", por conta do hábito que os homens deste povo tem de usar o tecido sobre a cabeça, a partir de certa idade, enquanto as mulheres permanecem descobertas.

A origem dos Kel Tagilmus se perdeu, como outras comunidades berberes, ao longo da antiguidade.

Estudiosos tem afirmado ter encontrado práticas cristãs e pagãs em seus costumes, ainda que hoje em dia os Tuareg sejam muçulmanos.

Guedra utiliza canções muçulmanas, mas isso tem, obviamente, outras associações. A cultura Tuareg hoje em dia tem sido irrevogavelmente prejudicada pela situação política, que tem dividido o grupo em diversas áreas sob o controle de diferentes governantes.

Os Tuaregs são apenas uma das comunidades berberes. O Povo Azul é um subgrupo dos Tuaregs. O Povo Azul é chamado assim por ser de fato azul. Usam tecidos que são tecidos por um processo envolvendo a trituração do pó de anil nas roupas, através da sua esfregação nas pedras deste material.

Este pó azul acaba sendo esfregado em sua pele e aí se deposita. De fato eles acreditam que esta cor azul é benéfica e também tem um efeito estético. Aparentemente ajuda na hidratação da pele.

Eles tem uma influência matriarcal bastante forte em sua cultura. Os homens chefiam e ocupam posições de conselho, mas a liderança é hereditariamente passada através da mulher. Herança vem pelo lado da mãe e um homem que se case com alguém que é de fora de sua comunidade, deve se mudar para a comunidade de sua mulher.

Um homem pode ter mobilidade social, ao se casar com uma mulher que tem um status superior mas as mulheres raramente se casam com alguém que tem uma situação inferior à dela. Os Homens da comunidade são reconhecidos como sendo dos mais ferozes guerreuris no deserto e também ótimos comerciantes. A posição das mulheres em sua estrutura social é absolutamente única.

O respeito e liberdade dados à mulher Tuareg é por vezes mal interpretado pelos membros de outras comunidades que são muito mais restritivas com suas mulheres. Onde existe prostituição, ela é fortemente condenada pela sociedade Tuareg.

Antes de se casar, as mulheres gozam de liberdade e podem aproveitar a vida como melhor lhes pareça. Elas geralmente não trabalham, mas dançam, cantam e escrevem poemas.

Dentro das sociedades Tuareg, existem basicamente duas classes sociais: uma classe mais nobre e a classe dos escravizados.

Em alguns grupos, esta relação se estabelece por herança ligada a status. As mulheres nobres possuem escravizadas, fazem o menos possível ou absolutamente não trabalham.

Elas fazem queijo e manteiga, ordenham cabras e colhem tâmaras. Tem que aprender a trabalhar com couro, mas são os homens que demonstram maior habilidade com agulhas e a costura de roupas.

Diferente de suas vizinhas, as Mulheres Tuareg podem escolher seus maridos, os homens podem ter mais de uma mulher, mas raramente fazem o uso deste direito. Danças de corte são comuns e uma das formas de conhecer as pessoas.

A noiva Tuareg retém o controle sobre toda a sua propriedade pessoal, incluindo a criação de animais em cativeiro, enquanto é esperado do homem que pague as despesas da família.

Depois do casamento, é esperado um comportamento de respeito de ambos os lados.

A mulher pode ter amigos de ambos os sexos, de uma maneira similar à cultura ocidental. Um provérbio Tuareg Diz: "Homens e Mulheres devem ser um para o outro como os olhos e o coração. Não apenas Para a cama".

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