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Xequerês Djalô

           
Vivência de Confecção de Xekeres Djalô em parceria com Maracatu Ventos de Ouro (BA, 2016)

Os Xequerês e a Magia das Cabaças:

Em toda a Ásia, África, Ilhas do Pacífico, Caribe e as Américas, cabaças são usadas como ressonadores para instrumentos musicais.

Na África yorubá, a cabaça é considerada como o primeiro instrumento enviado do céu à terra, pelo espírito sagrado de Oduduá. Brota das terras, trazendo formas femininas e a abundância, usada nas mais variadas culturas desde os tempos mais remotos, como utensílio doméstico, instrumento musical ou ritualístico. 


Mulheres e cabaças: forte ancestralidade na África

O nome científico da cabaça é Lagenaria siceraria, também conhecida como porongo, é uma planta trepadeira da família das abóboras.  O fruto da cabaça é colhido mais cedo ou mais tarde segundo o uso que se lhe queira dar. Depois de retirado o miolo, deve-se lavar bem e deixar secar. 


   

No Brasil pré-colonial, a cabaça sempre foi usada como vasilha para transportar água, ou armazenar algum  outro tipo de alimento, estando amplamente presente na vida cotidiana. Na ilustração abaixo, uma mulher indígena tupi-guarani carrega uma cabaça entre seus objetos pessoais. Foi através do contato com os indígenas e posteriormente com os africanos que o uso das cabaças foi assimilado pelos colonizadores portugueses e espanhóis. 

indígena tupi, carregando sua moringa de cabaça
Dentre outros usos das cabaças estava o de utilizá-las para a confecção de instrumentos musicais como o Xekerê (África), as Maracas (América Latina), a Kora e o Kamale ngoni (África) e os vários tipos de arcos musicais, como os Berimbaus (Brasil), os Umakwayanas (África do Sul).
Os xekerês ou agbés são instrumentos originários da África e são feitos de "cabaça bailarina", como são bem conhecidas aqui no Brasil a cabaça com pescoço. Aqui chegaram e foram incorporadas nos afoxés da Bahia e de Pernambuco. Por isso em alguns lugares os xekerês são também chamados de de Afoxé, semelhante em nome e estilo ao Axatse de Gana (África noroeste).
Recentemente os xekerês ou sekeres (em yorubá) foram incorporadas à bateria das nações de maracatu.
Na África, os Xekerês são usados tanto como um chocalho ou como tambor. Eles são feitos com uma cabaça coberta por um trançado de pedras feitas de argila ou miçanga, permitindo que o instrumento tenha um som único.
É um instrumento pessoal e nunca é emprestado ou compartilhado, mesmo com familiares. No entanto, um filho que é músico profissional pode herdar o instrumento de seu pai.
Os Xekerês estão muitas vezes ligados à religião e desempenham um papel muito importante em certas formas musicais tradicionais, sendo muitas vezes tocados pelos mais velhos.



GEOMETRIA S A G R A D A : DJALÔ


Cada xekerê tem um desenho próprio, respeitando uma geometria sagrada, onde as formas e as cores contam histórias da vida do mundo e fazem o som nascer.

Quando os africanos foram levados para o “Novo Mundo”, levaram com eles muitas dessas ricas tradições musicais, que se enraizaram em graus variados em diferentes partes das Américas e do Caribe.

Em Cuba, as tradições religiosas yorubás que utilizam tambores sagrados, ferro e Xekerês são encontradas quase que completamente intactas – com semelhantes padrões rítmicos, os nomes dos instrumentos e cantos de acompanhamento.

    

Alguns Xekerês tem um orifício na parte superior para que possa produzir o som baixo do tambor. Podem ser encontrados em várias formas e tamanhos. Também são tocados em uma variedade de estilos musicais e tem muitos nomes diferentes.

Na África é encontrado principalmente, mas não exclusivamente, nos países da Nigéria, Togo, Gana, Benin, Serra Leoa e Costa do Marfim. Grupos de línguas diferentes em cada país, muitas vezes têm seus próprios nomes, estilos, técnicas e tradições associados com o Xekerê. Na Nigéria, alguns tipos de xekerês são também chamados de “Agbe” e tradicionalmente pertencem e são tocados apenas por músicos profissionais.

Interessante observar que em Pernambuco, muita gente também chama o instrumento de agbê.

As formas voluptuosas das cabaças abrem nossa imaginação e a partir de seu lindo corpo podem ser criados milhares de instrumentos...

Na trama se manifestam desenhos que contam histórias vivas por si só. De várias cores, formas, tamanhos. Inspirada pelos sons do mar, dando vida e movimentos a esses instrumentos de raízes ancestrais.

Xequerês Djalô

Xequerês Djalô


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