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Ritmos do Candomblé Brasileiro

          
Os ritmos do Candomblé (culto tradicional afro brasileiro) são aqueles usados para acompanhar as danças e canções das entidades (também chamadas de Orixás, Nkises, Voduns ou Caboclos, dependendo da "nação" a que pertencem).


Ritmos de Diferentes Nações de Candomblés no Brasil

São cerca de 28 ritmos entre as Nações (denominação referida à origem ancestral e o conjunto de seus rituais) de Ketu, Jeje e Angola.

São executados, geralmente, através de 4 instrumentos: o (sino), o (tambor agudo), o Rumpi (tambor médio) e o Rum (tambor grave responsável por fazer as variações).


Os ritmos da Nação Angola são tocados com as mãos, enquanto que os de Ketu e Jeje são tocados com a utilização de baquetas chamadas Aquidavis (como são chamadas nas naçoões Ketu_Nagô).

"Em candomblé a gente não chama "música". Música é um nome vulgar, todo mundo fala. É um...como se fosse um orô (reza)...uma cantiga pro santo". 


A presença do ritmo no barracão parece estar associada à dança, que rememora os atributos míticos das divindades. Desse modo, um deus guerreiro, como Ogun, estabelece uma coreografia na qual os movimentos serão ágeis, rápidos e vigorosos, adequando-se ao ritmo executado, diferentemente dos passos lentos, fluidos e ondulantes de Oxum, uma deusa das águas. 

Assim, com seus ritmos característicos, cada entidade (orixá, nkise, voodum) expressa, na linguagem musical e gestual, suas particularidades, criando uma atmosfera na qual estas se tornam inteligíveis e plenas de sentido religioso. Daí podermos falar dos ritmos mais freqüentes no candomblé em termos do que representam e de sua relação com as entidades às quais homenageiam.



- Nas nações Nagô:

O adarrun é o ritmo mais citado como característico de Ogun. É um ritmo "quente", rápido e contínuo, que pode ser executado sem canto, ou seja, apenas pelos atabaques. Pode, também, ser executado com o objetivo de propiciar o transe. O toque de bolar, por exemplo, se faz ao som do adarrum.

Apesar de ser caracteristicamente tocado para Ogum, também é tocado para os orixás: Orixá Exú, Orixá Omolu, Orixá Odé (Oxossi), Orixá Oyá, Orixá Nanã, Orixá Iemanjá, Orixá Oxum e Orixá Babá (Oxala).

O aguerê é o ritmo de Oxóssi por exceleência, mas também é tocado para Orixá Exú, Orixá Ogum, Orixá Ossain, Orixá Oxum, Orixá Xangô, Orixá Oyá, Orixá Iemanjá. 

É acelerado, cadenciado e exige agilidade na dança, do mesmo modo que a caça exige a agilidade do caçador. 

O ritmo de Obaluaê é o opanijé, um ritmo pesado, "quebrado" (por pausas) e lento. Este ritmo lembra a circunspeção deste deus das epidemias, ligado à terra.

O bravum, embora não seja atribuído especialmente a algum orixá, é freqüentemente escolhido para saudar Oxumarê, Ewá e Oxalá. É um ritmo relativamente rápido, bem dobrado e repicado. A dança preferida de Xangô se faz ao som do alujá, um ritmo quente, rápido, que expressa força e realeza recordando, através do dobrar vigoroso do Rum, os trovões dos quais Xangô é o senhor.

Ijexá, o único ritmo tocado com as mãos no rito Ketu é, por excelência, o ritmo de Oxum. É um ritmo calmo, balanceado, envolvente e sensual, como a deusa da água doce, à qual faz alusão. Ele é tocado ainda para o orixá filho de Oxum, Logun-Edé e, algumas vezes para Exu e para Oxalá.

Para Iansã, divindade dos raios e dos ventos, toca-se o agó, ilu, ou aguerê de Iansã, termos que designam um mesmo ritmo que, de tão rápido, repicado e dobrado, também é conhecido como "quebra-prato". É o mais rápido ritmo do candomblé, correspondendo à personalidade agitada, contagiante e sensual desta deusa guerreira, senhora dos ventos e que tem poder de afastar os espíritos dos mortos (eguns).

Sató, um ritmo vagaroso e pesado, é geralmente tocado para Nanã, considerada a anciã das iabás (orixás femininos). 

Alujá é utilizado para Cantigas dos Orixás: Orixá Odé, Orixá Xangô e Orixá Iemanjá.

O batá, talvez um dos ritmos mais característicos do candomblé, pode ser tocado em duas modalidades: batá lento e batá rápido, sendo o primeiro executado para os orixás cuja dança comedida denota certas características de suas personalidades, como a dança de Oxalufã, o deus arcado e velho que, com seu Opaxorô (cajado), criou o mundo.

Significativamente, o termo batá, designa também o tambor de duas membranas, afinadas por cordas, cujo uso nos candomblés do Norte e Nordeste do Brasil é tão difundido que talvez por este motivo o ritmo tenha tomado seu nome, ainda quando não executado por este instrumento.

Ibi ou Igbi é específico de Orixá Babá ou Oxalufan (Obatalá)

Vamunha é um outro ritmo, também conhecido por: ramonha, vamonha, avamunha, avania ou avaninha, tocado para todos os orixás. É um toque rápido, empolgado e tocado em situações específicas como a entrada e saída dos filhos de santo no barracão e para a retirada do orixá incorporado. É nesse momento que o orixá saúda os pontos de axé da casa e se retira sob a aclamação dos presentes.

Todos os toques (ritmos) acima são característicos do rito Ketu e, associam letra, melodia e dança que, integrados,  "narram" a experiência arquetípica das entidades, vividas em nível individual e grupal, cujo ápice é o transe. Alguns destes ritmos são tão personalizados dos orixás que podem dispensar as letras ou mesmo a dança como elemento de identificação. É o caso do alujá, do opanijé e do agó (quebra-prato), consagrados a Xangô, Obaluaê e Iansã, respectivamente.


- Nas nações Angola:

No rito Angola, o repertório rítmico é composto por três polirritmos básicos e algumas variações sobre estes. 

São eles: 
- Cabula; 
- Congo;
- Barravento (do qual a variação mais conhecida é a muzenza). 

Todos são ritmos rápidos, bem "dobrados", repicados e tocados "na mão" (sem varinha ou aguidavi). 

De modo geral, todas as divindades podem ser louvadas com cânticos ao som de qualquer dos três: sejam os orixás, nkices, ou aquelas tidas como originárias dos cultos ameríndios (caboclos índios e boiadeiros). 

A própria aceitação dos elementos nacionais sobrepostos às influências africanas no candomblé angola é perceptível, principalmente pelas letras das cantigas, cantadas em português e mescladas aos fragmentos das línguas "bantu". 

No Ketu a tolerância ao português é mais restrita e as casas de Ketu que cultuam caboclos estabelecem uma "mediação" que intercala, na ordem do xirê, o toque dos caboclos. Assim, para que o "xirê Ketu" possa abrigar as toadas de caboclo é preciso que ocorra uma "transição musical", na qual o toque "vira para Caboclo”, não sem antes serem cantadas algumas cantigas de angola como este ingorossi (reza):
"Sequecê di quan Dandalunda
Sequecê di quando eu andá...“.
(rito angola) 

- Nas nações Jeje:

- Bravun ou Batá natural da nação de Jejê acompanha alguns Canticos dos Orixás: Orixá Exú, Orixá Omolu (Obaluaê), Oxumare (Bessen), Orixá Xangô, Orixá Oxum e Orixá Babá (oxala).

-Ritmo Sató ou Jiká natural da nação de Jejê acompanha alguns Canticos dos Orixás: Orixá Oyá, Orixá Iemanjá e Oye (cantigas de Cargo).

-Huntó natural da nação de Jejê acompanha alguns Canticos dos Orixás: Orixá Omolu e Orixá Oxumarê.

-Hamunha ou Avamunha natural da nação de Jejê acompanha alguns Canticos dos Orixás: Orixá Ogun, Orixá Ossain, Orixá Omolu, Orixá Oxumarê e Orixá Iemanjá.

"Fala mameto caiangô
Kicongo quando come
Lemba di lê “.

(cantiga de Obaluaê - rito Angola)
"Aê seu kafunã
Omulu que belo ojá
Aê aê seu Kafunã"


Clave Gã Ritmo Ijexá
Clave do Ritmo Ijexá
"Ritmo cadenciado tocado somente com as mãos. Provavelmente era usado na nação ijexá (sub-grupo nagô), cuja última casa em Salvador encontra-se no subúrbio de Plataforma. É o ritmo mais conhecido, popularizado pelos afoxés em todo Brasil. É dedicado a Oxum quando sua execução é somente instrumental, embora existam cantigas para vários Orixás com este tipo de toque tão especial ".

Ijexá acompanha alguns Cânticos dos Orixás: Orixá Exú, Orixá Ogun, Orixá Ossain, Orixá Oxum, Orixá Logun, Orixá Oyá (Iansã), Babá (Oxalá).

Conta-se que na África o ijexá era um ritmo muito ligado às mulheres e em determinadas casas de culto, apenas as mulheres tocavam os atabaques.

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