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Música da Áfrika Mandinga

                    
                               A história de Sundjata Keita, fundador do império de Mali, que durou de 1235 a 1469

Os Mandingas pertencem ao grupo Mandé, que se encontram no Oeste da Áfrika, Na Atual Região das fronteiras da Guiné Conakri, Mali, Senegal, Gambia, Burkina Faso, Guiné Bissau, Nigéria, Mauritânia, Costa do Marfim e sul do Marrocos. 

                                        
                                           Desert Blues Musikprojekt aus Mali Teil    

Descendentes do Império de Mali, que teve como poderoso Rei Sundjata Keita, os Mandengues são comerciantes ou agricultores e em sua maioria vivem na zona rural, longe da costa e de difícil acesso à rodovias ou ferrovias. 


                                  
                                   A magia do tradicional mundo da música malinké

No mundo afrikano Mandengue, os rituais (como cerimônias de casamento, batizado, circuncisão) não existem sem a música, a dança e a presença do Djeli, o Griô, com seus cantos cerimoniais e seus hinos de louvor. 
  
O Djeli é poeta, cantor e músico pertencente a uma casta especial que, além de cronista e detentor da tradição oral, frequentemente exerce várias atribuições religiosas e espirituais.    

A música de um Djeli é feita na forma de canto ou de discurso, onde se fala sobre genealogias, sabedoria em geral ou história. 

Os Djelies tocam vários instrumentos ancestrais, mas geralmente são vistos em suas performances tocando Balafone, Kora, ou Ngoni.     

Se os Djéli "Karafolálu" (tocadores de Kora) fascinam multidões, não é por acaso. 

Um provérbio mandinga diz que "se nasce griô. Não se torna griô." 

Assim, é fácil entender que os mais renomados tocadores de Kora nasceram de famílias de Djelies, em Mali, Gâmbia, Guiné e Senegal, países com grande tradição na execução do instrumento.

Os griôs (djélis) pertencem à casta dos "Ñàmàkálá". Essa palavra, difícil de ser traduzida, designa uma realidade complexa da sociedade Mandinga. 

Massa Makkhan Diabaté traduz poeticamente em seu livro "Janjon e outros cantos populares do Mali" o termo pela grave expressão "antídoto do mal". 

Djeli Baba Sissoko explica esse termo: "ñàmàkálá" quer dizer algo que conecta as pessoas para que elas se entendam. 

No entanto, existem os griôs que apenas contam histórias e cantam e os "ñamàkáláya", uma casta de pessoas que são intermediadores sociais e costumam também ser artesãos e artistas nas sociedades Mandengue.

Assim são "ñàmàkálá":

- as pessoas que forjam, ferreiros (nùmú)
- artesãos que trabalham com couro e sapateiros (káraké)
- artesãos que trabalham a madeira (kùlé)
- os mestres da palavras (fína, fínè ou fùnù), griôs que possuem apenas o dom da palavra
- os griôs (jèlí, plural jèlílu, feminino jèlimusow), griôs que dispoem o dom da palavra, do canto e da música

Encabeçando os Djèli, vêm os músicos que tocam cordas, depois os que tocam xilofone (balafone) e os instrumentos de sopro (bùdùfolá e filèfolá). Por fim, os Djelis que tocam instrumento de percussão.   


Mapa da Áfrika Mandinga ou Malinke

Conta-se que:

 ...no século XII, Nare Maghann Konate reinou sobre Mande, uma região que na altura cobria o atual leste do Mali e norte da Guiné. 

Este rei tinha dois filhos, Soundiata Keita da sua primeira esposa e Dankaram Touman da sua segunda mulher. 

Quando o rei morreu, o segundo filho tomou o poder, exilando seu irmão mais velho.

Longe de suas terras, Soundiata Keita viajou por todo o  país formando alianças com chefes de outros clãs. Imaginando que isso poderia acontecer, seu pai, antes de morrer nomeou um conselheiro para o seu filho mais velho. 

No sul do país existia outro reino, Sosso, governado com mão de ferro por Soumaoro Kante

Este rei, encorajado pelo desejo de grandeza juntou os pequenos reinos das redondezas e cobiçava o reino de Mande pelo seu minério de ouro.

Soundjata, alarmado com as ambições de seu vizinho enviou o seu conselheiro Griô, Bala Faseke, como embaixador, à corte de Sosso para tentar mediar a situação. 

Mas o rei Soumaoro Kante aprisionou-o, violando o costume ancestral de respeitar os conselheiros reais.

Segundo a história, um Djeeene havia presenteado o Rei Soumaoro Kante com um instrumento que ele nunca tinha visto: o Balafone.

O rei encantado com o instrumento decretou que ninguém mais tinha o direito de tocá-lo.  Se alguém se atrevesse a fazê-lo, seria imediatamente executado.

Um dia, em desafio a esta interdição, Bala Faseke entrou no quarto secreto onde o balafone preso pelo Rei estava guardado e começou a tocá-lo. 

Ao ouvir o som de seu instrumento, Soumaoro ficou furioso e tentou matar o conselheiro o seu prisioneiro, mas este o enfeitiçou com a música. 

Ele tocava virtuosamente e encantou o rei, que decidiu então nomear Bala Faseke como seu próprio conselheiro.

A guerra entre Soundiata Keita e Soumaoro Kante tornou-se inevitável. 

Após diversas batalhas Bala Faseke conseguiu regressar ao seu mestre original. 

Soundiata Keita, com apoio de seu conselheiro, ganhou a guerra tornando-se o primeiro rei de Mali.

Bala Faseke continuou tocando o balafone por muito tempo e desde então, todos os conselheiros de cada reino podiam exercer as suas funções e desenvolver a arte de tocar o Balafone

Bala Faseke fundou uma linhagem de Djelies, os zeladores do Balafone.

De acordo com os diferentes grupos étnicos, os tocadores podem ou não ser Grios. 

Os Griôs aprendem a  tocar o balafone desde pequenos.  

A criança senta em posição oposta à do seu professor e aprende por imitação. Ela começa tocando uma única nota, para adquirir o sentido de ritmo. Então, tão logo que seja capaz de falar, ele está pronto para aprender como fazer o instrumento falar. A criança toca a partir do ditado verbal, repetindo no balafone as palavras que ela compreende.

Antes que um balafone possa ser retirado de seu local sagrado, é necessário um ritual. 
Derrama-se cerveja de painço ou sacrifica-se uma galinha. 

Este sacrifício é um meio de obter permissão dos espíritos para usar o balafon e "dar-lhe voz". Igualmente, quando um novo balafone é feito, o mesmo ritual deve ser realizado.

                        

 Os Instrumentos Tradicionais da música Mandengue:


Kora

kora é uma harpa vinda do Oeste Africano. A Jeli dedicado instrumento musical.

A base da kora é uma grande cabaça cortada pela metade. A partir desta baseum gargalo reto de madeira dura estendeA cabaça atua como uma caixa de ressonância, com a sua abertura coberta por pele de cabra ou bezerro raspada.

A kora tradicional tem um total de vinte e uma cordas de nylon ligados individualmente ao poste por meio de anéis de couro. Essas cordas são divididos em duas fileiras, onze na esquerda e dez à direita. Cordas foram originalmente feitas de couro antílope torcida até por volta de 1950, enquanto que cordas de nylon só faz a afinação mais resistentes à mudança de temperatura.

A kora é afinada pelo movimento dos anéis de couro auto-bloqueio para cima ou para baixo do pólo

Entre a cabaça e sua cobertura de couro uma moldura feita de três varasdois paralelos ao pescoço e uma perpendicular a eleEles são mantidos firmemente no lugar pelo couro e a borda da cabaça, para o tocador segurar o instrumento, com a sua base apoiada no abdômen do tocador. A Kora é realizada com as cordas de frente para o jogadore é jogado com os dois polegares e dedos indicadores em conjuntoBase no polegar esquerdoacompanhamento (Kumbengo) com o polegar direitoe solos (Birimintingo), adicionando os dedos indicadores - Quando tocado com a técnica adequadatodos os três pode ser feito simultaneamente em um único Kora.

A origem da kora pode ser atribuída a Gâmbia e a Guiné-Bissau (África Ocidental), mas tem sido amplamente utilizada na área vizinha Guiné, Mali e Senegal durante séculos.

A Kora normalmente é tocada como acompanhamento de cantores djeli e foi tocada pela primeira vez nas cortes reais Mandingue

De acordo com Toumani Diabate (famoso tocador de Kora), Djeli Madi Woulen Diabate foi o primeiro tocador Kora. 

Na época, a Kora, que originalmente tinha 22 cordas acabou com apenas 21. Uma corda foi removido em memória de Djeli Madi Woulen, deixando um anel de couro vazia no poste como uma tradição.

                     
                                              

As afinações mais comuns são: Silaba (Tomora Ba, original), Tomora (Mesengo, originária em Gambia), Hardino (Gambia) e Sawta (que veio do Hardino).


               


NGONI>>> 

O Ngoni é o instrumento dos caçadores.

É o nome Bambara para um ancestral alaúde tradicional encontrado em toda Áfrika Ocidental. 

Embora tipicamente pequeno, esse instrumento tem um som potente e um importante lugar na história da música do Oeste Africano. 

Existem dois tipos de Ngoni. Um deles tem o corpo em forma de canoa de madeira, com pele de animal esticada sobre essa base, como se fosse um tambor. Suas cordas, como a kora, são feitas de fina linha de pesca, são amarradas no pescoço com tiras de couro. É um ancestral do banjo.

Esse tipo de Ngoni pode ser encontrado desde o Marrocos (onde tem a sonoridade de um baixo e se chama Guembril, tocado pelo Povo Gnaoua) até a Nigéria. Alguns sao bem grandes com sonoridade mais grave (como o sitado Guembril marroquino) e outros sao bem finos como o instrumentos de uma única corda de Mali. Em Senegal, os Wolofs o chamam de "Xalam" (pronuncia-se "halam") enquanto na Gambia os mandingues tem sua versao de 5 cordas chamada "Kontingo".

A versao tocada pelos griôs mandingas de Gambia, Mali e Guiné tem tipicamente dois pés de altura e possuem quatro ou sete cordas.

O outro tipo de Ngoni se chama Kamaleo Ngoni e, assim como a Kora, é feito sobre uma base de cabaça, mas possui menos cordas.

Geralmente são tocadas melodias muito ricas, enquanto se canta/recita as palavras.




                                                                     Balafone


O balafone é um grande xilofone (instrumento de percussão). Está presente em várias cerimónias e rituais como casamentos, circuncisão, o final da colheita, funerais e para festejar a lavoura.
Este instrumento é original e constituído por cabaças, de diversos tamanhos que são afinadas de acordo com cada tecla, as quais possuem pequenos furos de onde são estendidas teias, obtidas do casulo de um determinado tipo de aranha, produzindo uma ressonância raradesignada pelo efeito de "mirliton", que é amplificado pelas pulseiras de metal que o músico usa no pulso.
afinação do instrumento é relacionada com o dialeto peculiar a cada grupo étnico ou às escalas de suas canções originando múltiplas variações.

Mas porquê estas variações? 
Porque o balafone pode ser tocado com o intuito de reproduzir os timbres e tonalidades da língua falada. Uma língua tonal. 

Mas a sua técnica de tocar também pode originar uma melodia acompanhada de canto ou ou não.




Tamani ou Talking drum, o tambor falante

O Tamani (ou Tama) é um pequeno tambor de dupla face da etnia Malinké (mandinga).
É esculpida em uma única peça de madeira e coberta com pele de cabra ou antílope.
Para tocá-lo deve-se posicioná-lo sob a axila, o que permite fazer variações de som, modificando a pressão sobre as cordas durante o toque. 
É tocado com uma vara curva de um lado, enquanto a outra mão pode tocar a pele de tambor directamente para modificar o som.
O discurso múltiplo como sons que podem ser ouvidos a partir deste instrumento explica o seu apelido: O tambor falante.
O instrumento foi utilizado em aldeias de recorrer a pessoas quando a notícia importante foi a ser anunciado, e também foi tocado em uma orquestra com múltiplos Tamani. 
Tocado em toda a África Ocidental, ele pode ser encontrado sob diferentes nomes.



djambé
Djambé >>>  possui uma forma de taça e é feito a partir de um tronco de árvore que é escavado  sendo coberto com pele de cabra, por meio de cordas. Essas cordas que regulam a tensão do instrumento, dando assim a sua afinação.
Este instrumento carrega uma tradição muito forte, mantida até os dias de hoje. Como diz Mamady Keita : "é um instrumento que expressa alegria, e pode ser tocado a qualquer hora, em qualquer lugar, em qualquer ocasião. Encoraja os trabalhadores na fazenda, fala para mulheres, crianças, adolescentes e idosos, realiza comunicação entre vilas, um instrumento universal."
Muitas histórias, fábulas e mitos giram em torno deste instrumento, como a tradição de se pedir permissão ao espírito da árvore (Lenke) para que a cortasse para fazer o djembe, se se fosse assim permitido, o espírito iria proteger o djembefola (pessoa que toca o djembe) enquanto ele tocasse o instrumento, por exemplo.
Três chocalhos feitos de metal são grudados na extremidade do djembe (chamados de "Sessés"). Eles viram com o ritmo tocado no djembe e também quando tocados com a mão diretamente.
Antigamente, eram os ferreiros que faziam os instrumentos. Até hoje ainda existem cerimônias para a construção de um djembe, desde o processo do corte da árvore até a entrega ao djembefola.


dundunes


Dunumbá ou Dunduns >>> Feitos também de troncos de árvore escavada, possuem forma cilíndrica e tem os dois lados cobertos com peles de vaca (pele batedeira e de resposta).S ão normalmente tocados na forma horizontal (mas podem ser tocados em forma vertical também), sendo atingidos por baquetas.  

A outra mão toca um sino de metal (usando uma baqueta de ferro), chamado de "kenken". 

No kenken é tocado o DNA, a clave e a condução de todas as "levadas", por isso é muito importante que o músico tenha total controle e habilidade com o kenken.

Em algumas regiões o kenken não é usado, mas tradionalmente ele é usado nos 3 dununs, que são chamados DUNUNBA, SANGBAN E KENKENI.

O KENKENI (afinação aguda) atua como um "relógio", dando total marcação ao ritmo.

O SANGBAN (afinação média) é o coração do ritmo, ele determina a direção da música.

O DUNUMBA (afinação grave) adiciona o poder e completa o ritmo.

Os dununs são tocados realizando padrões ritmicos que formam uma massa sonora rica, no sentido rítmico também melódico (por conta
de suas afinações diferentes).


Sendo assim o naipe tradicional Malinké é formado por 1 ou 2 DJEMBE SOLOS, e 3 DUNUNS.

Karignan ou Karinye >>> Instrumento musical de ferro tocado pelas mulheres griôs (Djelimusso):
O karinye é um instrumento de percussão que se originou na África Ocidental há centenas de anos. Originalmente, ele era tocado por dois grupos de pessoas - os caçadores (Donsö) e mulheres Griot.
Para cerimônias de caça, o karinye foi tocado em uma forma de raspagem, acompanhando o Donso ngoni, ambos os instrumentos tocando o mesmo ritmo.
As mulheres Griot tocam o karinye como um sino e cantam durante a realização de cerimônias. Hoje, a karinye ainda é tocado pelos Donsos e mulheres Griot, mas também é amplamente utilizado na música popular do Oeste Africano.
Acompanha a Kamele ngoni com ritmos expandidos criando um som mais complexo.

BARÁ >>> é o nome de um tambor sagrado de Mali, um dos mais antigos tambores africanos criado e protegido pelo povo Mossi, na atual Burkina Faso.
É feito com uma cabaça dura, com o interior trabalhado, que servirá como caixa de ressonância. Na abertura, coloca-se um couro de bode sem pelo, amarrado por um pequeno aro de metal que fica na parte oposta do couro, permitindo ao executante alcançar diferentes notas.
O Bará é um instrumento sagrado e vive nas casa reais. É o encarregado de transmitir o orgulho, a dignidade, a coragem e a sabedoria de seu povo, através de suas palavras.
o tambor Bará

>>> Os ritmos :

Para cada cerimônia são tocados ritmos tradicionais diversos dando-lhes vida.

KOUKOU>>>
O que faz Koukou um ritmo fundamental para entender a música malinké?
Há muitas razões que explicam porque o Koukou é essencial e fundamental para o estudo e a prática de Djembe. Podemos começar com o fato de que Koukou (Kuku, Coucou) é um dos ritmos mais antigos do léxico da música malinké. Além disso, a música de Koukou é universalmente dançante e era originalmente tocado quando as mulheres voltaram da pesca ou também nas celebrações de Lua Cheia.
A incrível variedade de movimentos de dança para Koukou pode ser apreciada especialmente por ex-dançarinos do Ballet Nacional da Guiné (ver Youssouf Koumbassa, Moustapha Bangoura e Alseny Soumah).

Koukou tem sido e continua a ser um embaixador chave para o mundo incrível da percussão e da música Africana.

o ritmo Koukou-Malinké

SOKO>>>
O ritmo Soko é comum em Faranah, região da Guiné Superior
O ritmo acompanha a dança de bilakoros (crianças não-circuncidados). Em algumas regiões ela é tocada durante os meses antes da circuncisão ou de outros rituais.

Depois de os anciãos da aldeia decidiram a data da circuncisão, a iminência do evento devem ser anunciados. Por esta razão, as crianças vão de aldeia em aldeia para informar seus familiares sobre o evento.
Quando eles chegam em cada aldeia, o ritmo Soko é tocado.
partitura rítmica > silamalon (ritmo de guiné)
              


Agora em agosto tive o prazer de partilhar algumas aulas de ritmo malinké com Mohamed Sylla (Guiné) e Dramana Daho.
Brincamos o ritmo "Kassa", ritmo típico do oeste da Guiné, tocado em honra a colheitas. Como todo e qualquer ritmo malinké, vem pareado a uma dança homônima.
Segundo a tradição, quando é tempo de colheita os agricultores vão para o campo, que costuma ser longe das aldeias, onde as mulheres vêm para preparar a comida para os que estão trabalhando no campo e os músicos vão tocar para dar força aos trabalhadores.
Quando a colheita chega ao fim, há uma celebração chamada Kassalodon. 
Segundo Famadou Konaté, um outro costume típico dessa festa é uma brincadeira em que a moça mais bonita da vila prende um lenço na ponta de uma vara. O trabalhador que primeiro pegar o lenço passa uma noite com a jovem. No entanto, se a moça ficar grávida, o homem é espancado em público.

Assim aí vai de presente uma típica canção, que você pode ouvir no video em que Mohamed canta belamente em seu sotaque de guineano.
Illawuli woo konko daba, kondon tilu barama
Illawuli woo konko daba, Kolankoma sènekèlalu barama

Levanta, trabalhador, que a comida chegou! Levanta, trabalhador, que a comida está aqui

E yahé, e koutountama hé, e yahé, e mandinkono e (2x)
I ni war lé no kor solor, I ni war lé nama se néné mépélo

O homem de Hamana, os pássaros de Mandin
Meu irmao, eu te chamo para trabalhar no campo
É a minha profissão, é o melhor trabalho! 


Um conto sobre a Kora, o instrumento Griot por excelência >>>

"um caçador e seu cão procuravam algo para comer no meio da floresta quando se deparam com uma grande árvore. Forte, alta e de tronco muito largo. E ao pé da árvore estava recostado um estranho instrumento. Tinha uma grande cabaça com várias cordas estiradas sobre ela e de onde saía uma doce melodia que lhes prenderam a atenção.
O caçador, com receio, vai se aproximando do estranho instrumento paraouvir-lhe melhor os sons quando se aproxima um velho espírito disfarçado em homem. O caçador lhe pergunta:
“Bom dia nobre senhor! Acaso sabes de quem é este estranho instrumento?
Acaso sabes o que é?”
O espírito disfarçado de homem lhe responde com naturalidade:
“Bom dia caçador! Sim sei... é uma kora e é minha! Queres ver como se
toca a kora ?
Entusiasmado, o caçador concorda e então, o estranho espírito disfarçado de homem tocou a kora com muita delicadeza e seu som penetrou no coração do jovem caçador que foi aprendendo como tocar aquele belo instrumento. Ao final da tarde, já tendo experimentado como tocar a kora, o espírito disfarçado de homem levantou-se e disse ao caçador:
“Leve para casa, toque-a e eu te mostrarei muito mais!”.
Mas, logo em seguida colocou uma condição para que o estranho homem seguisse lhe ensinando (o caçador não sabia se tratar de um espírito): ele deveria tocar durante o dia para a sua aldeia, mas, à noite ele seria visitado por um espírito em seus sonhos.
O caçador voltou à aldeia e tocou para a sua gente que ficou fascinada com a beleza das melodias que cantavam as façanhas dos ancestrais numa 
“linguagem cheia de imagens e flores”. Sempre que chegavam visitantes e 
estrangeiros para conhecer o lugarejo, o cantor (que já não caçava mais...) entoava suas canções com o magnífico instrumento.
O caçador não se esquecia do homem que encontrara no meio do caminho (ele não sabia que se tratava de um espírito) e à noite, em seus sonhos mais profundos, o homem lhe mostrava lugares nunca vistos, falava com os ancestrais que lhe contavam muitas histórias, aprendia a compor novas e velhas melodias e aprendia a construir outras kora.
Quando, numa certa noite, o estranho homem contou-lhe que, na origem dos dias, o espírito das coisas fez-se homem e se pôs a falar numa linguagem muito estranha, “cheia de imagens e de flores”. As pessoas da aldeia daquele homem não compreenderam aquela linguagem estranha e, considerado como louco, foi atirado ao mar. Foi, então que, um peixe devorou o homem. 
Mais tarde, um jovem pescador conseguiu pescar aquele peixe que havido devorado o homem. Assou-o e o comeu satisfeito. Mas, com o passar do tempo o jovem pescador começou a falar numa linguagem misteriosa que ninguém, em sua vila, compreendia. As pessoas o apedrejaram e foi enterrado bem fundo na terra.
Com o passar dos anos, o vento que vinha do deserto foi descobrindo a cova em que o pescador foi enterrado e alguns restos de seu corpo foram parar no cuscuz (“kous-kous”) de um caçador. Logo em seguida, aquele caçador desavisado começou a narrar coisas desconhecidas de sua tribo, sem saber de onde vinham aquelas palavras estranhas cheias de imagens e flores de velhos tempos. Sua tribo, por achar perigoso o comportamento estranho daquele caçador, o exterminou reduzindo a pó o seu corpo e, sem perceber o erro, lançou o pó ao vento.
Foi quando um homem que tocava sua kora na floresta, afinando as cordas sobre a maravilhosa cabaça e extraindo as mais belas harmonias com seu instrumento, foi surpreendido por uma rajada empoeirada de vento e respirou os pequenos grãos de poeira que sobraram do corpo do caçador. Em seguida, o homem começou a cantar e a se acompanhar com a kora; e as canções e histórias, que saiam de seus lábios, cheias de imagens e flores, fizeram com que todos de sua aldeia, que o ouvissem, se pusessem a chorar: alguns de tristeza, outros de alegria, outros com intensa saudade. E todos, sem saber, ao certo, a razão disso. Por isso, deixaram-no viver. Pois é dessa forma que nasceu o griot.
Assim, o jeliya ou griot pode criar e, ao mesmo tempo, ser fiel à tradição. Grávido e orgulhoso de sua ancestralidade aprende na noite de seu espírito, dedilha memórias e canta nascentes. 



Abaixo vai o link do filme Foli, um pouco da riqueza rítmica da África Malinké >>>



>>> 
Um conto africano: Um dia na vida de um griô!

Griô e sua Kora

Ao amanhecer, desde os primeiros cantos dos galos, Aissata, mulher do griô Djèliba de Biramadougou, está trabalhando no centro do pátio. Ela acende o fogo sob a panela de água. Enche um balde com água morna e o coloca no espaço reservado para o banho. Seu marido se lava, veste-se e se dirige ao pátio do chefe da aldeia, o príncipe Mamoury Keita, que está a sua espera.
Assim que o griô encontra o príncipe, joga fora o bastão para limpar os dentes que estava utilizando desde que se levantou e o cumprimenta:
- Passou a noite em paz?
- De nenhum outro modo – responde o príncipe. – E o senhor?
- Graças ao Todo-Poderoso, só tivemos paz.
O griô e o príncipe caminham juntos em direção à mesquita. No trajeto , falam das desventuras que os uivos e as risadas das hienas durante a noite poderiam estar querendo anunciar.
- que Alá nos guarde da desgraça – diz o griô enquanto se dirigem à clareira da mesquita, para onde o muezim, depois do canto dos galos, chama os fiéis.
As pessoas mais importantes de Biramadougou já chegaram. Djèliba e o príncipe são os últimos. Colocam-se em fila e a oração então começa. Depois da oração, o griô acompanha o príncipe de volta até sua casa. Enquanto isso, Aissata acorda os filhos Seydou e Alassane. Após uma rápida higiene, compartilham o to da noite anterior, esquentado pela mãe. Os meninos se arrumam para ir à escola corânica, na casa do imã, cujo pátio fica três concessões mais a leste.
Até o raiar do sol, Djèliba, com o bastão para limpar os dentes na boca, folheia e lê o Alcorão antes de tomar o café da manhã com arroz cozido. Nesse dia, vai se realizar a cerimônia de sétimo dia de Famory Doumbia. O saudoso Famory Doumbia era uma figura notável da aldeia e o sepultamento ocorreu na semana anterior.
Os habitantes da aldeia se encontram no pátio da casa do falecido. Em primeiro lugar, os griôs. Seus trajes são os melhores. Quando o príncipe Mamouri Keita chega, Djèliba está entre os demais, em pé, com um largo bubu suntuoso e imponente.
- Keita! Keita! Keita Pai! Keita Mãe! Verdadeiro descendente de Sundjata, o unificador, o homem-bufalo. Tu, cuja mãe nunca carregou um fardo na cabeça. Oh, eu te saúdo, desejo-te uma manhã feliz... assim grita Djèliba apontando o príncipe e, com outras formas lisonjeiras, continua cantando seus louvores até ele tomar seu lugar. Uma vez instalado, o príncipe tira do bolso um macinho de notas e o entrega ao griô. É hora de apresentar o nobre Kourouma.
- Kourouma! Pai Kourouma! Mãe Sanogo! Descendente de Facoly, o lendário general de Sundjata, o homem-pantera. Como ele, o senhor tem a rapidez, a agilidade e a beleza da pantera. Uma saudação e um voto de boa manhã... assim declama Djèliba. O griô deixa Kourouma ir para seu lugar e recita frases lisongeiras sobre as qualidades dele e de seus ancestrais. Kourouma também entrega algum dinheiro ao griô. À medida que os nobres chegam, Djèliba e os outros griôs os louvam e os acompanham, e eles, de forma visível, levam a mão ao bolso para pagá-los.
Logo a cerimônia começa. Com talento, Djèliba comenta os testemunhos detalhados sobre a vida do morto:
- Famory era um mestre caçador. Agora que já não é deste mundo, leões, panteras e hienas vão se sentir seguros e chegarão perto de nossas casas. No final, a família paga os griôs e oferece a eles e a alguns convidados uma refeição.
São quase duas horas, horário da segunda oração. Cabe ao griô chamar os fiéis. Todos os presentes se enfileiram e se curvam no gesto da oração. E Djèliba já está atrasado para o próximo compromisso.
Ainda neste dia, ele precisa oferecer a noz-de-cola à família Coulibaly como sinal do pedido de casamento feito pela família Sanogo. O dote proposto foi considerado ridículo pelos Coulibaly.
- Três bois por uma moça com tantas qualidades? Não basta!
O griô usa a diplomacia e precisa ser hábil para chegar a um acordo de quatro bois.
Neste dia, Djèliba também tem de reconciliar as famílias Dagnogo e Kamara, que brigaram por causa da cerca de uma horta. Os envolvidos estão reunidos na mesquita. As negociações duram até o cair da noite, a hora da quinta oração. Nenhum resultado!
As discussões serão retomada no dia seguinte. Antes de voltar pra casa, Djèliba percorre as ruas da aldeia para anunciar o concerto da noite.
Em casa, é hora do jantar. Ao redor da cabeça cheia de foutou estão os filhos Seydou e Alassane, que passaram o dia com o marabuto para aprender a ler o Alcorão. Primos e sobrinhos se juntam a ele, formando um grupo de cerca de dez pessoas.
A refeição é consumida com pressa, pois é preciso preparar-se para o concerto: os habitantes da aldeia estão à espera em volta de uma enorme fogueira na casa de Mamouri Keita.
A pequena família de Djèliba se reúne. As duas crianças tocam os tam-tans e ele dedilha a kora para acompanhar Aissata. Sua voz de soprano é única e as pessoas vêm de longe para ouvi-la.
Djèliba narra a história de Sundjata:
- Nasceu paralitico. Quando os mandingas foram convocados, ele se arrastava pelo chão. Mas decidiu enfrentar o problema. Tentou levantar-se usando três barras de ferro, que não agüentaram. Partiu as três. Quando chegou à quarta, conseguiu ficar em pé... assim começa a história de Sundjata.

"Extraído de Homens da África, de Ahmadou Kourouma."

Comentários

  1. Eu posso ter acesso a este mapa em uma resoluçao boa para imprimir em tamanho grande? Como faço? Dou professora de dança dos ritmos Malinké

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    1. boa noite, você pode nos enviar um email e te respondere,os. /Gratidão escolanomddiallo@gmail.com

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Guedra A palavra "Guedra" quer dizer "caldeirão" e também "aquela que faz ritual". Guedra é usado para nomear um ritual de transe do "Povo Azul" do deserto do Saara, que se estende desde a Mauritânia passando pelo Marrocos, até o Egito. Através da dança e da ritualística que a envolve, esse povo traça místicos símbolos espalhando amor e paz, agradecendo a terra, água, ar e fogo, abençoando todos os presentes entre pessoas e espíritos, com movimentos muito antigos e simbólicos. É uma dança ritual que, como o Zaar, tem a finalidade de afastar as doenças, o cansaço e os maus espíritos. Guedra é uma dança sagrada do "Povo do Véu" ou "Kel Tagilmus", conhecido como "Tuareg. Em árabe, "Guedra" é Também o nome de um pote para cozinhar, ou caldeirão, que os nômades carregam com eles por onde vão. Este pote recebia um revestimento de pele de animal, que o transformava em tambor. Somente as mulheres dançam "G

Os Quatro Ciclos do Dikenga

Dikenga Este texto sobre os ciclos do Cosmograma Bakongo Nasce da Essência da compreensão de mundo dos que falam uma dentre as línguas do tronco Níger-Kongo, em especial Do Povo Bakongo.  Na década de 90 o grande pensador congolês chamado Bunseki Fu Ki.Au veio  ao Brasil trazendo através de suas palavras e presença as bases cosmogônicas de seu povo, pensamentos que por muitos séculos foram extraviados ou escondidos por causa da colonização da África e das Américas e dos movimentos do tráfico negreiro. Fu Ki.Au veio nos ensinar filosofia da raíz de um dos principais povos que participaram da formação do povo brasileiro, devido aos fluxos da Diáspora. Transatlântica. Segundo Fu Ki.Au, “Kongo” refere-se a um grupo cultural, linguístico e histórico, Um Povo altamente tecnológico, Com Refinada e Profunda Concepção do Mundo e dos Multiversos. Sua Cosmopercepção Baseia-se Num Cosmograma Chamado Dikenga, Um Círculo Divido Em Quatro Quadrantes Correspondentes às Quatro Fases dos Movimentos

Ritmos do Candomblé Brasileiro

           Os ritmos do Candomblé (culto tradicional afro brasileiro) são aqueles usados para acompanhar as danças e canções das entidades (também chamadas de Orixás, Nkises, Voduns ou Caboclos, dependendo da "nação" a que pertencem). Ritmos de Diferentes Nações de Candomblés no Brasil São cerca de 28 ritmos entre as Nações (denominação referida à origem ancestral e o conjunto de seus rituais) de Ketu, Jeje e Angola . São executados, geralmente, através de 4 instrumentos: o Gã (sino), o Lé (tambor agudo), o Rumpi (tambor médio) e o  Rum (tambor grave responsável por fazer as variações). Os ritmos da Nação Angola são tocados com as mãos, enquanto que os de Ketu e Jeje são tocados com a utilização de baquetas chamadas Aquidavis (como são chamadas nas naçoões Ketu_Nagô). " Em candomblé a gente não chama "música". Música é um nome vulgar, todo mundo fala. É um...como se fosse um orô (reza) ...uma cantiga pro santo ".  A presença do ritmo n