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Kunyaza: Para fazer brotar água sagrada

Estamos em busca de caminhos de descolonizações. 

Descolonização corporal, política, religiosa, alimentar, estética, comunitária 

... Descolonização do pensamento ... 

... Descolonização da medicina ... 

... Descolonização do trato com a natureza que habita no mundo 

e com a natureza que habita em nós ... 

Por muito tempo fomos reféns in.conscientes de manobras de inúmeros sistemas opressores, que nos impediram (e seguem nessa mesma intenção) de nos conectar com maneiras ancestrais de EXISTIR (KALA) e compreender os DINGO-DINGO - processos da existência de indivíduos/sujeitos respeitando o espaço sagrado da NATUREZA.

Os agressivos processos coloniais pelos quais passamos e pelos quais passaram os ancestrais, serviram como dispositivos de prisão corporal e mental.

Dos colonizadores, dentre outras coisas, fomos obrigados a engolir a VIOLÊNCIA da imposição de uma religiāo e a VIOLÊNCIA da imposição de sistemas econômicos baseados na escravidão e no acúmulo de bens.

A roda destes acontecimentos é tão contraditória e feroz ... 

O CORPO HUMANO tornou-se mercadoria com o processo da escravidão e passou a ser SIGNIFICADO como um objeto de PECADO e luxúria.

A Nós, mulheres, nos submeteram às condições OBJETOS . PUTAS . PROCRIADORAS. 

O CORPO FEMININO foi endemoniado e distanciado da própria mulher. 

As mulheres foram jogadas umas contra as outras criando um emaranhado de afetividades feridas, nas raízes da concepção das famílias brasileiras ...

OS CORPOS VIOLENTADOS ... AS AFETIVIDADES FERIDAS ... 

O corpo individual se fragmentou e se perdeu do próprio corpo. O corpo social virou uma colcha de retalhos se desmanchando no ar...

O PRAZER nos foi negado. 

Os caminhos que levam a mulher até o PRAZER foram interrompidos

O sexo SAGRADO passou a ser visto como PECADO SUJEIRA.

Foram camadas e camadas de colonização sobre nossos corpos individuais e sociais. Nos foi negado acesso a conhecimentos e formas ancestrais de experimentar nosso próprio corpo. E o encontro com o corpo do outro.

Assim, quando nos surge a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre tradições de povos que conseguiram manter preciosos conhecimentos ancestrais, é bom estar atento ... 

Por exemplo. Alguns até já ouviram falar do Kama Sutra, um entendimento ancestral do sexo, do corpo, do prazer, do encontro do feminino com o masculino, com origens na Índia.

Mas se nem tantos já ouviram falar do Kama Sutra, muitos menos já ouviram falar em Kunyaza, uma arte secreta do amor, técnica sexual ancestral que leva a mulher a jorrar água sagrada de prazer durante o gozo ...

Mais que uma maneira de compreender o sexo, Kunyaza abre para densas maneiras de acessar cosmovisões surgidas na Áfrika ... outras formas de compreender a existência ...

a ANCESTRALIDADE do sexo.

Em certa região da Áfrika Central, entre os territórios hoje conhecidos como Ruanda, Burundi, leste da República Democrática do Congo, Uganda ocidental e oeste da Tanzânia, Kunyaza tem sido praticada há séculos.

Também chamada de Kachabali (no Burundi), esta verdadeira arte exalta as águas que brotam do prazer do corpo da mulher, alimentando rios, enchendo os lagos e trazendo abundância para a terra.

A mulher ensina o homem, o homem adentra no corpo da mulher, regulando ritmo, intensidade ... 

Kunyaza é feito em muitas posições diferentes. Corpos sentados, deitados, em pé, posições especialmente para o Corpo da mulher Grávida.  Kunyaza é altamente eficaz no desencadeamento do orgasmo feminino. 

Claro que não posso falar de forma determinista sobre um assunto tão delicado, mas parece que no Brasil estes aspecto da importância do ORGASMO DA MULHER está sendo desvalorizado durante as práticas sexuais recorrentes. 

E quando paro para pensar no panorama histórico da invasão do território hoje chamado brasileiro, e nos seguintes séculos de colonização e pós colonização em que nos encontramos nos dias de hoje, a paisagem é desoladora. 

Muitas são os depoimentos de mulheres que tenho ouvido sobre o desempenho dos homens nos momentos pessoais ... e a grande maioria das histórias refletem o quanto fomos distanciados deste cuidado ancestral que o homem tem com o corpo da mulher na hora de fazer amor. 

CORPO DA MULHER É CORPO NATUREZA. O sexo é ARTE. Toda arte necessita de empenho e dedicação para que aconteça o refinamento das suas técnicas de execução.   

Dentro de 3 a 5 minutos, orgasmos femininos são desencadeados durante Kunyaza. Uma mulher pode chegar ao orgasmo dentro de 3 a 5 minutos, muitas vezes antes que o homem chegue ao orgasmo, impedindo a possibilidade de ejaculação precoce.


"A estimulação do clitóris, que se chama "Rugongo", em Ruanda e Burandi, é considerada indispensável para desencadear o orgasmo feminino. No entanto, há um aspecto de Kunyaza, que sugere que  não está simplesmente desencadeando o que o Ocidente chama de orgasmo no clitóris. Kunyaza, que se traduz em urinar no pênis, está realmente fazendo referências a secreções vaginais. Embora a tradução literal de Kunyaza pareça sugerir que o líquido seja urina, não é urina. Kunyaza é a secreção que emana do chamado Ponto G, no ocidente. Homens relataram que, quando as mulheres alcançam o orgasmo, eles sentem um líquido quente em seu pênis. Líquido incolor e leitoso, inodoro". (http://www.sebadamani.com/blog/kunyaza-an-afrika-sexual-technique)

Kunyaza é cura, é ponte de encontro com a fonte do mistério mais profundo da natureza: a origem do prazer do corpo da mulher. Que é a fonte de origem do prazer do Mundo.

Ativar estas memórias, estas conexões, estas consciências ... é desobstruir caminhos opressores, recuperar as cosmovisões e maneiras afrikanas matriciais de compreender a existência é nos fortalecer enquanto povo e ter força e inspiração para realizar as mudanças que poderão recuperar o mundo e a natureza.

verdadeiro trabalho de restauração ...

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Mo Maiê, 
Mariana, Julho de 2018



                                             



Fontes: 
http://www.sebadamani.com/blog/kunyaza-an-afrika-sexual-technique
http://www.portalbrasil.net/africa_ruanda.htm

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