Diekenga. O cosmograma Bakongo |
- Mas o que é a Kalunga? (Cada vez que me encontro com Makota, ela me lança a mesma pergunta.)
- Makota ... é você quem pode me dizer ...
E como uma boa Mestra e conhecedora dos mistérios que muitas vezes não podem ser reverberados em voz alta, ela nada diz ...
E como uma boa Mestra e conhecedora dos mistérios que muitas vezes não podem ser reverberados em voz alta, ela nada diz ...
...
Assim, venho buscando maneiras de compreender dimensões dizíveis e silenciáveis, visíveis e invisíveis destes movimentos filosóficos e espirituais através dos dingo-dingo - os processos pelos quais atravessamos a cada dia ...
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Eu sou uma mãe e uma filha, que há anos vem navegando pelas águas de Kalunga, lutando pela sobrevivência dentro deste corpo biológico, familiar, social, político, natural, cósmico ...
A filosofia chegou em minha vida a partir da corporeidade. Sempre tive inclinação para o pensamento. Justamente por isso tive que quebrar vários padrões de pensamento para poder deixar que o ngolo, a força natural do universo, presente também em meu próprio corpo, pudesse circular através de minhas veias e fibras, me ajudando a sobreviver.
Foi esta força inconsciente primordial que me trouxe até a Bahia. Meu corpo precisava se manter vivo, depois de passar por um trauma físico considerável, que foi o parto de minha filha, em que sofri uma cesariana forçada, por violência hospitalar, paralisando.me a roda da vida, me levando a viver um estado de depressão pós parto. A dureza da faca de Ogum cortando as sete camadas de pele da existência.
Um sopro suave e às vezes uma carcajada eloquente me diziam que era hora de acordar. Hora de entrar neste corpo Kalunga. Cruzar as montanhas de Minas e chegar até Kianda, o mar, a Grande Mãe.
Foi a força da comida baiana e o poder da dança que me ensinava Augusto Omolu que tiraram a paralisia de meu corpo e de minha alma. A força do movimento.
E foi em Salvador, esta grande Kalunga, onde comecei a compor músicas inspiradas pelo mar. E assim, passei a investigar dentro de minhas próprias marés, regiões Abissais e Esquecidas ...
... entre Pinaúnas e Mares Desertos ...
... entre Pinaúnas e Mares Desertos ...
Chegou um momento em que percebi que meu caminho musical me levava às Áfrakas. Eram muitas, muitas..... e fiquei um tempo rodopiando entre confusões de encruzilhadas yorubás, malinkés, gnaoua, bantu... até que percebi que o fio condutor destas pesquisas que vinha fazendo sobre diferentes culturas afrikanas era sua conexão com a Diáspora do Transatlântico Negro.
Como é que se davam estas conexões traçadas pelos caminhos da diáspora negra, sob o viés da música? Do trânsito, do fluir, da propagação ... com tantas manobras de recriação, substituição, transformação... com tanta faísca que sai entre os pontos de fricções histórico-sócio-culturais?
Assim... como a música está ligada à vida, ao cotidiano, às culturas, à espiritualidade ... as perguntas acabaram me levando a viver a filosofia ... em movimento ...
Como uma necessidade existencial, estes processos foram acontecendo livremente dentro de mim, em nível intuitivo e solitário - como deve ser o momento da criação para um artista.
Sem eu nem perceber, de uma maneira informal e orgânica eu levava anos pesquisando e experimentando ao redor do universo da música e dos rituais de transe de distintas regiões afrakanas... Criando métodos experimentais de realizar uma espécie de arqueologia da música afrakana e afro-brasileira, através de buscas por pistas e conexões que perpassavam claves rítmicas, fatos históricos e a materialidade dos próprios instrumentos musicais.
Inclusive, este processo se acelerou a partir do momento em que começo a confeccionar instrumentos musicais e me vejo em um lugar onde minha relação com a música se transforma em um mergulho na fonte primordial de criação divina dentro das culturas ancestrais.
No entanto, enquanto o tempo ia passando, vinha também essa consciência de que pensar em fluxos diaspóricos implica pensar em movimentos tectônicos entre pessoas também.
Assim, foi que este trabalho que primeiramente existiu num plano individual foi assumindo presença entre outras rodas de pensamentos e pensadores. Assim, foi que, recebendo um chamado para uma vivência de filosofia afrikana promovida pela Rede Africanidades, baseada em discussões sobre a Kalunga, fui pela primeira vez ao Kilombo Tenondé, onde um portal se abriu em minha vida, conectando a linha de Kalunga, a Filosofia Bakongo e a Capoeira Angola.
Assim, foi que este trabalho que primeiramente existiu num plano individual foi assumindo presença entre outras rodas de pensamentos e pensadores. Assim, foi que, recebendo um chamado para uma vivência de filosofia afrikana promovida pela Rede Africanidades, baseada em discussões sobre a Kalunga, fui pela primeira vez ao Kilombo Tenondé, onde um portal se abriu em minha vida, conectando a linha de Kalunga, a Filosofia Bakongo e a Capoeira Angola.
E aqui estou ... todavia buscando compreender como fazer para tecer esta rede de fios, ossos e histórias de maré.
Encontros entre o presente em busca deste lugar.devir ancestral. Vida, Morte Vida.
Sei que nunca conseguirei escrever sozinha esta história e a cada passo pelos ciclos desta mandala da existência, esta parece ser a grande mensagem que se manifesta. Re.Aprender a fluir de encontro ao outro para realizarmos juntos a transformação necessária.
A coletividade é uma condição primordial se não em todas, ao menos na grande maioria das culturas afrakanas. A palavra Ubuntu, de origem bantu, traduz esse sentido de pertencimento humanitário e comunitário afrakano, em que o indivíduo afirma que EXISTE PORQUE O OUTRO EXISTE.
Encontros entre o presente em busca deste lugar.devir ancestral. Vida, Morte Vida.
Sei que nunca conseguirei escrever sozinha esta história e a cada passo pelos ciclos desta mandala da existência, esta parece ser a grande mensagem que se manifesta. Re.Aprender a fluir de encontro ao outro para realizarmos juntos a transformação necessária.
A coletividade é uma condição primordial se não em todas, ao menos na grande maioria das culturas afrakanas. A palavra Ubuntu, de origem bantu, traduz esse sentido de pertencimento humanitário e comunitário afrakano, em que o indivíduo afirma que EXISTE PORQUE O OUTRO EXISTE.
Sempre tive inclinação para o pensamento. Justamente por isso tive que renascer para sobreviver. Tive que aprender com a fluidez densa destas águas a sobreviver, a ser um corpo à deriva, mas que não caminha sem rumo, no entanto.
Corpo que começa a se perceber dentro de um ir e vir de movimentos infindos ao longo da linha de kalunga, que é também a própria linha da vida, onde o sol nasce, cresce, atinge seu auge e se vai ... para renascer no dia seguinte ... como todas as coisas viventes e naturais, que respeitam ciclos perfeitos da existência.
Corpo que começa a se perceber dentro de um ir e vir de movimentos infindos ao longo da linha de kalunga, que é também a própria linha da vida, onde o sol nasce, cresce, atinge seu auge e se vai ... para renascer no dia seguinte ... como todas as coisas viventes e naturais, que respeitam ciclos perfeitos da existência.
Assim, foi que inspirada por mecanismos de sobrevivência e por estas buscas por um entendimento ampliado acerca das raízes de nossa maneira de perceber a vida, a cultura e a música popular brasileira, comecei a conceber uma vivência que unia filosofia bakongo, música, consciência e descolonização corporal, na senda destes estudos ao redor da cosmovisão do povo Bakongo e do entendimento das múltiplas dimensões desta Kalunga ...
A Roda Bakongo (como se chamou esta experiência) é uma vivência circular, norteada pelo estudo da filosofia do povo Bakongo, reverberando no Corpo, inspirado por claves de ritmos afro-brasileiros, como os ritmos da capoeira, do samba de roda e do maracatu, todos ritmos com ancestralidade Bantu.
A Roda Bakongo busca compartilhar as bases do entendimento da cosmologia e filosofia bakonga a partir de uma perspectiva de tomada de consciência corporal e do resgate de uma memória ancestral e fetal de navegação e sobrevivência.
Um convite para se abrir e receber inspiração e força em nível consciente individual, de encontro com o insconsciente coletivo, gerando nos participantes mecanismos de resgate da ancestralidade afrikana e de descolonização corporal e mental, a partir da circularidade e do estímulo de sonoridades e pulsos ancestrais afrikanos, já que a presença da música é fundamental nos processos (dingo dingo) e movimentos da vida cotidiana.
Tanto falei, tanto falei, mas afinal: o que é a Kalunga? Me perguntaria Makota ...
Talvez com Tempo, um dia até começarei a compreender ...
O tempo ...
este grande mestre ...
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Mo Maiê, Salvador da Bahia. Dezembro de 2017
A Roda Bakongo (como se chamou esta experiência) é uma vivência circular, norteada pelo estudo da filosofia do povo Bakongo, reverberando no Corpo, inspirado por claves de ritmos afro-brasileiros, como os ritmos da capoeira, do samba de roda e do maracatu, todos ritmos com ancestralidade Bantu.
A Roda Bakongo busca compartilhar as bases do entendimento da cosmologia e filosofia bakonga a partir de uma perspectiva de tomada de consciência corporal e do resgate de uma memória ancestral e fetal de navegação e sobrevivência.
Um convite para se abrir e receber inspiração e força em nível consciente individual, de encontro com o insconsciente coletivo, gerando nos participantes mecanismos de resgate da ancestralidade afrikana e de descolonização corporal e mental, a partir da circularidade e do estímulo de sonoridades e pulsos ancestrais afrikanos, já que a presença da música é fundamental nos processos (dingo dingo) e movimentos da vida cotidiana.
Tanto falei, tanto falei, mas afinal: o que é a Kalunga? Me perguntaria Makota ...
Talvez com Tempo, um dia até começarei a compreender ...
O tempo ...
este grande mestre ...
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Mo Maiê, Salvador da Bahia. Dezembro de 2017
Coisa linda esse texto, vai de encontro com tudo o que sinto, tudo o que tem se passado nessa minha linha de existência nesse tempo e espaço de agora. Grata.
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