Samba de lata, uma manifestação que virou patrimônio cultural e nasceu da labuta diária misturada com a alegria das mulheres negras. Uma lata basta para levar a muitas gerações a dança das matriarcas.
À sombra da barriguda, uma árvore nativa do sertão baiano, mulheres e crianças varrem o chão, molham a terra, num ritual que prepara a festa. O único instrumento: uma lata. O figurino caprichado e os adereços completam o visual das sambistas. Com pés no chão batido, apenas dois homens fazem parte do grupo e a música sai da palma da mão. Valdelice puxa o samba, acompanhando as batidas da lata. Essa é a mais forte expressão cultural de Tijuaçú, comunidade quilombola de senhor do Bonfim, no norte da Bahia, fundada em 1750.
Buscar água de lata na cabeça, a pé, percorrendo todos os dias 18 quilômetros. a rotina de crianças, mulheres e homens negros de Tijuaçú. para transformar o sacrifício da falta d´água em diversão, nasceu o samba de lata.
O samba de lata de Tijuaçú, único no Brasil, é patrimônio cultural reconhecido e multiplicado nessa comunidade de raízes negras. Valdelice puxa o samba. repete os versos que aprendeu com os avós. O resto do grupo se reveza no centro da roda. Para que as crianças aprendam cedo o valor da cultura negra, foi criado o 'latinha da mamãe', reproduzindo um movimento antigo, que também nasceu no quilombo.
Uma magia que atravessa gerações. Dona Julieta, ou melhor, Dona Menininha, como é chamada, aos oitenta e um anos, começou no samba aos dez, não consegue viver longe da roda.
Em Lage dos Negros, velhos costumes sobrevivem à evolução dos tempos e as parteiras ainda são autoridade no velho quilombo.
Fé e devoção aos orixás. A religião que veio da África é preservada pelos descendentes. Dos festejos das senzalas vêm a cantoria e as danças que atravessaram os séculos".
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