A origem é assaz conhecida. Ludibriado pela boa fé, como muitos outros, um rei africano, atravessou o Atlântico nos sombrios porões de um navio negreiro e foi com eles trazido para ser escravizado em Ouro Preto.
Rei em sua terra, jamais se conformou com o cativeiro. Aproveitando as raras horas livres, trabalhou, sem descanso, a fim de obter meios necessários para comprar cartas de alforria. Libertou o seu filho. Continuaram trabalhando juntos, pois o intento era libertar todos os conterrâneos.
Com a cooperação geral, isso foi conseguido. Reza a tradição que negras punham escondido nas carapinhas o ouro que conseguiam e iam lavar a cabeça nas pias de água benta das igrejas da cidade, a fim de que o metal se depositasse no fundo.
Negros previamente avisados iam depois, discretamente, retirá-lo. Os esforços do grupo foram compensadores.
O rei negro, que se convertia ao catolicismo, foi batizado com o nome de Francisco. Daí a alcunha de Chico Rei. Tornou-se devoto de Nossa Senhora do Rosário e, para agradecer-lhe a grande graça alcançada, organizou as festas do reinado, nas quais sua nova crença se mescla com crendices fetichistas.
Voltou, assim, a imperar entre os seus, também convertidos, mas com raízes demasiado fortes prendendo-os aos ritos nativos da Áfrika.
Espalhando-se o costume por diversos pontos do território mineiro, o reinado é sempre realizado. Embora existam diferenças entre os de uma cidade e outra, as linhas gerais permanecem, mais ou menos, as mesmas.
Miangana é nome africano para dizer Nossa Senhora. Quando se afastam é feita a “despedida da loca”:
Adeus, Miangana, Muquê tu vaipa
Adeus, Miangana, nosso povo vai s’imbora
Comentários
Postar um comentário