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O Ovo de Hermeto.

partitura de "O Ovo", de Hermeto Pascoal e Geraldo Vandré "O ovo é a alma da galinha. A galinha desajeitada. O ovo certo. A galinha assustada. O ovo certo. Como um projétil parado. Pois ovo é ovo no espaço. Ovo sobre azul. – Eu te amo, ovo. Eu te amo como uma coisa nem sequer sabe que ama outra coisa. – Não toco nele. A aura de meus dedos é que vê o ovo. Não toco nele – Mas dedicar-me à visão do ovo seria morrer para a vida mundana, e eu preciso da gema e da clara. – O ovo me vê. O ovo me idealiza? O ovo me medita? Não, o ovo apenas me vê. É isento da compreensão que fere. – O ovo nunca lutou. Ele é um dom. – O ovo é invisível a olho nu. De ovo a ovo chega-se a Deus, que é invisível a olho nu. – O ovo terá sido talvez um triângulo que tanto rolou no espaço que foi se ovalando. – O ovo é basicamente um jarro? Terá sido o primeiro jarro moldado pelos etruscos ? Não. O ovo é originário da Macedônia. Lá foi calculado, fruto da mais penosa espontaneidade. Nas areias d...

Smetak, o alquimista do som. Por Marco Antonio Guimarães

smetak, o alquimista do som...... "Quando cheguei a Salvador, em 1966, para estudar música na escola da UFBA que na época tinha o belo nome de "Seminários Livres de Música", não sabia da existência de Walter Smetak. Logo nos primeiros dias, lembro que alguém me fez essa pergunta: "Você já conheceu o louco do porão?". A curiosidade me fez descer a escada que levava à parte de baixo do prédio. Era a oficina de Smetak. Ele estava trabalhando na bancada em um instrumento quando entrei. Certamente percebendo meu olhar de surpresa e encantamento ao ver a enorme quantidade de belos e desconhecidos instrumentos musicais, disse para ficar à vontade e percorrer a oficina para conhecer de perto cada um deles. Depois conversamos um pouco e Smetak falou a respeito de alguns instrumentos que, como ele percebeu, me deixaram encantado. Foi assim nosso primeiro encontro e, durante os quatro anos que morei em Salvador, passei a frequentar a oficina no porão regularmente...

Dança Afro: Corpo em Estudo

                                          Com patrocínio do Programa Cultural BNDES/Banco do Nordeste 2012, o projeto “Dança Afro: Corpo em Estudo” será realizado entre os dias 5 e 31 de julho no Espaço Xisto Bahia e em outros espaços culturais e tem como objetivo rever uma característica peculiar que a idealizadora do projeto, Stephanie Bangoura, percebeu durante seus 20 anos de estudo em danças africanas nas metrópoles da afro-contemporaneidade (Salvador, Havana, Nova Iorque e Paris): uma perspectiva de fitness e show, com referências norte-americanas, nas práticas realizadas tanto do Brasil como da Europa. Em outras palavras, observa-se o foco no visual do movimento e do corpo ao invés da atenção no ritual de equilíbrio de energias e vibrações musicais.  Essa influência levou a mudanças de características ritualísticas na expressão corporal, como: o uso do ...

Salvador, flor tambor....

novamente é dois de julho em salvador. não sei o que me acontece mas esse dia me emociona profundamente. os caboclos que saem da lapinha e vão até o campo grande acompanhados de cortejos de bandas marciais, guardas de chegança, ylê ayê, didá, olodum, filhas de gandy. Nação Salvador, Baque Mulher E nesse ano em que as passeatas e protestos tomaram conta das ruas brasileiras as manifestações tiveram um caráter ainda mais especial. as sementes da libertação estarão em terra fértil? espero que sim......... Oficina de construção de alfaias e xequerês Enquanto vou conhecendo melhor os exemplos que essa terra tem pra dar pro resto do brasil, até, viver a transformação, ser transformação, sentir a transformação. estou encantada em participar de uma semana intensiva dedicada ao maracatu, esse ritmo que vem me acompanhando a existência. finalmente, estou aprendendo a fazer minha própria alfaia. espero que isso também seja semente de uma transformação e evolução em m...

As caixeiras do divino no Maranhão

Para tornar-se uma caixeira é necessário estagiar no ritual das caixas. Enquanto são jovens, as mulheres acompanham as caixeiras carregando bandeiras e bandeirinhas, aprendem os cânticos e danças para quando atingirem a maturidade possam integrar um novo grupo de caixeiras, em geral dedicam-se a prática como cumprimento de promessa. Embora não recebam pagamento, as caixeiras são muito respeitadas, e no Império do Divino, recebem muitos banquetes durante as festas e são saudadas por todos os visitantes. Por ser uma festa com muitas comidas, acredita-se que comer na Festa do Divino garante comida em casa o ano todo. O ritual que marca o início da Festa é o levantamento do mastro: muitos homens vão à mata procurar um tronco alto e bonito para colocá-lo como mastro, no percurso de volta até o terreiro os homens se exibem pelas ruas em sinal de orgulho pelo achado. No levantamento, o mastro é enfeitado e em cima dele colocado a bandeira do Espírito Santo junto com uma pomba esculpida em...

samba de lata

                                                    Samba de lata, uma manifestação que virou patrimônio cultural e nasceu da labuta diária misturada com a alegria das mulheres negras. Uma lata basta para levar a muitas gerações a dança das matriarcas.  À sombra da barriguda, uma árvore nativa do sertão baiano, mulheres e crianças varrem o chão, molham a terra, num ritual que prepara a festa. O único instrumento: uma lata. O figurino caprichado e os adereços completam o visual das sambistas. Com pés no chão batido, apenas dois homens fazem parte do grupo e a música sai da palma da mão. Valdelice puxa o samba, acompanhando as batidas da lata. Essa é a mais forte expressão cultural de Tijuaçú, comunidade quilombola de senhor do Bonfim, no norte da Bahia, fundada em 1750. Buscar água de lata na cabeça, a pé, percorrendo todos os dias...

Gratidão, Augusto Omolú....

Com uma história profissional de mais de 30 anos, iniciada como aprendiz de Mestre King e Emília Biancardi, este soteropolitano, ícone da dança brasileira, com carreira internacional reconhecida, era especialista em danças afro-brasileiras. Omolú integrava o Balé Teatro Castro Alves (BTCA) também desde a década de 1980. Ao lado do curador artístico da companhia, Jorge Vermelho, estava vivendo um processo de transição para ocupar o posto de assessor artístico do grupo.  “É uma tristeza muito grande. O BTCA fica vazio. Augusto Omolú sempre foi muito intenso, de alegria contagiante, uma presença que só fazia somar. Era uma figura de muita produtividade, amigo e companheiro muito importante. Resta-nos a indignação diante da violência que assola o país. Fico muito triste de receber e compartilhar esta notícia com a classe da dança da Bahia”, lamenta Jorge Vermelho. Comprometido, íntegro e querido por todos, Omolú retornou ao Brasil há cerca de dois anos, após viver na D...