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Muntu, Ubuntu: A Força, o Nyama do Griô

 


Ao Redor De Nosso Corpo-Barco, É a Maré Quem Canta Para Nós:

“Como Restaurar Nosso Corpo-Oceano?  Como Regenerar A História e O Tempo? Como Transformar as Dores De Travessias Em Potência de Reinvenção de Mundo? Como Criar Formas De Reunir e Unificar Palavras, Coreografias, Ritmos, Códigos Secretos, Cantos e Movimentos Ancestrais, Separados Pelos Fluxos e Refluxos De Maafa? Como Nos Curar?”

Dentro e Fora De Nosso Corpo-Barco, A Maré Se Acalma, A Água Volta Pra Dentro do Mar ...

Alguns Segredos Permanecem no Solo Dourado de Áfrika, Enquanto Outros Se Foram, Extraviados Entre Rotas Sangrentas, Sendo Quase Esquecidos, Mas Por Vezes Também Relembrados Pelos Sopros dos Ancestrais.

Da Invisibilidade Ao Lugar de Pertencimento; Do Estupro, Da Violação, Do Genocídio ao Epistemicídio e à Recriação de Nosso Lugar no Mundo.

Assim Se Movimentam as Águas Desta Kalunga, Assim Se Movem Nossas Águas, Assim se Transforma o Mundo ...

Alguns Segredos Foram Renascidos, Reinventados, Ressurgidos em Rituais e Entre-Lugares, Pelos Quatro Cantos do Mundo, Pelas Águas do Mar, Ativando o Magma Circular do Poder Vital – Nyama, Prana, Asè, Ngolo, Energia - A Chispa Invisível e Elétrica Que Conecta Pessoas, Territórios, Histórias de Vida, Retro-Movendo Existências.

Os Griôs, ao Romperem o Silêncio Secular Imposto Pelas Mãos dos Opressores, Talvez Venham Nos Trazendo Dentro De Suas Cabaças, Pistas e Inspirações Para Perpetuar o Poder da Criação e Preservar a Memória dos Tempos, Reconectando Elos Perdidos Entre Antigas Tradições, Na Infinita Alkimia Onde Se Condensa o Nyama – a Força da Vida.

O Poder da Palavra Entoada Foi Perdendo a Força Para o Domínio da Imagem e da Palavra Escrita No Planeta Pós Colonizado, Onde cada vez mais se Cultua a Vida estruturada a partir da Ilusão, da Liquidez dos Multiversos Virtuais.

As Florestas da Memórias Foram Sendo Devastadas, Enquanto o Mundo Foi Se Desertificando Com Sementes da Ilusão, do Esquecimento, da Negação do Encantamento: Xs Mais Antigxs Se Foram ou Se Estão Indo e Com Elxs o Conhecimento Que Receberam Dxs seus Mais Velhxs.

As Misturas Genocidas Fragmentaram e Desconectaram as Pessoas de Seus Reais Propósitos e a Vida Foi Perdendo o Sentido na Individualização do Ser Vivo.

Muntu – o SER SOL Foi Perdendo Sua Força no Movimento das Rodas Dentro de Rodas, Até o Momento do Grande Despertar Que é o Instante-Já, Quando da Retomada da Consciência Ancestral, Do Renascer Afrikano e Planetário.

É a Prática Do Sentido De Realidades Integradas, De Unidades e Totalidades Indivisíveis, Que Nutre o Renascimento de Muntu (A Pessoa), Dentro da Grande Mandala da Existência Humanitária Ubuntu, Consciência em Palavra, Pautada Pelo Respeito, Altruísmo, Fraternidade e Colaboração Entre Pessoas Humanas através de Sistemas em Comunhão com a Natureza, em Todas as Esferas do Ser.

Ubuntu é Termo do Tronco Bantu, que Tem Origem Nas Línguas De Quatro Povos da Áfrika do Sul: Ndebele, Swati, Xhosa e Zulu.

“Ubuntu Não Significa Que Uma Pessoa Não se Preocupe Com Seu Progresso Pessoal. A Questão é: Meu Progresso Pessoal Está ao Serviço do Progresso da Minha Comunidade?” Assim Disse Nelson Mandela, Que se Inspirou em Ubuntu Para Promover Políticas de Reconciliação Nacional na África do Sul, reverberando a esperança do termo para o resto do Mundo.

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Mo Maiê,

Mariana, 24 de outubro de 2020

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