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Nanjila, a Mãe dos Caminhos

 
Nanjila, A Mãe dos Caminhos
Foi Nanjila, a Mãe dos Caminhos, quem abriu nossos Passos no fim da Tarde, permitindo-nos Estradar Savana Sertaneja, onde Brotos de Água se Secaram, abrindo Valas e Arrugas Profundas no Chão Empoeirado.

- “Plante-se em Mim” ... Nanjila Assobiava baixinho, Contemplando o Nascer do Sol no Horizonte entre Mandacarus e Cajuêros ...


O Sol se Punha no Horizonte, abrindo Mundo Enigma Noite …

“Nanjila, Nanjila" - Yola pensava consigo mesma, contemplando Rebanhos de Estrelas no Firmamento.

“Como foi que a Mãe dos Passos me preparou esta Cilada?”

Ao seu redor, Só o Silêncio do Calor, Mas Yola parecia Ouvir um Murmuro Antes de Cair Adormecida nas Dunas Brancas Que Refletiam o Luar ... "Plante.se em Mim..." parecia ouvir ...
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Sim... Bem sabemos que foi Assim... 

Depois de Perder-se de seu Filho - que Foi Lutar a Guerra - Por Tempos Yola preferiu Manter-Se Viva, Ainda que Morta, trabalhando em Sua Roça e Trançando Velhos Balaios Munzuás em sua Massapê, na Solidão Floresta, Trançando Vida Morte Vida, entre Palhas Nascentes D’água ...

Era bem cedinho que As Mulheres da Vila vinham até a Rio para Lavar Roupa ou encher Talha e Cabaça de Água pros Afazeres de Casa...
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Toda Vez que Vinha até o Rio, Yola se lembrava de sua Velha Avó, que lhe falava das Mulheres Malunga... Feiticeiras dotadas de Poderes Sobrenaturais de Encantar as Águas ...

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De Longe se Ouvia o Canto das Mulheres No Rio … 
Enquanto algumas Jogavam Água de um lado pro outro Lavando Roupa, Outras trabalhavam na Beira D’água, Pilando Farinha, Alho, Dendê, Feijão …
O Tempo Escorria entre o toque seco do Pilão, que marcava a Cadência da Dança das Cabaças nas Mãos daquelas Mulheres, Sagrada Alkimia… 
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Yola agarrou uma daquelas grandes Cabaças e, de Cócoras, pôs.se a limpá-la.
No reflexo da Contraluz do Sol do Meio Dia, a Mulher Viu dentro daquele Ombenji uma Velha Floresta Tropical.
Sua terra dava Dendê, Coqueiro, Beribeira … E No meio das Grandes Árvores, Cabaças Serpentes brotavam com suas Raízes ao Ar, Rastejando pela Terra Quente, se Reproduzindo com Força e Alegria.
Dotadas de formas Curvilinhas, tais Seres se espalhavam pelo chão da Velha Floresta, Guardando dentro de si Os 999 Nomes de Deus, os Segredos da Imortalidade e do Amor …

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Nanjila, a Mãe dos Caminhos, Lhe olhava de longe, entre as Carcaças de Boi em Esqueleto Abandonadas pela Estrada Afora ... 

Mas agora Yola não estava mais ali, naquela Terra Seca ...

Aquele Ombenji - Cabaça - lhe Lembrou Do entardecer em que sua Vó se foi, deixando nas suas Mãos Cantos de Pássaros e um Vazio que parecia que Nunca se Encheria de Novo ...

Antes de se embrenhar pela Mata adentro, Sua Avó Lhe disse ... “Lembre-se, Yola ... N’nwa mosi tutu … Uma Só Boca é como Cabaça Vazia … Você sozinha por aí … Sua voz sozinha é Nada no meio desta Terra Seca…”

- Mas Eu Não Ando Só! – Yola gemia contendo o choro ... – Não Estou Sozinha, Vovó !!!!!!

- Yola! – gritou a Avó de Dentro Da Cabaça - Acorda, Menina! Vá Se Banhar, Brincar com as Águas, Mulher! Vá Se Lavar!

Yola Começou a se tocar, passando pela Pele Preta a Mão Molhada da Água do Antigo Açude - Se arranhando toda com a Secura da Terra Areiosa.

- Isso, Yola ... Se Banhe com Calma ... Aproveita essa Água pra se Purificar, Minha Filha! Isso, Yola! Eu tô Aqui Com Você ...

(E entre cactos mandacarus, Yola se banhava com Água Inventada ... Mas Tão Sério era o Ritual que não apenas esta Mulher, mas toda a Terra ao seu Arredor Se Purificava e parecia ouriçar-se com o toque molhado daquela Água Benta ...)

- Yola, deixe pra trás as Águas que Correram, Não traga em Sua Cabaça Nada Além do Que Você Precisa Pra Manter-se Viva!

E Enquanto a Mulher se Limpava com akele Pó da Areia Quente, Cristalinas Gotas de Água começaram a se formar Vaporosas dentro das Pequenas Cabaças espalhadas perto do Rio … Eram as Mulheres Malunga, que, a Cada Tarde enquanto o Sol Se Punha, Se relembravam Akwa Ambundo e perpetuavam Antigos Rituais Secretos, trazidos pelas Avós de Suas Avós.

Então, Elas se Aproximavam do que restou do Velho Açude Verde e Evocavam bem baixinho os poderes das Raízes de Suas Aguas, no alinhamento desta Alkimia.

Era tamanha a Força destes Momentos que Akelas Mulheres se Lembravam que Era também momento de fazer Sua Própria Transmutação. Os Portais Entre os Mundos Se Abriam e os Pergaminhos do Tempo Se Enrolavam e Desenrolavam em Todas as Direções …

Ao redor de Yola e Sua Cabaça, Ombenji, akelas Mulheres Malunga foram fazendo um Círculo, entre as Flores de Mandacarus e a Terra em Transe …

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- Vovóoooooooooooo!!!!!!! - Parecia Ver sua Avó Mais uma Vez Encarnada na Sua Frente. Lhe deu um xêro, Sentiu sua pele macia e não aguentou mais Segurar o Choro …Transbordou …
- Yola, minha filha… Certas misturas não se dão, Yola! - A avó lhe dizia, enquanto lhe observava banhar-se - Manteiga não dá certo com Mel. Mel não dá certo com Manteiga. Como Duas Vidas Que Andam Juntas Sem Nunca se Cruzarem …

As Mulheres Malunga se sentaram ao redor da Velha Avó para poder escutar Melhor o que ela Sussurrava entre as Flores de Mandacarus …

 - Se Libere Da agonia de Não Poder Misturar as Coisas Conforme se Quer … Mel é Mel. Manteiga é Manteiga! Para Misturar as Coisas, tem que se Respeitar o Sentido Natural de Equilibrio Alkimico das Coisas … De Dentro e de Fora.
Yola Seguia Seu Banho Seco, entre o choro calado de Alegria de Poder Ouvir Sua vó tão de pertinho ...

- Ocupa de toda tua força e de seu poder quente, Yola! Tem Pessoas que Vivem Vidas Paralelas … Como dois Rios … Vidas que seguem Juntas, mesmo que Separadas … Vidas que seguem Juntas, até que se Cruzam ou se Descruzam … Assim como tem Vidas que seguem Juntas Sem se Juntar, Assim é a Manteiga e o Mel. Em Cabaça de Manteiga não se faz Mel!

(Lhe sussurrou a Avó desaparecendo entre o pó do Entardecer …)

- Vovóoooooooooooo!!!!!!!

Yola ainda pôde gritar em choro, antes de cair naquele chão seco, arrodeada pelas Mulheres que, Juntas, Cantaram Baixinho Pro Chão e pro Alto:

- Do Vazio do Fogo … do Fogo da Água, da Água da Terra, da Terra do Ar, do Éter do Ar  … Se Plante em Nós Pra Florescermos Juntas!

Foi quando o Céu Escureceu, Germinando-se em Brotes de Água que se espalhou em Chuva pelo Seco Bioma.

- Yola! Banhe-se, Minha Filha! Se envolva com as Águas! Se Purifique! Viver é se espantar num Sertão em Aguacêro! É Milagre frondoso! É Água Fresca que Apazigua o Calor da Terra!

Yola sorria, fazendo a Mão em Concha Para Aparar a Água que Escorria dos Céus

...  “Eu Não Ando Só!”

As longas Mulheres Malunga, ainda sentadas na Beira Rio, calmamente Enrolavam suas Esteiras se Preparando para Partir (Alkimistas) equilibrando seus Benguês e Encantarias entre as Cabaças e as Cabeças.
Yola limpou seu choro com Água da Chuva, se lavou, Dançou Como Nunca Antes e Quando virou-se para Agradecer, as Mulheres Malunga já tinham desaparecido no meio do Horizonte Molhado.

E Foram Sete Dias de água na Savana Sertaneja.

Então Nanjila, a Mãe dos Caminhos, abriu nossos passos entre as cores do fim de tarde de uma Savana Sertaneja, permitindo-nos Estradar por onde Brotos de Água caíram dos Céus, abrindo Valas profundas na Terra, que se refizeram Rios ...



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Mo Maiê,

Bahia, Agosto de 2019

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