Kora. Fela. nasce mais uma kora brasileira . |
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Toda diáspora é a passagem de um mundo de unidade para multilicidade. É isso o que é importante em todos os movimentos do mundo. é o que diz Edouard Glissant
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Sete cordas curam o passado.Toda diáspora é a passagem de um mundo de unidade para multilicidade. É isso o que é importante em todos os movimentos do mundo. é o que diz Edouard Glissant
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Sete cordas harmonizam o presente.
Sete cordas protegem o futuro.
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A cabaça é a terra.
A pele, os animais.
As cordas, as plantas e árvores.
O aro do metal, a magia.
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Pelo que se tem notícia, a Kora nasce na Afrika Ocidental Mandengue Malinké. É um instrumento sagrado em territórios africanos, envolto por uma aura de magia e espiritualidade. Está ligada à sabedoria divina e, ao mesmo tempo, conecta o céu com a terra, com o cotidiano e a continuidade da vida tribal, por ser suporte sonoro espiritual dos rituais de canto e contação de histórias dos Djelis ou griôs, como chamamos por aqui no Brasil.
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A Kora, com sua beleza e delicadeza abrange e perpassa diversos aspectos da sociedade tribal malinké, como: Educação, Saúde, Cultura, Ancestralidade, História, Preservação, Continuidade, Filosofia, Justiça.
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Conta.se que na origem dos dias o espírito fez.se humano e pôs.se a falar numa linguagem estranha, cheia de imagens e floreios. Este homem, considerado louco, foi jogado no mar e foi devorado por um peixe. Um pescador pescou este peixe e o comeu feliz da vida. Mas com o passar do tempo, começou a falar numa linguagem estranha, cheia de floreios, que ninguém de sua aldeia compreendia. Este homem foi apedrejado e enterrado, o tempo passou e alguns restos de seu corpo foram parar no cuscus de um caçador. Aquele caçador então passou a falar coisas estranhas, cheias de imagens e floreios. Sua tribo por achar seu comportamento estranho, o apedrejou e o caçador acabou virando pó. Um homem que tocava sua kora na floresta recebeu uma rajada de vento e respirou pequenos grãos de poeira que sobraram do corpo do caçador. Logo ele começou a cantar e acompanhar a kora, cantava e contava histórias lindas, comovendo os de sua tribo que, por isso, o deixaram viver.
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Assim o Djeli ou Griô pode criar e ao mesmo tempo ser fiel à tradição.
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Alguns dizem que a kora surgiu em Gabu, onde hoje se encontra Guiné Bissal, por volta do século XIII, sucedendo o instrumento chamado Tonkoron, sendo que este, por sua vez, veio da bolonbata, e foram sendo reinventados, até surgir a Kora, com 21 cordas.
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Outros acreditam que a Kora pertenceu a uma mulher.gênio, que morava em cavernas de #Kansala, na #Gambia. Ao ouvir esta mulher tocando o instrumento, um grande guerreiro chamado Tiramakhan Traoré decide tomar o instrumento da mulher e dar a um Djeli pertencente ao grupo #Djelimaly. Este transmitiu o conhecimento de tocar a fazer a kora para seu filho, #Kamba. E assim foi se passando de pai para filho, até chegar ao Tilimaghan Diabaté, que o levou a #Mali..
Mali.
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no prumo desta kalunga, aceitar que certos encontros na vida são encontros de passagem. mesmo que intensos e profundos enquanto existam.
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assim estou. agora aqui em casa, na ilha, botando as cordas na nova kora que acaba de nascer. são 21 cordas que me levam a uma essência muito ancestral da mãe #Afraka e de todas as sonoridades do mundo. uma vibração feminina ancestral.
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este instrumento aqui na minha frente nasceu de um amor que veio nas asas do vento. em um inverno frio e chuvoso. ventoso. dos pés de minha cama brotou mel e tive que atravessar o mar para ir a feira olhar umas cabaças para a encomenda de um trabalho e quando chego na feira, encontro a cabaça perfeita para fazer uma #kora. há anos que eu tava buscando essa cabaça. mas eu tive que esperar pelo tempo certo, pelo vento certo para realizar o que me mandou um homem djeli em sonhos, há anos atrás. eu precisava tocar uma kora. mas como não pude comprar, tive que fazer.
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foi um #DingoDingo poderoso. foram mais de dois meses de um lado pro outro do mar e do rio e do ar. as fibras desta kora foram tecidas com as linhas de um amor que veio e que foi e que vem e que vai e que vai...
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agora tenho aqui em minha frente este instrumento de linhagem ancestral das #Afrakas #mandengue, #malinke
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eh um ser feminino que tenho aqui em minha frente. é um ser lunar. é um instrumento pra voar soave. enquanto o #ngoni é para mim uma arma para caçar...
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vou colocar as cordas. o amor se foi e me deixou cá esta kora. pela manhã, ainda em salvador, uma gata deu a luz a vários filhotes. a lua está nova. as sementes na água para germinar. a vida segue seu rumo. é preciso encontrar um maneira de não naufragar. a vida vem me ensinando através de movimentos repetidos e repetitivos. é preciso reaprender a respirar dentro d'água. buscar essa memória embrionária de um impulso de resistência e sobrevivência. é preciso aprender a cair. é preciso aceitar o peso que puxa nossos corpos para baixo para entender que é preciso fazer força para cima para seguir vivo.
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a kora foi enviada pelos céus para @s human@s enfrentarem as dores da própria existência. para conseguirem atravessar a rua. entender o passar do tempo e nos inspirar a imaginar formas de impedir que os avanços da tecnologia e da ganância destruam o mundo.
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