Segundo o pensador congolês Fu Ki.Au, o mundo é "a totalidade das totalidades, atada como um pacote (futu) por Kalunga, a energia superior e mais completa, dentro e fora de cada coisa no interior do universo" (A visão Bântu Kôngo da sacralidade do mundo natural, Fu-Kiau).
Kalunga. Esta palavra que vem do Kikongo (da grande rama linguística niger congo, que engloba mais de 200 LÍNGUAS) possui diversos significados e usos no dia-a-dia de milhares de brasileiros, filhos da grande Áfrika.
Kalunga. Esta palavra que vem do Kikongo (da grande rama linguística niger congo, que engloba mais de 200 LÍNGUAS) possui diversos significados e usos no dia-a-dia de milhares de brasileiros, filhos da grande Áfrika.
É o nome que foi dado, por exemplo, a escravizados fugidos das minas de ouro do Brasil central, que tornaram-se kilombolas e viveram por mais de século em regiões próximas da Chapada dos Veadeiros (Goiás).
Dentre outros de seus significados mais comuns estão "oceano" ("kalunga-grande") e "cemitério" (também chamado "kalunga-pequeno"). Na Umbanda, "Kalungas" é o conjunto de falanges de seres espirituais que vibram na linha de Iemanjá.
Para os Bakongo, o mundo poderia ser representado através de uma mandala conhecida como "Diekenga" - ou "Cosmograma Bakongo" - onde estão representados os ciclos do tempo, do universo, da vida e de todas as coisas viventes. Uma mandala de quatro cores, conectando o mundo espiritual (o mundo dos mortos) e o mundo físico, dividida pelas águas de "Kalunga".
Em seu texto "O conceito de Kalunga entre os bakongos", Bárbaro Martínez Ruiz cita que "os Bakongos crêem que a existência se divide em duas partes que são considerados âmbitos separados: "este mundo" (nza yayi) e a "terra dos mortos" (nsi a bafwa). A Kalunga é a linha que divide o mundo dos vivos e dos mortos, devido a sua função como a força que separou do vazio do nada toda a existência. A fronteira entre os mundos tradicionalmente se conceitua como um copo de água, como "Nzadi", o grande rio, ou "M´bu", o oceano".
Assim, para os bantu, a água representa as etapas iniciais e finais da vida. Fu Kia-Au nos explica que "o povo Kôngo e Luba, entre eles, aceitam o mundo natural como sagrado em sua totalidade porque, através dele, eles vêem refletida a grandeza de Kalûnga. A energia superior da vida, aquele que é inteiramente completo (lunga) por si próprio. Assim, quando um Mûntu (ser humano) vê um minúsculo cristal, ele/ela vê nele, não só sua sacralidade, mas também a presença divina de Kalûnga". (A visão Bântu Kôngo da sacralidade do mundo natural, Fu-Kiau)
No entanto, esta palavra KALUNGA, "apesar de seu inegável valor histórico e sua indiscutível riqueza semântico-filológica, é também vítima da discriminação, da repressão e da violência, às vezes institucionalizadas e camufladas, mas permanentes e dolorosas, preservando hierarquias e racismos" (Martiniano J. Silva).
Em tempos coloniais, a palavra era usada pelos colonizadores para chamar os africanos, "Calunga, um outro modo de dizer negros, quase sempre pejorativo, justificando os colonizadores portugueses considerarem todos os negros inferiores, facilitando se entender porque a palavra Calunga no Brasil passou a querer dizer também coisa pequena e insignificante, como o camundongo catita, também apelidado Calunga". (Martiniano J. Silva)
Através dos movimentos ao longo da linha da Kalunga - caldeirão onde se ferventa o magma da criação e de todos os processos naturais vitais, através dos movimentos ao longo da "linha de Kalunga", se inicia a grande diáspora africana.
Para o Brasil foram trazidos milhares de africanos, sendo que grande parte deles tiveram sua origem nas profundidades da Áfrika Niger Congo, que atualmente corresponde aos países da República do Congo, Angola, Moçambique, Zaire, e região.
Parte do conhecimento, da filosofia e da arte dos povos afrikanos estiveram escondidas por centenas de anos nas sementes que foram deixadas nos bosques secretos da Áfrika ou foram levadas para as Américas dos indígenas.
É hora de buscarmos este conhecimento de volta. Nós, herdeiras e herdeiros da Áfrika Niger Kongo.
Dentre outros de seus significados mais comuns estão "oceano" ("kalunga-grande") e "cemitério" (também chamado "kalunga-pequeno"). Na Umbanda, "Kalungas" é o conjunto de falanges de seres espirituais que vibram na linha de Iemanjá.
Para os Bakongo, o mundo poderia ser representado através de uma mandala conhecida como "Diekenga" - ou "Cosmograma Bakongo" - onde estão representados os ciclos do tempo, do universo, da vida e de todas as coisas viventes. Uma mandala de quatro cores, conectando o mundo espiritual (o mundo dos mortos) e o mundo físico, dividida pelas águas de "Kalunga".
Em seu texto "O conceito de Kalunga entre os bakongos", Bárbaro Martínez Ruiz cita que "os Bakongos crêem que a existência se divide em duas partes que são considerados âmbitos separados: "este mundo" (nza yayi) e a "terra dos mortos" (nsi a bafwa). A Kalunga é a linha que divide o mundo dos vivos e dos mortos, devido a sua função como a força que separou do vazio do nada toda a existência. A fronteira entre os mundos tradicionalmente se conceitua como um copo de água, como "Nzadi", o grande rio, ou "M´bu", o oceano".
Assim, para os bantu, a água representa as etapas iniciais e finais da vida. Fu Kia-Au nos explica que "o povo Kôngo e Luba, entre eles, aceitam o mundo natural como sagrado em sua totalidade porque, através dele, eles vêem refletida a grandeza de Kalûnga. A energia superior da vida, aquele que é inteiramente completo (lunga) por si próprio. Assim, quando um Mûntu (ser humano) vê um minúsculo cristal, ele/ela vê nele, não só sua sacralidade, mas também a presença divina de Kalûnga". (A visão Bântu Kôngo da sacralidade do mundo natural, Fu-Kiau)
O Cosmograma Bakongo e a linha de Kalunga |
Em tempos coloniais, a palavra era usada pelos colonizadores para chamar os africanos, "Calunga, um outro modo de dizer negros, quase sempre pejorativo, justificando os colonizadores portugueses considerarem todos os negros inferiores, facilitando se entender porque a palavra Calunga no Brasil passou a querer dizer também coisa pequena e insignificante, como o camundongo catita, também apelidado Calunga". (Martiniano J. Silva)
Para o Brasil foram trazidos milhares de africanos, sendo que grande parte deles tiveram sua origem nas profundidades da Áfrika Niger Congo, que atualmente corresponde aos países da República do Congo, Angola, Moçambique, Zaire, e região.
Fluxos do tráfico negreiro. Fluxo da diáspora negra |
Parte do conhecimento, da filosofia e da arte dos povos afrikanos estiveram escondidas por centenas de anos nas sementes que foram deixadas nos bosques secretos da Áfrika ou foram levadas para as Américas dos indígenas.
É hora de buscarmos este conhecimento de volta. Nós, herdeiras e herdeiros da Áfrika Niger Kongo.
Nós, brasileiras e brasileiros, filhas e filhos desta grande Diáspora.
FONTES:
O conceito Bakongo do Tempo, Bunseki Fu Ki-Au
A visão Bântu Kôngo da sacralidade do mundo natural, Bunseki Fu Ki-Au
O conceito de Kalunga entre os bakongos, Bárbaro Martínez Ruiz
Kalunga: origens e significados, Martiniano J. Silva
O conceito Bakongo do Tempo, Bunseki Fu Ki-Au
A visão Bântu Kôngo da sacralidade do mundo natural, Bunseki Fu Ki-Au
O conceito de Kalunga entre os bakongos, Bárbaro Martínez Ruiz
Kalunga: origens e significados, Martiniano J. Silva
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