KINDEZI:
A Arte Kongo de Cuidar de Crianças
K. Kia Bunseki Fu Ki.Au e A. M. Lukondo Wamba
Com introdução de Marimba Ani
Tradução Por Mo Maiê, 2017
Em seu
trabalho inovador “O Poder da Auto-Cura e Terapia”, Dr. Fu Kia-Au nos diz que
Muntu (o ser humano) é o sol vivo, percebido como um “poder”, “um fenômeno da
veneração perpétua, da concepção à morte” e além. Kindezi trata-se do processo de
como esse “sol vivo” é educado, uma vez que ele/ela é trazid@ ao mundo físico.
A tarefa de cuidar desse “Muntu” sagrado é a mais
importante responsabilidade da civilização Africana.
Dr. Fu
Ki-Au intencionalmente traduziu “Kindezi” como “a arte da babá” para nos
chocar. Minha impressão imediata após ler o subtítulo de seu livro foi
questioná-lo, respeitosamente, sinalando o que parecia ser um erro de tradução
– uma escolha pobre de um termo em inglês. A resposta do Dr. Fu-Kiau foi dada
em sua maneira caraceteristicamente tranquila, paciente e manerada, o que nos
força a prestar atenção a cada palavra, convencido de que a sabedoria está
prestes a ser concedida.
Ele
explicou que na cultura européia, cuidar de crianças é tomado como uma
atividade insignificante – um trabalho para as pessoas menos importantes da
comunidade. Nós sabemos que este trabalho é dado para as adolescents, que
supostamente não tem nada importante para fazer, e que as mulheres africanas
são importadas do Caribe para cuidar das crianças euro-americanas como um
testamento de nossa suposta inferioridade racial. Ainda assim, de acordo com os
autores deste livro, Kindezi é a maior honra que uma pessoa pode ter na África.
Fu
Ki-Au está nos trazendo à tona o ponto de vista de que, numa maneira claramente
crítica, enquanto a infância é tão desvalorizada na sociedade européia, a
civilização Africana é centrada na criança. Isso torna-se claro ao passo que
compreendemos a vida humana no contexto espiritual da comunidade: um processo
infinito de nascimento, desenvolvimento, transformação e responsabilidade. O
bem-estar da comunidade depende da saúde e integração da totalidade, do
amadurecimento das pessoas que lhe constituem como membros.
Assim, Kindezi é uma arte focada não apenas no cuidado dos jovens da
sociedade, mas no crescimento do Ndezi (o cuidador, aquele
que pratica a arte da Kindezi). Em outras
palavras, ao passo que uma pessoa desenvolve as habilidades da Kindezi, desenvolve-se a si mesmo. Ndezi deve ajudar o muntu, o “sol vivo” a “brilhar” (6); e, no processo,
ele/ela aprende como “brilhar” com o poder do “sol vivo”. Porque esse processo
é contínuo, a maior Kindezi (experiência de
serviço para a comunidade) descansa com os anciãos. Na sociedade Africana, os
anciãos são aqueles que tornaram-se fisicamente mais debilitados, mas que são
espiritualmente mais fortes, porque eles cresceram ainda mais no
desenvolvimento pessoal e se moveram para mais perto dos Ancestrais, para o
mundo spiritual e a própria “Força da Vida” (Kalunga). Um ancião não é apenas uma “pessoa mais velha”, mas
é alguém ainda “mentalmente e espiritualmente forte e sábio o bastante, não
apenas para manter a comunidade unida, mas acima de tudo, para construir a fundação
moral da comunidade jovem e das gerações que virão”. (9/10)
A arte
e prática Africana da Kindezi é de grande
importância na presença dos “anciãos” na comunidade e sua responsabilidade para
a saúde e integração do grupo. Através da conexão entre os idosos e jovens da
comunidade, o conceito enfatiza a continuidade intergeneracional,
signifitcativa comunicação, consistência da formação de valores e transmissão de
responsabilidade mútua. Isso nos leva para a relevância contemporânea deste
livro.
O maior desafio enfrentado pelas pessoas
de descendência Africana deslocadas de nossa base em nossa pátria-mãe é a
fragmentação social, desconexão e confusão axiológica ou de valores. A força
espiritual de nossos antepassados escravizados nos trouxe a brutal e desumana
interrupção da Maafa. Eles fizeram
isso encontrando maneiras de educar seus filhos e ensinar-lhes seus valores. Na
verdade, a única fonte de resistência disponível para nós era a força do nosso
espírito – nossa “Alma-Força” (Leonardo Barret) – que usamos para recriar a
comunidade, continuamente. Esse sentido de comunidade sempre foi uma força
forte e poderosa sobre a qual os descendentes africanos dependeram durante os
principais períodos históricos de nossa saga nesta diáspora forçada. Porém,
desde a década de 1960, quando apareceu na superfície o que muitos pensavam que
eram ganhos políticos e econômicos, nossa consciência cultural se deteriorou. A
importância da família tem diminuído em nossas mentes e a exposição aumentada
às forças destrutivas da sociedade americana, que vem engolindo o tecido de
nossas instituições sociais com sucesso.
Nossos
jovens, de quem dependemos para o futuro desenvolvimento, reinvindicação e
força de nossa comunidade, estão sendo roubados de nós por um arsenal de
venenos intelectuais e culturais. Eles estão sendo atacados espiritualmente
desde antes de seu nascimento com as armas de um ambiente anti-africano. Faltam
os verdadeiros anciãos porque eles mesmos não foram levados através de um
processo de desenvolvimento cultural.
Esses
anciãos que realmente temos são descartados e relegados aos montes de lixo de
uma sociedade capitalista, que valoriza apenas o que traz ganhos materiais.
Desde que os bebês são considerados como fardos que não acrescentam nada
materialmente para o grupo, eles também tornam-se periféricos para esforços
significativos. Cuidar de crianças, portanto, é uma das tarefas menos
valorizadas em nossas vidas desordenadas e os anciãos tornam-se embaraços
“inúteis”. Nós temos imitado a decadência euro-americana até o ponto de não
reconhecer os valores básicos africanos. Kindezi
trás repostas para um povo em crise, um antídoto para a crônica “desorientação
cultural” (Kambon).
O Dr. Fu-Kiau e sua co-autora, a psicóloga Lukondo-Wamba, nos trazem a sabedoria
antiga de nosso lar ancestral sob a forma de Kindezi. A necessidade de concentrar-se na educação das crianças
pequenas e na valorização de nossos mestres-anciãos é uma verdade simples, mas
não simplista. É o processo (dingo-dingo)
através do qual os “padrões sociais” são transferidos para os “membros mais
jovens da comunidade” (1). Kindezi é
um ingrediente crítico do soro anti-viral necessário para combater nossa “Aids
cultural”. É o processo básico da socialização africana. Estamos falando da reconstrução
da família e de seu sentido mais fundamental e dinâmico.
Kindezi trata-se do uso da força
espiritual, mental e cultural de nossos anciãos, para contribuir com o processo
de desenvolvimento de gerações de jovens culturalmente saudáveis, que crescem
para se tornar anciãos poderosos, que, por sua vez, produzem juventude culturalmente
saudável e assim por milênios que virão.
Por se
tratar de um sistema antigo, o Kindezi
tomou mais importância durante o período em que o povo Bakongo lutava contra o ataque iminente da dominação colonial
europeia. As mulheres tiveram que ser liberadas para lutar ao lado de seus
homens, muitas vezes liderando a própria comunidade em batalha. A arte de Kindezi lhes permitiu fazê-lo sem
sacrificar o cuidado e a socialização de seus filhos. Fu-Kiau e Lukondo-Wamba
continuam explicando que as mulheres africanas sempre foram agricultoras,
passando longas horas longe de seus filhos. De acordo com os autores, foi Kindezi que permitiu que as mulheres
africanas fossem liberadas para que elas pudessem contribuir significativamente
para o bem-estar econômico da família. Isso, dizem eles, é o lugar onde as
mulheres europeias adquiriram seu conceito de “liberdade das mulheres”, porque
tais modelos estavam faltando no patriarcado de sua própria história cultural.
Na breve
declaração contida nestas páginas, Fu-Kiau
e Lukondo-Wamba se unem para
apresentar uma descrição surpreendentemente minuciosa do processo de
socialização africana. O livro enfoca a importância dos anciãos na sociedade
africana em relação à importância da juventude africana. Socialmente, os
anciãos ensinam e dão conselhos, de modo que dão aos filhos um sentido de sua
história e explicam-lhes o significado do “caminho da vida” e sua importância
na vida da comunidade (11). Economicamente os anciãos ajudam a contribuir para
o bem-estar e vibração da comunidade, desempenhando a função vital de Kindezi. Dessa forma, eles permanecem
úteis e reciprocamente tem seu bem-estar físico e emocional cuidados com
especial atenção. Os autores chamam a atenção para a profunda compreensão
humana sobre o espírito humano, explicando porque os anciãos na sociedade
tradicional africana sentem-se úteis (ou foram antes dos africanos começam a
abandonar formas africanas) menos susceptíveis de sofrer de doenças
“psicossomáticas” e a desnecessária deterioração biofísica (11). Enquanto isso,
mais e mais anciãos africanos na diáspora estão sofrendo de Alzheimer e outras
formas de demência, que os debilitam totalmente e os tornam involuntariamente
responsáveis por uma responsabilidade pesada para os membros adultos da
família. Nossa cultura autêntica é baseada espiritualmente; assim, sua
desintegração causa destruição espiritual e, portanto, física. No entanto, os
autores nos apresentam um modelo de cura cultural contemporânea. O valor
prático deste livro é imenso. Fu-Kiau
e Lukondo-Wamba explicam Kindezi em termos de seu significado
social, econômico e político. Neste sentido, este pequeno livro tem grande
valor no desenvolvimento de uma pedagogia afrocêntrica. A abordagem do ensino
através da canção é discutida com alguma extensão, um método que tradicionalmente
falou ao espírito das crianças africanas, mas só agora está sendo reconhecido
na teoria pedagógica europeia. Os autores explicam como a linguagem – a
poderosa força energética da África – torna-se a ferramenta efetiva e afetiva
da pedagogia através da arte de Kindezi.
A resposta para a reconstrução cultural africana encontra-se em Sankofa, a recuperação dos processos que tornam-se os fios de nossa colcha de retalhos cultural. Kindezi é o mais valioso bem primário para a (re)socialização para o afro-centrismo, a cura para a família Africana e sua reconstrução cultural. Você escolheu o livro certo. Diz-lhe como ensinar seus filhos (e você mesmo) A SER AFRICANO!
I. O Conceito de Kindezi
Pode-se perguntar: O que é Kindezi? É um conceito? Um campo de interesse? O que é para o povo
da África e do Kôngo, em particular?
Kindezi, a arte de cuidar de
crianças, é uma arte antiga entre os africanos, em geral, e os Bântu, em particular. É basicamente a
arte de tocar, cuidar e proteger a vida da criança e do ambiente, Kinzungidila, em que o desenvolvimento
multidimensional da criança ocorre. A palavra “Kindezi”, um termo da língua “Kikôngo”,
deriva do verbo raíz Ieia, que
significa desfrutar de tomar e dar cuidados especiais.
Cuidar de crianças – Ieia, ou seja, dar cuidados
especiais- é, antes de tudo, uma forma de transferir padrões sociais para os
membros mais jovens da comunidade. E, em segundo lugar, é a orientação da
criança para a vida que compreende orientações muito bem determinadas de acordo
com as normas e valores comunitários. Com tal, os Kindezi/Kindesi podem variar de uma sociedade para outra em relação
aos sistemas individuais e seus valores. Kindezi,
a arte de cuidar de crianças, também oferece a oportunidade de testemunhar uma
experiência de vida pessoal ao longo do processo de desenvolvimento do estágio
mais delicado da vida: a infância.
Por causa destas visões filosóficas sobre Kindezi entre os povos africanos e o
Kongo, em particular, cuidar de crianças é considerado um método terapêutico
altamente recomendado para ajudar os anciãos (ao “usá-los” como cuidadores) a
lidar com seus diversos problemas sociais, psicológicos e/ou gerontológicos.
Para jovens babás, o Kindezi é visto
como uma pré-adaptação social/preparação para as responsabilidades da
maternidade ou paternidade. É também programado para este último grupo como uma
experiência de aprendizagem para a vida e uma forma de adquirir a tolerância
que tem as boas mães e bons pais. Muitas vezes, jovens casais sem filhos são
obrigados, na sociedade do Kôngo, a cuidar de membros da comunidade (família
extensa) como preparação para a vinda de seus próprios filhos.
Cuidar de crianças é uma experiência requerida
por todos os membros da comunidade no mundo africano, independente de seu
estado físico. Compreender o dingo-dingo
(processo) de desenvolvimento infantil é um dos princípios básicos e mais
importantes na compreensão do valor e respeito da vida. Walèmbwa leia kalèndi bakula
ntoko za môyo ngâtu za buta mu zola ko. “Quem jamais cuidar de um bebê”
– diz um provérbio Kôngo, “nunca entenderá a beleza da vida nem a de educar com
amor”.
Historicamente falando, Kindezi existiu na África desde tempos imemoriais, mas seu
verdadeiro desenvolvimento começou no período pré-colonial, quando as mães, sem
nenhuma exceção, foram obrigadas a tomar as armas como seus semelhantes, não só
para lutar contra a invasão de seus territórios, mas também para liderar as
guerras. O desenvolvimento de Kindezi
para estes propósitos continuou e tornou-se comum durante a colonização com a
introdução de novas culturas em África, que exigiram enorme esforço e tempo
para o cultivo. Este foi o tempo durante o qual tanto pai quanto mãe foram
“transformados” em bestas de cargas pelas potências exploradoras do mundo sob a
cobertura da “missão civilizada”. Tanto homens quanto mulheres trabalhavam para
a “corvée” (trabalho forçado e livre) na criação de estradas, transportes,
produção de produtos de exportação e assim por diante. Mães e pais eram
incapazes de cuidar de seus filhos como estavam acostumados. A carga, por
consequência, recaía sobre os ombros dos idosos e/ou sobre os mais jovens, que
estavam abaixo da idade de recrutamento para a “corvée”.
É a criação desta arte que é a mais difícil, mas a mais bela, a Kindezi, ou a arte de cuidar da vida da criança e do ambiente social, em que este cuidado e este desenvolvimento resultam em circunstâncias tão difíceis e cruéis que dedicamos este estudo. Os conceitos filosóficos de Kindezi descritos aqui são baseados na cultura Kôngo. Este estudo é um produto de um esforço conjunto apresentado não só aos nossos colegas Bakôngo, mas a todos os homens e mulheres no campo de Kindezi em comunidades em todo o mundo.
Notas:
1. Sua variação é Ieza.
2. A mulher africana sempre esteve envolvida em
quase todas as atividades da vida: social, econômica, bem como militar. Durante
a era pré-colonial ela tinha sido como seu companheiro, um bom general no
exército. Este é o caso de Nzing'a
Matâmba e Vita-Kimpa no antigo
Reino do Kôngo, que, como generais
do exército, liderou a guerra anticolonial.
II. TIPOS DE NDEZI
Embora as coisas estejam mudando rapidamente na África, o Kindezi, em sua subestrutura, ainda
permanece como uma habilidade e uma arte a ser aprendida por todos os jovens
membros da comunidade, meninas e meninos, por meio de um processo inicial e
prático para, como um provérbio Kôngo diria, Kindezi m'fuma mu kânda (A arte de cuidar de crianças é como um
baobá para a comunidade), ou seja, um forte apoiador de atividades econômicas
comunitárias (Fig. 1). A arte de cuidar de crianças, sâla kindezi, não é instintivamente adquirida como alguns poderiam
assumir ou fingir. Dingo-dingo diena
é um processo pelo qual se descobre o mistério do crescimento humano e atinge a
total compreensão da psicologia da criança.
Através do cuidado com crianças, uma pessoa aprende a maravilhosa habilidade de ser responsável por outra vida e de como transformar-se através de um novo “padrão de vida”. Um “padrão de vida” é um modelo através do qual os valores culturais são transmitidos de geração em geração. Através de Kindezi, os africanos adquirem essa habilidade, uma habilidade que tornou o africano não apenas um dos seres mais religiosos da terra, mas também um dos mais humanistas.
Kindezi m'fuma mu kânda (A arte de cuidar de crianças é como um baobá para a comunidade)
Os pais africanos - e as mães em particular - tem uma grande preocupação sobre a infância de suas crianças, porque são conscientes de que Kimbuta kia múntu, bônso kimüntu, ga mataba – “a liderança, assim como a personalidade de uma pessoa, tem suas raízes na infância”. Acontecimentos da vida infantil tem um papel de extrema importância na vida adulta. Como tal, grande atenção é dada a quem tem algum papel a desempenhar na vida de uma criança – o ser humano com a mente com maior capacidade de copiar. Este entendimento básico de que a infância é a base que determina a qualidade de uma sociedade é a principal razão que induziu as comunidades africanas a fazerem da Kindezi uma arte, ou Kinkete, a ser aprendida por todos os seus membros. Assim, Kindezi é exigida em sociedades que querem preparar seus membros para se tornarem bons pais e mães, mas sobretudo, pessoas que se preocupam com a vida e que entendem, tanto humana quanto espiritualmente, o valor altamente inabalável dos seres humanos que todos somos. A partir dessa premissa, Kindezi tornou-se uma arte popular e uma experiência de vida pessoal no início e no fim da vida, já que uma pessoa deixa o mundo no mesmo estado de fraqueza física em que chega nele.
Fig. 2: O nascimento de uma criança é o nascer de um
“sol vivo”:
B—o amanhecer do sol
é o ponto do nascimento
G—a trajetória do sol
é a direção de seu crescimento e transformações
D—o pôr-do-sol é seu ponto de maior transformação (morte)
Para os
Bântu, em geral, e para os Kôngo, em particular, a chegada de uma criança na
comunidade é o nascer de um novo e único “sol vivo”. É de responsabilidade da comunidade como um
todo e do Ndezi, em particular, ajudar esse “sol vivo” a brilhar e crescer
em seu estágio inicial. (Fig. 2)
Ndezi, aquele
que pratica a arte da Kindezi, o cuidador de crianças, não
é para ser confundido com uma doula, uma ama. Em primeiro lugar, Ndezi,
lida não apenas com bebês, mas com crianças e com o cuidado que deve ser dado a
elas. Depois, a arte da N´sânsi (ama) é Kinsânsi, e ela lida não apenas com crianças,
mas com bebês e/ou mães e com o cuidado que deve ser dado a elas. Uma N´sânsi é uma jovem donzela ou uma garota
escolhida pela comunidade ou pelos membros de uma família para viver, por um
período de alguns meses, com uma mãe para lhe ajudar em sua delicada obrigação.
O seu trabalho é basicamente ligado à maternidade. Ali n´sânsi (amas, doulas) podem cuidar de crianças, mas nem todas as Ndezi (babás) tornam-se amas. Eticamente, um homem
nunca é escolhido para ser amo ou enfermeiro de uma mãe que está precisando de
cuidados. É um tabu moral.
Kindezi, a arte de cuidar de
crianças, é uma das mais importantes responsabilidades divididas tanto por
mulheres quanto por homens em uma comunidade Africana. O provérbio seguinte, Kindezi
wasâdulwa; kindezi una sâdila (Alguém cuidou de sua criança, você cuidará da
criança de alguém), tornou-se um mote e pedra angular desta arte.
Um/a
garoto/garota tem que cuidar de seus irmãos e irmãs mais jovens, enquanto um
avô cuida de seu neto. Qualquer pessoa na comunidade – irmão, irmã, primo, avó,
tia, tio, amigo, vizinho – pode cuidar de alguma criança da comunidade para
que, como diz o proverbio Kôngo, Mwâna mu ntünda, zitu kia müntu mosi; ku
mbazi, wa babônsono, que significa “Uma criança no útero de sua mãe é
responsabilidade de uma pessoa; uma vez que tenha nascido, ela pertence a todos
(na comunidade)”.
Consequentemente, segundo uma pessoa sobe ou desce os degraus de poder social (C), pode se distinguir entre as três principais categorias das quais as maiorias dos Ndezi (babás) se encontram. A primeira categoria é formada por jovens Ndezi e a segunda, por velhos Ndezi (Fig. 3). Além destes dois principais grupos existe ainda um terceiro grupo, o grupo dos Ndezi ocasionais. Do zero aos cinco anos uma criança vive a vida de um ser indefeso. Ela/ele precisa de ajuda para seu completo desenvolvimento. Essa ajuda vem tanto da N´sânsi (ama) que vive com a mãe enferma (para crianças com menos de dois anos), ou do grupo B, C ou D através o Kindezi, antes de cair de novo para o grupo E das crianças mais velhas, com mais de oito anos de idade. Como o leitor perceberá adiante, cada um dos grupos de babás mencionados é diferente dos outros.
A. JOVEM NDEZI
Um jovem ndezi é uma pessoa que é muito jovem
para ser incorporado como mão-de-obra social. Como tal, ele/ela aida não é
reconhecido como uma força produtiva dentro da comunidade. As jovens babás
variam entre cinco e dez anos.
Estes
jovens ndezi, sendo o grupo de
pessoas em crescimento, constituem o grupo mais dinâmico e energético de ndezi. Eles estão no estágio de
exploração de seu próprio ambiente e, cuidando de seus irmãos e irmães mais
novos, ajudam estes últimos a seguir o caminho do dingo-dingo da vida. O ndezi
toma conta de crianças o dia inteiro até o cair da noite, quando a mãe
volta para a casa de suas tarefas do dia. As crianças crescem muito ligadas ao
seu ndezi, andando e brincando ao
redor de sua aldeia. Os ndezi deixam
a vila somente para ir ao rio banhar-se ou banhar as crianças que eles estão
cuidando. Em raras ocasiões, o ndezi
pode ter que levar uma criança persistentemente chorando para o local de
trabalho de sua mãe. Eles às vezes gostam de preparar as refeições, para que as
mães não tenham que cozinhar depois de um longo e quente dia na fazenda.
Os deveres
do cuidador são numerosos. Ele/ela leva o bebê para cima e para baixo em suas
costas enquanto canta pequenas canções de ninar para acalmar a criança - Estas
canções tem um grande impacto tanto educativo quanto psicológico ou influência
sobre a criança- Nós veremos algumas destas canções no próximo capítulo.
O ndezi também deve aprender várias
técnicas relacionadas a esta arte de cuidar de crianças: como acalmar ou fazer
uma criança parar de chorar; como alimentar uma criança ou o que fazer quando a
criança se desvia enquanto come ou bebe; como segurar a criança para lhe dar
banho; como amarrar a criança nas costas; como puxar para cima (sela) ou deslizar para baixo (tülula/zelumuna) uma criança amarrada
em suas costas, etc. Técnicas relacionadas ao processo de amarrar (kânga) e desvincular (kutula/vüla) a criança de costas só são
perfeitamente alcançadas por mulheres. Os jovens ndezis masculinos preferem correr com suas crianças assentadas em
seus pescoços, enquanto as jovens ndezi terão
sempre sua criança amarrada acima de suas costas.
A. VELHO NDEZI
As velhas
babás são pessoas que são excluídas da força de produção comunitária por causa
de sua idade. Eles são muito velhos para serem incorporados à mão-de-obra
social. Pessoas com qualquer deficiência física também estão incluídos neste
grupo.
As pessoas
idosas nas sociedades bantu em geral, e entre os Kôngo em particular,
constituem uma força social poderosa da antiga arte de Kindezi, a arte sem traço no mundo acadêmico. Se os idosos são
fisicamente fracos e não podem mais participar economicamente como uma força
produtiva na comunidade, eles ainda são mental e espiritualmente fortes e
sábios o suficiente, não apenas para manter a comunidade unida, mas sobretudo
para construir a base moral da comunidade jovem e das gerações vindouras. Uma
pessoa idosa, como uma pessoa jovem, é considerada em África para ser uma parte
completa da comunidade, não importa quão fisicamente fraca esta pessoa se
torna. Esta pessoa nunca está isolada da sociedade.
Vamos
mencionar aqui, de passagem, que entre os Kôngo,
como em muitas outras sociedades Bântu,
os deficientes, mesmo aqueles que nascem severamente retardados, estão entre os
mistérios mais aceitos e quase deificados na comunidade. Ninguém, nem o rei nem
o ngânga (o curandeiro, o
especialista), tem o direito de acabar com seu direito de estar vivo. O
“grisalho”, tanto físico quanto mental, para as pessoas Bântu, é algo de que se
orgulhar e as gerações mais jovens aspiram isso. Um provérbio kôngo diz: Bitèta ku rítu, milongilmtna kalunda (envelhecer
(passar a ter os cabelos grisalhos) não é uma coisa totalmente negativa). Ter os cabelos grisalhos é também um símbolo
de quem mantém o ensino ou a lei, ou seja, alguém que vai vivendo e se
conformando com a Lei dos dingo-dingo
da vida e da mudança.
Os asilos,
a estrada de sentido único percorrida por aqueles que nunca voltam para casa,
não existem em sistemas tradicionais Bântu.
Se
existiam casas de enfermagem, estas seriam vistas aos olhos africanos e aos kôngo em particular, como instituições
muito negativas onde seus entes queridos não receberiam cuidados, mas apenas
sentavam-se ou deitavam-se, olhando para o horizonte de sua morte próxima. Além
disso, tais instituições seriam vistas como um símbolo monumental negativo de
uma sociedade descuidada.
Para o
povo Kôngo, um provérbio nos diz: Nuna i soba mbebe mu kânda (envelhecer
é mudar o papel/responsabilidade de alguém na comunidade). O envelhecimento não
é razão para isolar ou expulsar alguém do caminho natural comum de Kala ye Zima (existir enquanto caminha para
extinguir-se lentamente) e dingo-dingo
dia môyo ye nsobolo (o processo de vida e trasformação).
Devido a esta filosofia Bântu fundamental entre os Kôngo para com os mais velhos, os idosos com a sua experiência de vida como membros da comunidade, constituem o grupo mais importante de ndezi. Estes idosos, assim, reingressam ao campo de Kindezi, a arte de cuidar de crianças, por razões sociais, econômicas ou humanitárias.
RAZÕES SOCIAIS:
Os idosos são considerados, entre os Bântu, como uma classe especial com um papel especial dentro da comunidade por causa de sua experiência especial ao longo da vida. Como tal, em Kindezi eles exercem o papel não apenas de excelentes ndezi (babás), mas também de professores e conselheiros dos jovens ndezi. Nessas posições e papéis como professores, conselheiros e ndezi, eles têm dois principais deveres sociais: (1) Transmitir para todas as crianças da comunidade, em sua própria língua, a história de sua comunidade através de canções, histórias, lendas e jogos; e (2) explicar a essas crianças o caminho da vida, seu significado de kala (ser, vir a ser, existir neste mundo) e zima (extinção, a morte do corpo para a transformação) e o papel da comunidade sobre eles.
RAZÕES ECONÔMICAS:
As pessoas
idosas na África são usadas como babás – ndezi
- para ajudar a comunidade com seus filhos e outros deveres claros enquanto é a
responsabilidade da comunidade para cuidar de suas necessidades, alimentação,
habitação, roupas e confortá-los. Voltaremos a este ponto no quarto capítulo.
Além das razões já mencionadas, os idosos africanos são usados como babás (ndezi) em suas comunidades para deter doenças psicossomáticas. Com o efeito de Luvèmba, “o elemento negativo que se acumula em nosso corpo através da idade (e que é a principal causa de uma morte física)”, os idosos enfraquecem fisicamente e retornam à categoria de crianças – “crianças velhas”. Essas crianças velhas podem ter tido seus próprios filhos no passado. A ausência de seus próprios filhos pode se tornar um grande problema, tanto físico quanto psicologicamente, neste momento particular da vida. Nessa situação, os povos africanos não querem que os mais velhos vivam na solidão, diz a sabedoria Kôngo, Bukaka rísôngo, Bulènda vônda – “A solidão é uma doença, pode matar”. Como forma terapêutica de redução de falhas psicológicas e gerontologicamente relacionadas, os Kôngo fazem de seus idosos babás da comunidade, lidando com crianças para mantê-los ocupados. Com esta técnica terapêutica, anciãos na sociedade Kôngo tradicional terminam felizmente seus últimos dias de vida. Eles literalmente morrem nas mãos de seus entes queridos, com respeito e dignidade depois de terem dito para eles, sua última palavra, ao invés de dizê-lo para uma enfermeira. Essa “última palavra” é o bem maio que qualquer africano espera de um ser amado que está morrendo, em vez de levá-lo a mudar ou reformular a sua vontade. Acredita-se que esta “última palavra” supera em muito os bens materiais listados em um pedaço de papel chamado “testamento” ou últimos desejos
Uma criança do Kôngo aprende muito de um ndezi ancião de sua comunidade sobre plantas - seus nomes, usos e onde uma pessoa pode encontrá-las; sobre animais e histórias morais relacionadas a eles; o que estes animais comem e como se reproduzem; sobre pessoas de longe, seus costumes, línguas e modos de vida; e, acima de tudo, aprendem o que as crianças mais gostam: canções, histórias, jogos e truques.
Um ndezi velho, para as crianças, é uma estrela da vida. Eles brincam, cantam, saltam e dançam com ela. Seu colo é a melhor cama para estar e descansar. Um ndezi velho é visto às vezes como sendo melhor do que seus próprios pais – principalmente se o Ndezi for um avô. Sabe não só como acalmar, mas melhor, como censurar uma criança. Ele/ela é um pai por excelência para ele/ela sabe o que é ser um pai, um ndezi/babá e uma criança. E, acima de tudo, é uma pessoa de experiência que sabe ler as mentes das pessoas.
A. NDEZI OCASIONAIS
Contrariamente ao que é dito sobre os Ndezi jovens e velhos, os Ndezi ocasionais (Ndezi Yantôta) são pessoas no degrau de forças sociais produtivas (FIG. 3). Em outras palavras, eles são principais produtores da comunidade que, por algum motivo, decidiram permanecer no vilarejo para fazer certas tarefas, tais como: assar o pão (nika/yoka kwânga), reparar uma casa, extrair óleo de dendê (kama mafutá), esperar por um visitante, etc. Sob estas condições, um pai (ou mãe) pode pedir a um indivíduo para cuidar de seu filho enquanto faz outras tarefas. Essa babá é conhecida como Ndezi yantôta ou Ndezi bwèso, significando respectivamente e literalmente “babá inesperada” ou “babá por acaso”. Esta pessoa serve como um ndezi enquanto executa suas outras tarefas em um horário normal. Devido à sua atenção dividida entre a criança a vigiar e o trabalho a ser feito, problemas, conflitos e até acidentes podem ocorrer com os Kindezi praticados por este grupo. Consequentemente, uma criança, por exemplo, pode rastejar acidentalmente além do ndezi desatento e cair em um buraco de fogo ou de despejo. Muitos destes acidentes em Kindezi ocorreram com o Ndezi neste grupo.
Muitos não gostam de babá para uma criança enquanto ocupado com outra atividade. Pode ser perigoso – até mesmo catastrófico – para a babá, bem como para toda a comunidade, e pode significar a perda da vida para a criança. O cuidado de crianças ocasional deste tipo é apreciado e funciona bem somente se houver mais de uma criança ao redor. Estas crianças devem ser de diferentes níveis e idades para que eles possam tomar conta umas das outros para a sua própria segurança e proteção.
Cada africano participou, de uma forma ou de outra, de um dos três diferentes grupos de ndezi, pela simples razão de que o ambiente social e cultural o exige. Todos trabalham para a comunidade e a comunidade funciona para todos. E com a prática do sistema Kindezi, os mais jovens e os mais velhos membros da comunidade não são excluídos do dingo-dingo (processo) da economia coletiva. Isso explica porque Kindezi, a arte da babá, não é apenas a arte de tocar e cuidar da criança, mas de moldar a humanidade e o futuro de seu ambiente mundial.
NOTAS
1. Para maiores detalhes sobre esse assunto, leia “Cosmogonia Kongo”, de Fu-Kiau (1969), O Livro Africano sem título, e outros de seus trabalhos.
2. Na sociedade do Kôngo, os pais nunca brigam ou se matam por causa de seus filhos. As crianças dos casais que estão juntos ou separados sempre pertencem aos dois pais e suas respectivas comunidades. Assim como um Mukôngo nunca vai sequestrar ou matar sua própria criança, num ambiente de conflito entre pais.
3. A maioria das mulheres do campo estão ocupadas em suas fazendas das seis da manhã às seis da tarde.
4. Leia O Livro Africano Sem Título, de Fu-Kiau, 1980.
I. CRIANÇAS NAS MÃOS DO NDEZI
A. QUEM SÃO?
As crianças nas mãos dos ndezi são todas as crianças que vivem ou nasceram na comunidade. São os membros mais jovens da comunidade e representam o futuro da própria comunidade. Muitas vezes, estas crianças estão familiarmente relacionadas entre si.
A sociedade do Kôngo presta grande atenção à sua juventude, porque Môyo a kânda, bilesi (a vida da comunidade está em sua juventudo), diz um provérbio. Uma comunidade sem juventude não tem futuro. Mas para assegurar um futuro positivo, a comunidade e todos os seus membros devem assumir a plena responsabilidade de “iniciar” (educar) a sua juventude – Bula mèso mâu – quanto às suas responsabilidades sociais, culturais, econômicas e políticas, comunais, nacionais ou internacionais. Para ter sucesso nesta tarefa, o Mbôngi, “parlamento comunitário”, deve criar uma boa atmosfera política, favorável ao crescimento cultural, social, econômico, político e intelectual da juventude.
Uma das maneiras de conseguir isso na sociedade do Kôngo é através do desenvolvimento de um sistema muito forte de ntungasani, que pode ser melhor traduzido como “construindo indivíduos sábios e fortes laços comunitários através de debates críticos livres e abertos”. O Mbôngi é assim visto como o mais popular sistema de educação Kôngo. Aqui, todas as questões e assuntos relacionados à vida comunitária são abertamente e comunitariamente discutidos. E, aqui no Mbôngi, as decisões são tomadas em conjunto na comunidade, pela comunidade, para a comunidade.
O processo ntungasani no Kôngo Mbôngi é ainda mais democrático do que o processo de democracia no ocidente, pela simples razão de que neste processo ntungasani todos na comunidade, absolutamente todos, participam no processo de fazer ou mudar uma ordem ou lei. Espaço para a ditadura simplesmente não existe. Assim, o que as crianças aprendem de seus velhos ndezi vem do Mbôngi, a fonte comunitária de informação “oficial” que reúne e constrói a sociedade comunal e seu sistema.
B. O QUE ELES APRENDEM?
O sâdulo (o local onde acontece o cuidado das crianças) não possui um quadro para escrever ou um livro para ler. No entanto, as crianças no sâdulo “lêem” e recebem muito das mentes de seus ndezi e assim aprender a “escrever” e assimilar muita informação sobre a vida na comunidade do passado, do presente e do futuro também.
O ensino é oral e prático. Crianças e suas babás às vezes deixam seu local sâdula e se movem de um lugar para outro, visitando ferreiros locais, tecelões e oleiros. E muitas vezes eles vão coletar flores, ervas, insetos, raízes, bimènga (pedaços de cerâmica), ovos, cogumelos, rochas, etc. Ao redor da aldeia. Aprender os nomes e o uso de “coisas” no ambiente da criança é um dos estágios mais excitantes no processo de aprendizagem sâdulu. Eles aprendem a dissecar cuidadosamente pequenos animas e insetos. Através destas experiências a criança adquire um sólido conhecimento prático em assuntos relacionados à anatomia, fauna e flora. Além disso, essas atividades práticas de aprendizagem proporcionam aos filhos a oportunidade de melhorar o desenvolvimento de sua língua nativa e aumentar seu vocabulário.
Infelizmente, este sólido conhecimento da língua materna é desconsiderado em todos os sistemas escolares africanos modernos, onde não há espaço para línguas africanas “não científicas”. Essa crença de que as línguas africanas não estão equipadas para o estudo científico moderno é, em nosso ponto de vista, tola e é um câncer no corpo do crescimento intelectual e econômico africano.
O ndezi no sâdulo sustenta um rígido ensinamento moral em relação à vida comunitária. Aqui a experiência do velho ndezi é habilmente “derramada” na criança, que então a canta, a prova, a sente e aprende com ela.
É no sâdulo, o local onde acontece o cuidado com as crianças, que a criança aprende o valor de viver, brincar, cantar, dançar e rir junto com os outros, não importa quem são e quão ricos ou pobres podem ser. Para os Bântu, e para os Kôngo em particular, a união é algo espiritual para ser compartilhado orgulhosamente com os outros. A união é um poder e uma energia que liga as pessoas e as aquece. Sob este poder de juntar-se, a criança aprende não só a ouvir, mas a obedecer e respeitar as pessoas idosas. Também aprende a participar ativamente de todas as atividades da comunidade, ou seja, trabalhar para os outros. Acima de tudo, é nesta fase que a criança é introduzida no conhecimento de alto nível, não apenas do nosso universo, mas também da vida, da morte e do conceito de kala ye zima (ser/viver e extinguir/morrer) como Dingo-Dingo (processo) natural de vida e mudança.
Através de Kindezi, a criança também aprende que o mundo em que vivemos não é uma propriedade individual. É para a vida e, portanto, deve ser compartilhada por todos. Nós, como “indivíduos”, que gostamos de pensar em nós mesmo com um “Eu” capital, todos vêm a este mundo como seres fracos. Nós crescemos mais fortes e então devemos deixar o mundo como seres fracos, assim como quando chegamos.
C. O SÂDULU
Já mencionamos acima que sâdulo é um lugar para cuidar das crianças. Nós preferimos essas terminologias ao “centro de enfermagem público ocidental” ou “jardim de infância”. Enquanto o jardim de infância ocidental prepara a criança para a educação formal ocidenta, o sâdulu prepara a criança para toda a vida na comunidade.
O sâdulu, ou local de cuidar das crianças, não é necessariamente uma cabana (ou um prédio). Pode ser qualquer coisa que acomode exercitar a arte de Kindezi: um telhado de uma cabana inacabada, um local desmatado sob folhagem de árvore, ou apenas um lugar em terreno aberto ou uma varanda. Aqui as crianças são trazidas para juntar-se a seus ndezi, velho ou jovem. Antigos ndezi preferem cuidar sob um abrigo para se proteger do sol ou da chuva.
Crianças de dois anos ou mais são deixadas no sâdulu com seu nkuta (alimento) nas mãos do ndezi. No entanto, este alimento/nkuta é mantido na casa da babá.
As babás de crianças com menos de dois anos de idade geralmente não realizam suas tarefas de babá no sâdulu, mas sim acompanham a mãe que ainda está amamentando ao local de trabalho, para que a criança continue, quando necessário, a ser alimentada com leite materno. Este ndezi particular deve saber como manter a criança confortavelmente “amarrada” em suas costas e como ajudar o bebê a dormir. Ele canta muito enquanto toca o nsakala, uma espécie de chocalho de mão, para acalmar o bebê. Ele/ela sabe como segurar o bebê e o que fazer quando cair enquanto carrega sua carga em uma estrada escorregadia. Ele/ela deve agir de tal maneira que o bebê não caia para trás (mlunguka/yekuka). É importante notar que este ndezi ou n´sânsi só pode ser verbalmente censurado, de maneira alguma pode ser esbofeteado. Pois, diz o Bakôngo, golpear a pessoa mais próxima de uma criança é como bater na própria criança. Mesmo uma repreensão verbal do n´sani ou ndezi na frente de uma criança pode fazer a criança adoecer.
No sâdulu as crianças passam os dias correndo, conversando, brincando de ser nganga (curandeiro/médico), chefe ou imitando as outras profissões comunitárias. Eles ficam longe de seus pais, enquanto estão felizes com seus ndezi e companheiros, tem comida suficiente e diversão. Eles brincam e fazem seus brinquedos com materiais encontrados no local. Eles aprendem a tecer, quebrar o dendê, cozinhar, fazer panelas e brincar de mercado. Eles aprendem muito sobre sinais, símbolos e linguagem corporal. Um olhar direto (kintungununu/kiswèswe), por exemplo, diz à criança para parar o que quer que esteja fazendo. A criança sabe o significado de cada movimento incomum dos olhos, dedos e rosto de seus pais/ndezi – e até mesmo uma simples tosse pode dizer muito. Neste sinal dado, a criança deve agir o mais rapidamente possível para se comportar adequadamente.
Sâdulu, o lugar de cuidar das crianças, é uma escola em movimento, onde as crianças da comunidade não apenas conhecem o seu ndezi, mas onde também aprendem fazendo. É nesta etapa que a criança adquire a experiência mais emocionante da vida, a época da união com uma coisa espiritual compartilhada para o melhoramento da sobrevivência da comunidade.
NOTAS:
1. Mbôngi, que literalmente significa “casa do conselho público”, é o assento do Bantú tradicional, a mais poderosa instituição política comunitária.
2. Para mais detalhes sobre Mbôngi, leia “O Mbôngi”, de Fu-Kiau.
IV – KINDEZI E A
SOCIEDADE/COMUNIDADE
O Kindezi só pode ser percebido e compreendido
através do contexto social da comunidade, que serve como arte e uma grande
responsabilidade social. É através do papel que Kindezi desempenha na comunidade que se pode apreciar a sua
importância no dingo-dingo
(processo) de moldar padrões sociais africanos. A qualidade e a personalidade
do ndezi/babá, influenciam a
qualidade e a personalidade da criança no sâdulu
e na comunidade também. Uma vez que é o ndezi
com quem a criança permanence o dia inteiro, o futuro da criança refletirá
muito a imagem de seu ndezi, o
principal formador de sua personalidade. Este é o impacto de Kindezi, a arte de cuidar da criança,
não apenas sobre a criança, mas sobre a própria sociedade.
A
contribuição de Kindezi nas
sociedades Bântu em geral, e no Kôngo em particular, não pode ser
subestimada ou negada. O papel que desempenha em todos os aspectos da vida comunitária
é tão grande que merece que se erga um monumento em sua homenagem.
Sem Kindezi, a mulher Africana nunca
experimentaria a grande liberdade que ela desfruta. Também não ocuparia a
posição que ocupa no controle da terra e da produtividade econômica. Ao
contrário da mulher ocidental, a mulher Africana é mais agricultora do que o
homem. A mulher Africana, nessa perspectiva, é muito mais auto-empreendedora do
que sua colega no ocidente. Aqui no ocidente, a mulher é basicamente um
empregado para o trabalho do homem. A mulher Africana permanece em sua fazendo
da manhã ao cair da noite.
O seu
trabalho é um trabalho de terra feito sem qualquer participação masculina, graças
à arte de Kindezi. Uma mãe com um ndezi (babá) é um pássaro voando, ela
pode ir para onde for possível. Esse tipo de liberdade de que gozam as mulheres
africanas para administrar seus próprios assuntos não foi descoberto por
mulheres ocidentais até recentemente, como o movimento de libertação das
mulheres, que nasceu, aliás, como resultado da descoberta antropológica do
Terceiro Mundo. No Ocidente, a terra é o domínio dos homens apenas. Em África,
é principalmente o domínio das mulheres, graças ao papel desempenhado pelos Kindezi na libertação das mulheres da
casa. E este é um novo fenômeno no Ocidente.
Durante
séculos, as mulheres africanas foram “reis”, generais, fazendeiras, pescadoras,
Pescadores, médicas, comerciantes e mineiras (em campos de cerâmica) graças à
descoberta anterior de Kindezi, que
lhes permitiu ser seres humanos livres. Elas não precisavam da ajuda de um
marido para atravessar uma estrada, um rio ou para garantir sua presença física
na fazenda. Confiar na presença do homem/marido, dizem as mulheres africanas, é
dar credibilidade à doutrina da inferioridade feminina, fundamento do
chauvinismo masculino ocidental. Esta doutrina provou atrofiar o potencial
feminino como mãe e/ou em outras profissões dentro da sociedade.
É bem
aceito hoje em dia que as mulheres nos países do terceiro mundo são as melhores
economistas e gerentes do mundo:
“Qualquer
um que tenha passado tempo nas aldeias pode testemunhar que os maiores
economistas do mundo são mulheres analfabetas, pois de alguma forma conseguem
manter suas famílias alimentadas com orçamento que parecem impossíveis. O
problema reside precisamente na extremidade oposta do espectro social, com os
funcionários bem educados, bem pagos e bem intencionados que estão destinados a
atender à pobreza mundial e à fome desesperada que ela causa.” 3
As
mulheres na África ainda hoje estão correndo atrás de seus ndezi para se libertarem para poderem fazer o que lhes agrada para
o melhoramento de suas famílias em uma África neo-colonial em que agora não têm
nenhuma palavra.
Em muitas
partes da África, devido ao fato de que os homens têm que trabalhar em minas (Azania), a construção de estradas (como
em Transkei) é fundamentalmente tarefa
das mulheres. Um empreendimento tão surpreendente seria impossível se as ndezi de Transkei não assumissem a responsabilidade de cuidar das crianças
enquanto suas mães trabalhavam em projetos de construção de estradas.
Em sua
praticidade, Kindezi pode ser visto
como uma verdadeira agência de serviços sociais comunitários. Kindezei apoia as atividades sociais e
econômicas de toda a comunidade, bem como de cada um de seus membros. As mães
precisam de ndezi para deixar seus
filhos quando vão visitar os membros da família em outra comunidade ou doentes
no hospital; quando vão ao Mercado negociar os produtos de sua fazenda ou
comprar o que suas necessidades domésticas requerem; quando vão para a fazenda,
para pescar, pegar cogumelos, quando vão aos funerais, ou para qualquer outro
evento social, para evitar qualquer incômodo. A cultura Kôngo prefere, por exemplo, que uma senhora que vai a uma cerimônia
de casamento esteja livre, sem uma criança; caso contrário, ela não vai desfrutar
da dança cerimonial por causa da presença da criança. Por outro lado, isso exige
que todas as mães tenham que, de alguma forma, ter um ndezi para que, em tempos de cultivo da terra, ninguém possa fingir
ser incapaz de trabalhar por causa da falta de uma babá. Hoje, todo o
continente africano está morrendo de fome porque, entre outras razões, a
maioria dos ndezi4 foram
para a escola e não há serviço de substituição para o tradicional Kindezi. A falta de ndezi na comunidade devido à mudança do
sistema de educação reduziu a capacidade de produção de alimentos entre os
agricultores (mulheres). Tanto as mães, quanto os pais, optaram por cruzar as
pernas, amamentar seus bebês inquietos e ouvir a política do amendoim.
Consequentemente, todo o continente está “comendo” política e morrendo uma
morte estranha.
Resumindo, pode-se dizer que Kindezi tem, de imediato, um papel social, econômico e político a desempenhar na comunidade. Cada um desses papéis tem um único objetivo: servir a comunidade e proteger seus membros mais jovens.
A- PAPEL SOCIAL
A arte de
Kindezi é um agente de formação
social, cultural e educacional. É o Kindezi
que fornece os elementos mais básicos de conceitos culturais para a criança. No
sâdulu (o local de cuidar das
crianças) a criança aprende suas relações sociais com outras pessoas. Aprende a
abordar os adultos de forma respeitosa. O ndezi
conta histórias e as crianças, em círculo, ouvem, aplaudem, repetem, cantam em
coro, riem e se alegram. Além disso, o ndezi
também tem que organizar os filhos para brincar, dançar ou dramatizar. Aqui,
claramente, o Kindezi assume uma
posição de liderança no sistema oral de educação entre os Bântu. O ndezi ensina as
crianças a fazer brinquedos com makaka
(uma espécie de grama), bipôpo
(dinamites de lama, bolas de lama) e muitas outras coisas.
Este ensino Kindezi assume uma forma mais animada pela introdução de canções no processo e muitos kümu, “palavras-lema”. Este processo é um dos mais comuns no ensino de Kindezi. Cantar como babá é um processo aberto e muito desafiador. O ndezi deve saber o que ele/ela canta para a criança. O ndezi ensina canções simples que cativam a curiosidade e a atenção da criança. Através de canções, o ndezi ensina-lhes o conceito de partilha e seu valor para a comunidade, como expressa a seguinte canção:
Wadia, wadi’e
Tala nkubu nâku
Nkubu nâku e
Lumbu kabaka
Ngângu e
Ngângu ziviôkele
Enquanto comes,
(Melhor) olhar para seu par
Seu par
O dia em que ele/ela mesmo poderia
Tão esperto parecer
Muito esperto
Pelo mesmo processo o ndezi conduz suas crianças ao rio para um banho. Uma canção muito simples e agradável é cantada. O ndezi canta as palavras e as crianças respondem em coro cantando “yô”, uma maneira esotérica de dizer inda, que significa “sim”. Eles continuam a cantar enquanto caminham para o rio, conforme expressa a seguinte canção:
Mwèndo yôl’e
Yô
'
Mwèndo yôl’e
Yô '
Na bingulu-ngulu
Yô
Na bintaba-ntaba
Yô ...
Indo tomar banho
Yô
Indo tomar banho
Yô
Com porquinhos
Yô
Com cabritinhos
Yô
Em se tratando de Kindezi, a arte de cuidar de crianças, os cantos não param com este tipo de canção. Um ndezi pode cantar uma canção de ninar que transmite, basicamente, um sistema político. Encontramos esta forma na seguinte canção de ninar muito popular entre os angolanos que estavam fugindo do sistema colonial lusitano em Angola para abraçar o sistema colonial paternalista do reino belga no império colonial belga no Congo8:
E mu Leyo (tukwènda)
E yâya mu Leyo
E mu Leyo
E yâya mu Leyo
(Kadi) E Salazale
Wakitudi yo kwândi (nsi)
Se nsânsi ya gôndila9
an’èto
E mu Leyo (tukwènda)
E yâya mu Leyo
E mu Leyo (tuwila)
Yâya mu Leyo
E mu Leyo . . .
Ei! Para Leyo10
(vamos)
Agora, então!
Ei! Mãe para Leyo
Ei! Para Leyo
Ei! (porque) Bem,
Salazale11
Transformou-o (o
país)
Num instrumento de ninar
Agora, então, para
Leyo (devemos ir)
Ei mãe, para Leyo
(deve ir)
Mãe, para Leyo agora,
então!
Para Leyo (deve ir)
A canção do Zômbo é uma canção política
típica usada para transmitir uma mensagem política na arte de cuidar das
crianças: o povo angolano teve que deixar seu país e cantou a música para se
preparar para uma Guerra anti-colonial, porque o seu rico país, Angola, tinha
se transformado num simples brinquedo para agradar crianças superinduzidas, os
colonialistas. A Guerra teve que ser preparada a partir de um país vizinho (o
Congo Belga) para lutar contra o facista Salazar, de Portugal.
Canções de ninar também são usadas para lembrar o ndezi de seus deveres quando a criança chora. “Nunca se esqueça”, transmite a mensagem “a forma como a arte de Kindezi é praticada na cultura Kôngo”. Ou seja, em outras palavras, o ndezi deve levar a criança para sua mãe (no seu local de trabalho) se possível; assim aconselha as seguintes canções:
Mâma wankâmba
Tâta wankâmba
Mwâna kadila
Nda12 lândis’e
Mu nzila Kôngo
E-e kayânga13
E-e kayânga
Nayendi kaka
Muna nzil’a Kôngo
Mamãe me disse,
Papai me disse,
Se a criança chora
Leve-a para o lugar do trabalho
Do jeito Kôngo
Cuidando, querida
Cuidando, querida
Sempre faça
Do jeito Kôngo
Um outro grupo de canções de ninar de Kindezi é esse que é usado basicamente para ninar (N´küng´anwukudila). Essas canções de ninar servem, não apenas para acalmar (wukula), mas para elogiar ou apoiar as mães em geral, e especialmente as mães de gêmeos, ngudi-a-nstmba. As duas músicas a seguir ilustram:
a) Uma
cantiga de ninar comum:
Wa, wa,
wa
Mwâna wanlôngo e
Sangamani e14
Buta katominanga
Kala na ndezi âku e
Sangamani e
Wa, wa, wa
Mwâna wanlôngo e
Sangamani e . . .Calma, calma, calma
Oh! Criança sagrada
Olhe para ela
Para ser uma mãe feliz
Não deveria ter uma babá?
Olhe para ela
Calma, tranquila, silenciosa
Oh! Criança sagrada
Olhe para ela ...
b) Uma
cantiga de ninar para gêmeos:
Bâna bèto bôle
Kayang’e
Ma ngudi e
Kayang’e
Bôle bayiza
Bâna
Bôle
Bôle
Kayang’e Ma ngudi e Bâna bèto bôle Bôle Bôle
Nsimba na Nzuzi e Bôle
São dois, os nossos bebês
Cuidando
A mãe dos gêmeos
Cuidando
Eles são dois
(Nossas) crianças
Gêmeos
Gêmeos
Cuidando
A mãe dos gêmeos
Eles são dois, nossas crianças
Gêmeos
Gêmeos
Nsimba e Nzuzi
Gêmeos
Existem também outros tipos de cantigas de Kindezi que são estritamente ligadas a
questões relacionadas com a saúde. Muitas destas canções relacionadas com a
saúde ensinam, por exemplo, que é perigoso para uma criança chorar
excessivamente. Chorar, diz a música abaixo, aumenta o calor do corpo (a temperatura)
e pode causar yuku-yuku
(febre). Por esta e por outras razões, o ndezi é instruído a manter as crianças
tão felizes quanto possível, em vez de entristecê-las ou deixá-las chorar
durante todo o dia. Aqui está uma canção típica de saúde:
Wa, wa
E mwâna bidilu èyi
Yambula bidilu biâku
Mwânu-wu
Ni bio bitwâla’ tiy’èyi
Calma, calma15
Que criança chorona!
Pare de chorar, bebê
Bebê
Isso vai deixar você com febre16
O último tipo de canções que gostaríamos de mencionar aqui
são as músicas relacionadas a conflitos sociais e/ou desvios. Estas canções
preparam as crianças para o fato de que seu ambiente social, cultural e/ou
político não é totalmente saudável e livre de tensões. Como tal, a criança
aprende, desde a mais tenra idade, que a vida é um dingo-dingo (processo) em que se deve lutar
continuamente pela mudança, crescimento e desenvolvimento, embora esta mudança
nem sempre seja positiva. É responsabilidade do ndezi introduzir tal noção à criança
para que aceite o ambiente como ele é – como um ambiente (conflitivo) interativo.
A canção-lenda abaixo, baseada na vida de um desviado
social, pinta a imagem deste tipo de canção. Esta canção-lenda fala sobre uma
senhora que deixa seu primeiro marido. Quando volta para sua comunidade
original, ela se vê rejeitada e isolada de seu povo, que interpretou mal o que
aconteceu com ela, que desfez seu casamento. Sua comunidade quer que ela seja
um dama de boa conduta. No entanto, por alguma razão, sua comunidade se recusa
a dar-lhe o benefício de trazer esta situação crítica perante o Mbôngi da comunidade.
Um dia, a “chuva/inundação” (uma metáfora para um estranho
que está passando por ela e a vê em seu estado de rejeição) vem e a leva
embora. Ela concorda em deixar sua comunidade para acompanhar o estranho homem.
Com este estranho ela começa uma nova família e se livra de todos os problemas
anteriores, relacionados com seu primeiro casamento e com sua própria
comunidade. Ao longo do caminho para sua nova comunidade, a senhora encontra
dois sinos. Um destes sinos não tem identificador e representa sua vida
anterior “quebrada”, aquela vida que ela deixou pra trás. O outro sino, que tem
alça, representa sua nova vida “esperançosa”. Uma vez que ela chega em sua nova
comunidade por nova aliança, a senhora rejeitada vai ver um especialista de
charme chamado Mwânda,
a fim de ter seus mâmbu
(problemas) amarrados em um “fetiche” Mpüngu, para que eles finalmente
descansem. Mwânda
pega o sino sem o punho da senhora e lhe dá em troca uma bela manta de
pano/envoltório que atuará como um muro entre suas vidas passadas e presentes.
Mono ubabela
Batüngila nzo
Va ntèndo bènga
Niâmba bu kayôka Kayôla bisa
Kayôla miku
Ngièle kwâmi bând’e
Ntôtele ngünga zâmi zôle
Ngúnga zâmi zôle
Mosi yatabuka dikôngi
Yatabuka dikôngi
Mpèni kwa Mpüngu a Tâta Mwânda
Mpüngu Tâta Mwând’e
Umpèni rílele wa maleso
N’lele wa maleso
Ni wo nikinina’ ku lôngo
Yakina-kina fiôti
Nto-nto-nto zawíla lôngo
Kiwo-wo-wo!
Ya Masâmba
Kiwo-wo-wo!
Rejeitada,
Alguém me fez uma casa
Perto do abismo
A inundação veio,
Levou os potes,
Pegou panelas,
Então eu fui para as terras baixas
Peguei dois sinos
Dos meus dois sinos
Um não tinha alça.
O que não tinha alça,
Eu dei para o fetiche Mpüngu do pai Mwânda
O Mpüngu do pai Mwânda
Deu-me uma manta manchada deslumbrante
Com a manta manchada deslumbrante
Eu dancei17 em meu casamento
Uma pequena dança
Ali “problemas” de meu casamento anterior
Foram acalmados
Com você, Masâmba18
Todos eles são acalmados.
As dinâmicas sociais de Kindezi, tal como são compreendidas entre os povos Bântu, não se limitam apenas ao ensino de jogos, peças e canções. Kindezi é um processo que molda toda a vida da criança e, portanto, toda a vida da comunidade. Através da dinâmica Kindezi, a criança aprende que ele/ela não é um elemento fora do corpo social de sua sociedade. Os ndezi, pais e filhos, são parte de um grande conjunto, o conjunto social (Fig. 4)
Fig. 4: A criança não
é um elemento que está fora do corpo social de sua comunidade:
C—criança
N—ndezi/babá
P—pais
SE—corpo
social/comunidade
Ali relacionamentos sociais que trabalham para unir
todos esses elementos sociais (pais, ndezi, crianças) estão no interesse do crescimento pessoal
e da melhoria da comunidade. Quanto mais essas relações forem estabelecidas,
mais a comunidade estará unida e mais esta comunidade se destacará na maioria
de suas atividades. Assim, criar uma criança torna-se responsabilidade de todos
na comunidade. “A criança no útero é a carga de um indivíduo, mas uma criança
que nasce, é filho de todos.” Assim, a sobrevivência de uma criança é fardo de
todos na comunidade. (FIG. 5)
Fig. 5: A sobrevivência de uma criança é o “fardo” de
todos de uma comunidade.
Devido à falta de documentos escritos para fins didáticos, a canção ocupa a posição de escolha na arte tradicional Kôngo de cuidar de crianças. Quase tudo é ensinado através de canções, porque elas são constantemente repetidas. É através de canções e Kümu (lemas filosófico-didáticos) que a criança congolesa aprende a beleza artística de sua língua-mãe. É através das canções e dos provérbios que as crianças aprendem que sua comunidade, com todas suas tensões e interações, é um lugar bonito para crescer e fazer parte. Na comunidade, a criança aprende que criar uma família é a responsabilidade mais sagrada e maravilhosa de todas. Como tal, todas as crianças devem permanecer em sua comunidade e crescer nas mãos de seus membros. Eles nunca serão distribuídos pela comunidade, não importa o que seja – por dinheiro ou por incapacidade dos pais. As crianças na sociedade Kôngo não são “coisas” para se livrar ou “bens” para serem negociados. Para melhor e para pior, a família extensa deve “morrer de fome” para salvar a vida cada criança da comunidade. “Adoro ter filhos”, diz Müntu, “porque a comunidade não só os quer, mas os ama.” Isto é, todos os membros da comunidade comumente se sentem responsáveis por crianças, como o conto abaixo sugere. A heroína, uma jovem senhora, prepara uma audiência com sua família. Ela quer tanto bênçãos quanto permissão para criar uma família própria para que ela possa ter filhos e fornecer novos membros (“galos” e “galinhas”) – meninos e meninos para as necessidades da comunidade (social, política e militar):
Ya Masâmb’e
Ya Masâmb’e
Mpèti mbèl’âmi
Mbèl’âmi
Yabudila mpâtu zâmi
Mpâtu zâmi
Yayaba gôngo diâmi
Gôngo diâmi
Yabaka nsümba tânu
Nsümba tânu
Yayenda kwè' batâta
Ba’ batâta
Bampâna n’lele a nkelele
N’lel’a nkelele
Yayabikila mabène
Bène diâmi
Diatlta bu dilèmbo
Wuhu!
E nsusu ankènto
E nsusu ambakala
Wuhu!
Senhor Masâmba20
Senhor Masâmba
Me dê minha faca21
(Com) minha faca
Eu vou esculpir minhas colheres
(Com) minha faca
Eu vou esvaziar uma lagoa
A partir desta lagoa vazia
Vou pegar cinco nsümba22
Com estes cinco nsümba
Eu vou aos meus “pais”
Meus pais
Vão me dar um embrulho deslumbrante
Com meu embrulho deslumbrante
Eu vou cobrir meus seios
Então meus seios
Vão ficar cobertos e vão crescer
Hurrah!
Então virão “galinhas”23
E “galos”24
Hurrah!
B. PAPEL ECONÔMICO
Kindezi,
a arte Kôngo de cuidar de crianças, não se trata apenas de responsabilidades
socialmente relacionadas. De fato, os fundamentos filosóficos de Kindezi
derivam diretamente dos aspectos sociais, políticos, culturais, linguísticos e
econômicos da vida do Kôngo. Para os membros mais jovens da comunidade, cuidar
de crianças é assim considerada como uma das atividades mais populares e mais
aceitáveis, usadas na sociedade para manter ativos e produtivos os membros
fisicamente incapacitados para o melhoramento econômico da comunidade como um
todo.
Para
os Bakôngo, cada membro da comunidade é valorizado como uma força de produção.
Não importa qual possa ser o estado físico de um indivíduo, a comunidade deve
assumir a responsabilidade pelas necessidades econômicas deste indivíduo. Por
esta razão, jovens e idosos são, através da arte da babá, incorporados ao
processo de produção comunitário. Eles cuidam dos mais jovens da comunidade e,
assim, não apenas libertam um grupo de forças primitivas (mães jovens), mas
também obrigam toda a comunidade a obter seu apoio econômico. Por este processo
ninguém na cultura Kôngo se entristece por ser um parasita da comunidade e de
sua riqueza. Todo mundo, por seus meios e habilidades, paga por sua própria
sobrevivência.
Uma
mulher Mukôngo é geralmente excelente agricultora, graças a Kindezi. Muitas
vezes uma mulher deixa sua vila de manhã cedo, voltando só depois do anoitecer.
Ela permanece em sua fazenda cultivando a terra, cavando, semeando seu campo,
limpando ou colhendo. Durante todo esse tempo no campo, ela não se preocupa com
seus filhos, porque a babá cuida deles. Devido ao apoio do sistema Kindezi, a
produção agrícola de uma mulher Mukôngo sempre foi superior à do homem.
No
passado, isso era especialmente verdadeiro quando campos e terras agrícolas
eram seguros para as mulheres permanecerem e trabalharem durante todo o dia.
Com o neocolonialismo africano, as coisas mudaram. Agora, as mulheres nos
campos estão experimentando alguma da violência e do abuso que as mulheres no oeste
estiveram experimentando em suas ruas da cidade por séculos. E, porque os
homens africanos não apreciam o funcionamento da terra eles mesmos, o
continente inteiro está experimentando uma falta de alimento. As mulheres, os
grandes “alimentadores” do continente, estão sujeitas ao mesmo trauma que as
suas colegas nas ruas do Ocidente, já não se sentem seguras em seus campos, por
causa e irresponsáveis revoluções africanas.
Como
mencionado anteriormente na introdução, a contribuição econômica de Kindezi é
inegável em regiões africanas onde a agricultura é a chave para o
desenvolvimento econômico local. Este provérbio Kôngo não é uma piada: Mbôngila mwâna-wu
yakângila babakala kilauki (Segure esta criança para mim, para que eu possa
ajudar os homens que são incapazes de prender o louco). Assim, uma mulher
libertada de seu bebê/criança é capaz de fazer tudo. Ela tem a capacidade de
ser uma força política e militar em sua sociedade, em conjunto com seu papel
como mãe e contribuinte econômica para a comunidade. Libertas de seus filhos
pelo apoio de Kindezi, muitas mulheres nos poderosos reinos do Kôngo
tornaram-se oficiais e generais do exército.
Repensar e restaurar o sistema Kindezi em todos os seus aspectos é restaurar não só a força produtiva da mulher, mas também seu poder político e militar.
C – PAPEL POLÍTICO
Kindezi
desempenha um papel importante na política comunitária. Este papel pode ir de
um nível local a um nível nacional.
Sempre
que existem conflitos e tensões na comunidade, o ndezi que é membro da
comunidade, mas neutro e libre, para entrar em contato com qualquer família
onde há uma criança, pode, portanto, ser usado por um ou outro lado como um
observador imparcial e um mediador. Agindo dessa maneira, o ndezi se torna um
meio de reduzir as tensões dentro da comunidade e entre seus membros.
O
ndezi, em seu papel de professor, é o primeiro indivíduo a elevar a consciência
política da criança. Isto é realizado principalmente através de
fazer-acreditar, isto é, jogos, brincadeiras, canções, contos e histórias. É
através do ndezi que a criança aprende quem é quem na comunidade e quem deve
ser chamado de quê. Ele também aprende certos elementos básicos da estrutura
social da comunidade, tais como as relações de parentesco e sua hierarquia.
O
papel político do ndezi não se limita ao interior da comunidade. Ultrapassa as
fronteiras comunitárias. Durante a era colonial, o ndezi foi usado como meio de
resistência política contra forças de ocupação.
Um
dos pais dos autores explicou como Kindezi foi usado como meio de resistência
contra as forças coloniais nestas palavras:
Uma
vez que os soldados foram enviados para
esta região, para conter as forças políticas ascendentes do ngunzism, jovens
ndezi que não foram proibidos de brincar ao redor dos veículos militares
coloniais belgas foram elaborados por forças de resistência congolesas, para
transportar frascos cheios de uma antiga fórmula de ervas muito conhecida,
usada para a guerra, a fim de secretamente pulverizar os veículos com esta
substência poderosa e penetrante. Enquanto os soldados se relaxavam, as forças
resistentes, através do ndezi, faziam sua obra. Quando os soldados voltaram
para suas máquinas e tentaram dirigir, foi um desastre! Os soldados se jogaram
no chão, rasgando suas roupas para se desembarcar do misterioso agente
perfurador. Rapidamente, uma equipe médica foi apressada para investigar o
“vírus”. A própria equipe foi atingida pelo misterioso agente atacante. O
agente permaneceu não identificado pelos agentes opressivos e os habitantes
locais riram.
Finalmente, as autoridades coloniais decidiram que as forças de ocupação deveriam ser retiradas da área. Desta forma, Kindezi foi bem sucedido em fornecer a comunidade com uma importante vitória política e militar.
1. Em várias partes da África a terra é,
literalmente, um domínio das mulheres.
2. Nós preferimos usar o termo “Rainha” porque
rainha não necessariamente significa uma figura política (chefe, líder, soberano)
de um país. A maioria das rainhas (como rótulos ou figuras representativas) são
apenas como o resto das mulheres, enquanto um Rei é sempre uma figura política,
um “soberano”. Além disso, na cultura Kônga (base deste estudo) o termo n´tinu
traduzido por “rei” serve tanto para soberanos homens, quanto para mulheres.
3. Nick Eberstadt, “Hunger and Ideology,” Commentary, 1981.
4. Na África, a filosofia colonia de educação
requer que todas as escolas de origem autóctonas sejam construídas longe das
comunidades (vilarejos) para assegurar-se da destribalização (lavagem cerebral),
mas para facilitar a ocidentalização do continente.
5. Por Fu-Kiau, N'Kôngo
ye Nza yakun’zungidilia, (Kinshasa: ONRD, 1969), p. 28.
6. Crianças pesadas
(gordas).
7. Crianças turbulentas, inquietas, or indisciplinadas.
8. Hoje em dia, o Zaire.
9. Variante comum bôndila, “embalar, ninar.”
10. Variação de Léo (Léopoldville); Kinshasa, hoje
em dia.
11. Variação de Salazar, o ditador português
dictator que foi também o ditador de Angola.
12. Gíria; uma versão curta de wènda, “Vá.”
13. O infinitivo é kaya, “sentar, cuidar,
vigiar”; “dividir”
14. Esta frase é cantada enquanto se coloca a
criança acima da cabeça. Em outras partes do país, esta frase é substituída por
vwema Mbadio (Fique quieto, “sem nome”).
15. Isso pode também ser
substituído por “escute”.
16. Literalmente, se diz, “melhora o calor do
corpo”.
17. Eu faço um
feitiço/encanto.
18. O nome do novo marido.
19. Infelizmente, com a invasão do capitalistmo e
seus conceitos em nossas terras, essa responsabilidade social e sagrada do
passado está sendo descartada a fim de enfraquecer o sistema social Africano.
20. Do sdmba, “aquele que limpa o
caminho,” “o tamador de decisão,” ou “o interruptor social.”
21. A palavra refere-se à espada Kôngo, Mbèle a
lulèndo, o insignia do trono. Ela representa poder, direito,
autoridade.
22. Uma espécie de silurus, peixe.
23. Uma metáfora: significando “garotas”.
24. Uma metáfora: significando “garotos"
25. Movimentos politico-religiosos (Profetismo).
V – CONCLUSÃO
Kindezi,
a arte da babá, embora um dos campos menos conhecidos no mundo acadêmico, tem
contribuído imensamente para a forma como o nosso mundo é executado. Sem ela, a
agricultura seria desconhecida em muitas partes do continente africano antes da
era colonial. De fato, a própria economia colonial teria sido impossível de
perceber se não houvesse Kindezi. Foi Kindezi que libertou as mãos das mães
africanas para serem utilizadas como Kiniemo (trabalho livre) e agricultura de
subsistência para apoiar os orçamentos familiares, que foram empobrecidos pelas
escalas de salários extremamente exploradoras dos sistemas sociais.
Para
repensar e restaurar a arte de Kindezi, seria libertar uma grande força
produtiva na sociedade e reconhecer as mulheres como iguais aos homens. Este
processo também servirá para desvendar a estrutura da mulher como um poder
econômico, político e militar. Assim, reinventar Kindezi significaria
rearranjar também toda a subestrutura social da comunidade. Quando falamos de
Kindezi, falamos de uma instituição que afeta a vida comunitária como um todo.
A
filosofia que está na raíz da arte de Kindezi argumenta que para que os seres
humanos compreendam a criança, o adulto, a comunidade e a totalidade da vida
humana, é necessário que entremos no mundo das crianças, porque os seres
humanos que ãão adultos são meramente as imagens crescidas do que eram quando
crianças. Dewey, Montessori, Piaget e muitos outros se tornaram famosos
filósofos e educadores, não examinando adultos, mas tentando conhecer a criança
em seu mundo. O que a infância de uma geração é e será o que essa geração se
torna em sua idade adulta. Uma infância arruinada é uma sociedade arruinada.
As
nações, politicamente falando, são crianças também e os líderes são seus babás.
Quando as babás se tornam inconscientes de sua responsabilidade social,
cultural e política, a vida da criança
em suas mãos pode ser posta em perigo. O que é verdadeiro para a vida de
uma criança é também verdadeiro para a vida de uma nação. Quando os líderes das
nações são politicamente analfabetos e irresponsáveis, as nações são arruinadas
e destruídas moral, cultural, social e economicamente; pior, seus habitantes
são transformados em pássaros sem asas. Estamos plenamente convencidos de que
os políticos não devem assumir levianamente a sua responsabilidade em relação
ao desenvolvimento infantil, porque fazê-lo é comprometer o futuro de sua
nação.
A
arte de Kindezi, brevemente descrita aqui, oferece ao leitor uma compreensãoo
da arte de cuidar de crianças como era quando floresceu entre o povo Bântu,
especialmente no Kôngo.
Nós
sabemos que a maioria dos problemas1 sociais
e psicológicos que afligem a comunidade (violência, estupro, roubo, drogas,
assassinatos – especialmente nas sociedades industriais) são, na maioria dos
casos, problemas relacionados com o descuido social e/ou dos pais em relação à
infância dos membros mais novos. Se a experiência da primeira infância
demonstra que pode destruir a experiência da vida adulta, então é muito
importante que as comunidades do mundo prestem atenção ao Kindezi, a arte que
modela a experiência da criança em seus primeiros estágios. A comunidade deve saber que o estado mental
de seus ndezis (babás), especialmente quando são mais velhos e tem uma
experiência estática ou concreta para transmitir. A experiência concreta
algumas vezes pode ser negativa e pode ter um impacto negativo no estado
psicológico da criança e, consequentemente, na sua vida adulta.
Um ndezi mentalmente doente não pode
ser um efetivo “artista” (babá) para aqueles que são a esperança do amanhã para
a comunidade mundial. Um/a babá deveria ser mentalmente mais saudável do que os
pais da criança já que seu papel vale mais do que um trabalho remunerado (como nos
casos do Ocidente) ou a responsabilidade com certo kibwanga2,
recompense (como no caso dos Bântu/Kôngo). A necessidade de responsabilidade
para o ndezi é para que seja um padrão do futuro (modelo de papel social). Da
mesma maneira, politicos e outras figuras de liderança das nações (que são
“babás” de seus Sistemas) devem estar mentalmente com boa saúde porque um
advogado mentalmente insano, por exemplo, não pode defender ou julgar, nem
mesmo um psiquiatra doente pode ser um bom terapeuta. Ambos podem afetar a
saúde de toda uma sociedade. A demência entre aqueles que tomam as decisões
domundo pode ser uma coisa muito perigosa. Pode levar a qualquer tipo de
desastre.
É nossa esperança que o estudo da Kindezi, a arte de cuidar de crianças, servirá como um modelo positivo para as babás progressistas ao redor do mundo, e estimule o mundo dos negócios a repensar as condições do ambiente de trabalho, para incluir Kindezi como uma parte integral de seu funcionamento.
1.
Muitos destes problemas estão acontecendo no momento
em que estamos escrevendo este estudo. Agora, a tecnologia do Ocidente está em
processo do que podemos chamar basicamente ????? aqui as crianças alienadas e
insanas em sua concepção, por pais e mães de quem a existência é conhecida por
poucos, através de arquivos, em laboratórios e bancos de esperma. Essas
crianças podem ser as mais desgraçadas, psicologicamente instáveis e perigosas
para a sociedade do amanhã.
2. No caso do ndezi, essa recompensa é geralmente bundezi, a recompensado ndezi, que pode ser um presente dado pelos pais da criança para o ndezi.
Comentários
Postar um comentário