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orquestra afrobrasileira

          
 
 
A primeira vez que escutei a Orquestra Afro-brasileira foi um divisor de águas na minha vida musical. De repente estava tudo ali: a riqueza e diversidade da música brasileira afrodescendente em uma roupagem de gala sem perder nenhum pingo de seu valor ritualístico.
Os sons da puíta, do berimbau, dos atabaques e da voz marcante e inesquecível da cantora Maria do Carmo... 

Abigail Moura

De 1942 a 1970, o mineiro Moura esteve à frente da ousada e vanguardista Orquestra Afro-Brasileira, projeto musical criado por ele para valorizar a memória e a cultura negra.
 
orquestra afro-brasileira

O texto de Grégoire de Villanova que se segue foi tirado da página:
"De que elementos é formada a memória brasileira? Quais componentes estão presentes na vida dessa “jovem” nação de quinhentos anos, que ainda hoje luta para forjar uma personalidade própria?
Durante quase trinta anos o maestro Abigail Moura esteve à frente da Orquestra Afro-brasileira, doando-lhe seu esforço como se fora devoção religiosa. Antes de cada apresentação, agia como um sacerdote rendendo graças, elevando o palco a espaço sagrado. Sem dúvida essa Orquestra é parte importante no resgate da memória nacional.
A Orquestra nasceu em 1942 como um grupo voltado à divulgação da arte e cultura musical negra brasileira.
Apoiava-se nos instrumentos de percussão, base da sonoridade “bárbara”, presente a harmonia nos instrumentos ditos “civilizados”: piano, sax, trombone.
Em suas pesquisas, o maestro Abigail incorporou percussivos originais como agogô, adejá, o urucungo, afoxé, atabaques e a angona-puíta... espécie de ancestral em tamanho grande da cuíca brasileira.
A escola contemporânea, apoiando-se nos instrumentos harmônicos, seria a constatação da evolução musical dos afro-brasileiros. Aqui precisamos lembrar que a Abolição da escravatura deu-se entre nós apenas em 1888.
A história da Orquestra é marcada tanto pela presença do divino, como por fatos estranhos. Por exemplo, Maria do Carmo – sua cantora oficial, certo dia, ao fim de uma apresentação, teria enlouquecido, jamais voltando a cantar. Figura imprescindível, cujo nome se confunde ao da própria Orquestra, o maestro Abigail Cecílio de Moura, era mineiro e faleceu em 1970. Até o fim de seus dias levou uma vida honrada e pobre, acalentando o sonho de ver sua orquestra retornar ao brilho dos grandes dias. Era copista da Rádio MEC, função que exerceu até sua morte.
A Orquestra despertava interesse por ser considerada “exótica” e muitos iam aos concertos por curiosidade. Sua diversidade musical ia do maracatu ao frevo, jongo, temas do folclore, cânticos de umbanda e candomblé, privilegiando as heranças nagô e bantu, católica portuguesa e a presença indígena."
 
O primeiro disco da Orquestra Afro Brasileira, um dos mais importantes discos já lançado no Brasil

1. Apresentação de Paulo Roberto
2. Chegou o Rei Congo      (Abigail Moura)      Batuque
3. Calunga      (Abigail Moura)      Batuque
4. Amor de Escravo      (Abigail Moura)      Jongo
5. Saudação ao Rei Nagô      (Abigail Moura)     Batuque
6. Festa de Congo      (Abigail Moura)       Maracatu
 7. Babalaô      (Abigail Moura)      Cântico noturno
 8. Liberdade      (Abigail Moura)      Batuque
 9. Obaluayê      (Abigail Moura)      Lamento


 
O segundo álbum da Orquestra Afro-Brasileira foi lançado originalmente em 1968 pela gravadora CBS
 
O segundo disco da Orquestra Afro-brasileira

01- Agô Lonan
02- Tire o Calundú
03- Índia
04- Palmares
05- Babaloxá
06- Canto Para Omulú
07- Mo-fi-la-do-fê
08- Saudação aos Orixás
09- Xangô
10- Nagana
11- Os Oinho de Iaiá
12- Rei N'aruanda
 
 
 
Último dos dois únicos álbuns lançados pelo grupo liderado pelo compositor e maestro Abigail Cecílio de Moura, autor das 12 músicas do disco, Orquestra Afro-Brasileira difundiu sons da cultura musical africana em faixas como Babaloxá, Os oinho de iaiá e Palmares, propagando ritmos como o opanijé (ritmo devotado ao orixá Omolu) e alujá (ritmo designado para o orixá Xangô) com a polirritmia afro-brasileira, cuja base foi recolhida em cerimônias litúrgicas afro-brasileiras.
O genuíno som africano da orquestra era extraído da mistura de instrumentos ocidentais (como saxofone e clarineta) e primitivos (como urucungo, angona-puíta, agogô, gonguê, rum, rumpi, lê, afoxê, adjá, berimbau e ganzá). As músicas são cantadas em bantu, nagô, nheengatu e em português.

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