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As Sete Cores do Universo. Literatura de Cordel

Você gosta de literatura de cordel? Já leu "As sete cores do universo" no site do Mapa da Palavra da Bahia? Este cordel foi feito em homenagem ao meu grande amigo e mestre Oswaldo Griot, pintor brasileiro que espalhou suas cores pelos quatro cantos do mundo, e faleceu em 2015.



http://mapadapalavra.ba.gov.br/mo-maie/

AS SETE CORES DO UNIVERSO


Mo Maiê, Salvador, 2015

1
Musas cobertas de lama,
Fogo da brasa a brilhar,
Cura que mora nas folhas,
Na profundeza do mar!
E clamo às forças do vento,
Ao Tempo, pai do momento:
Deixa-me um conto eu contar!

2
Mas antes de começar
Eu não posso me esquecer
Da farofa pela estrada
Com cheirinho de dendê!
Cortando o mal do caminho,
Das rosas, o fel do espinho,
Mensageiro, Laroiê!

3
A mágica natureza
Da África para Bahia
Fez nascer um arco-íris,
Trazendo doce alforria.
Negros que foram cativos
Negras e seus filhos vivos
Só vão chorar de alegria!

4
Trazem ondas da calunga,
Sopros de terras nagôs
Cheias de sons e mandingas
Onde caminham griôs:
Os contadores de causos,
De estórias, cantos, Arautos
Risos - a fé dos avôs!

5
Das sete cores do mundo
Nasceu griô brasileiro
De “Grióti” era chamado -
Sem sotaque de estrangeiro.
Pintou em sua bela tela
Preta história da favela
Libertou Navio negreiro!

6
Com tons azuis da paleta
Pintou do mar, oxigênio.
A Forte espada de Ogum,
Rompendo novo milênio.
O colinho de Yemanjá,
Doce como sal do mar,
Seu amor é mais que prêmio!

7
Se verde é irmão do azul,
Dos mares nasce floresta
Onde o preto viu o índio
Correr nú sempre em festa
Salve Oxóssi, Pai Tupan!
Nas dunas de Itapuan,
Trazendo caça modesta!

8
Vem dançar nesse xirê
O fogo da cor vermelha
Com gostinho de acarajé,
Chispa acesa da centelha
Vem lá Iansa com Xangô,
Pintar no céu todo amô
Que cabe na lua cheia!

9
Das tintas desse Griót
Nasce o brilho da beleza
Do Ouro da mina de Oxum,
Dessa manga cá na mesa,
Faz brotar do amarelo
Tudo que no mundo é belo
Com raíz na realeza.

10
O novo, velho será
Morto, voltará a viver!
De lama, nós fomos feitos,
Lama, voltaremos ser!
Nana, roxinha de amor,
Um buquê de palha em flor
Em seu peito vem trazer.

11
Alçando certeiro vôo,
Sonho de libertação,
Pintou com a mais bela cor
- O Preto da escuridão -
Quadro de sono profundo,
Se foi Grióti do mundo…
Boa noite, pai, meu irmão!

12
No crepúsculo da aurora
O branco nasce do preto
Oxalá tráz tanta rima
Que mal cabe num soneto
Vem sem pressa, vem chegando
Feito carrosel girando,
Colore a rua e o gueto.

13
Verdade, bem e beleza
Foram mensagem divina
Que esse griô brasileiro
Nos contou com tinta fina:
Verde, branco e o amarelo
Na justiça do martelo
Brilha paixão cristalina!

14
Sua dança derradeira
Fez da natureza um porto.
Espelhou tanta promessa,
Sementes brotam do horto:
Rosas, orquídeas, bromélias,
Odaras, negas Ofélias,
Tão vivo, ainda que morto!

15
Letras queimadas de um livro
Cantam a saga  da fera:
Mil cores dançam na noite
Num verão de primavera.
Passos de grandes griôs
Filhos, netos, bisavôs
Contentes com a quimera!

16
Língua, navalha afiada:
Berço da mãe resistência.
Palavra, letra sagrada,
Verdade, fé, consciência!
Nesse terreiro de estórias,
De guerras, honras e glórias
Agradeço sua presença!




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