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de onde eram os africanos escravizados que vieram para o Brasil?

principais rotas do tráfico negreiro para o Brasil
Muitos de nós desconhecemos por completos palavras como yorubá, jeje, fon, banto - e sem saber somos herdeiros das culturas desses povos, que foram trazidos para o Brasil nos porões dos navios negreiros. Juntos e misturados, mal podia-se perceber quanta diversidade traziam consigo em suas línguas, costumes sociais, crenças.
Alguns registros contam que, por volta de 1470, o comércio de escravos oriundos da África tinha se tornado o maior produto de exploração vindo do continente. Eram prisioneiros de guerra, indivíduos condenados por roubo, feitiçaria, adultério, ou simplesmente raptados em suas vilas, tirados violentamente de suas terras, incluindo mulheres e crianças.
A escravidão obrigou filhos de vários confins da velha mamma África se misturarem forçosamente.
Tanto para os traficantes quanto para os senhores que compravam os escravos nas terras tupiniquins era melhor separar os negros de uma mesma tribo, a fim de evitar possíveis revoltas e tentativas de fuga. No entanto essa estratégia de separação de escravos de mesmas tribos não conseguiu evitar o inevitável. E foi assim que, ainda nos porões dos navios, se iniciou isso que o músico baiano Letieres Leite define como o "pacto da senzala" - o pacto cultural, musical, religioso, social que foi feito por um instinto de sobrevivência por negros de diferentes tribos para conviverem bem no Brasil,  criando a partir dessa fusão os pilares de uma nova cultura pós-africana: a cultura brasileira.


retratos de negros e negras em Pernambuco, por volta de 1870
 
Milhares de negros vindos de várias partes da África chegaram em portos brasileiros. O maior número desses escravos pertencia a grupos do tronco lingüístico banto da África Centro-Ocidental, que inclui as regiões do Congo, Angola e Moçambique.
Outros eram os yorubanos ou “sudaneses” (oeste-africanos), que se destacam como um dos grupos mais importantes, que, dos mercados de Salvador, se espalhou por todo o Recôncavo.
Dentre esses negros estavam os Iorubás ou Nagôs e os Geges (que inclui as etnias de Fon; Ashanti; Ewé; Fanti), os Mina e os Malês (que são povos do oeste africano muçulmano, na maior parte falantes da língua haúça), entre os quais também os Mandingas, Fulas, Tapas, Bornu e Gurunsi. Atualmente esses países são Togo, Gana, Nigéria, Costa do Marfim e Benim, onde está a “costa dos escravos”.   
Os oeste-africanos constituíram a maior parte dos escravos levados para a Bahia. Pertenciam a diversos grupos étnicos que o tráfico negreiro dividia. Durante o ciclo do ouro (no século XVIII) muitos sudaneses foram levados para Minas Gerais, onde também chegaram a predominar. No século XIX foram superados pelos escravos bantos da região de Angola, Congo ou Cabinda, Benguelas e Moçambique. Os bantos foram introduzidos em Pernambuco, de onde seguiram até Alagoas; no Rio de Janeiro, de onde se espalharam por Minas Gerais e São Paulo; e no Maranhão, atingindo daí o Pará. Ainda no Rio de Janeiro e em Santa Catarina foram introduzidos os camundás, camundongos e os quiçamãs.
Assim vinham:
- Nos séculos XVI e XVII dos portos de Senegal e Gâmbia, enviando escravos da região oeste-africana principalmente para Salvador e Recife.
- Nos século XVIII dos portos de Mina (Guiné), Uidá (Benin), Calabar (Nigéria), Cabinda (Angola) e Luanda (Angola), enviando escravos desembarcados em Salvador e Rio de Janeiro, de onde a maior parte ia para Minas Gerais.
- Nos séculos XIX dos portos de Mina, Uidá, Calabar, Cabinda e Luanda, desembarcando principalmente em Salvador e Rio de Janeiro, indo para as plantações de café no vale do Paraíba do Sul e cana-de-açúcar no norte fluminense.
Nós, os brasileiros, somos herdeiros de várias culturas africanas. E essas histórias deveriam estar nos livros de histórias de nossas escolas, para que pudéssemos conhecer melhor nossas próprias raízes.




retrato genético do Brasil negro

Nós, os brasileiros, somos herdeiros das várias culturas africanas. E essas histórias deveriam estar nos livros de histórias de nossas escolas, para que os brasileiros pudessem conhecer melhor suas próprias raízes.

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