KINDEZI WASÂDULWA, KINDEZI UNA SÂDILA
(alguém cuidou de sua criança, você cuidará da criança de alguém)
Kindezi . A arte do cuidado da criança e do corpo social |
Kindezi. A arte Bakongo de Cuidar das Crianças.
O provérbio acima traduz "a pedra angular desta arte:
Um garoto tem que cuidar de seus irmãos e irmãs mais jovens, enquanto um avô tem que cuidar de seus netos. Qualquer pessoa da comunidade (...) pode cuidar de alguma criança da comunidade para que KÔNGO, MWÂNA MU NTÜNDA, ZITU KIA MÜNTU MOSI; KU MBAZI, WA BABÔNSONO" . " uma criança no útero da mãe é responsabilidade de uma pessoa; uma vez que tenha nascido, ela pertence a todos (na comunidade)."
Há anos venho criando minha mwana, minha criança dentro do que hoje chamam "mãe sólo". O entendimento e estudo de KINDEZI vem me ajudado muito a dinamizar minha vida e me libertar de sentimentos de baixa vibração, pelas limitações geradas pelo fato de ser mãe solteira e precisar sempre de ajuda para cuidar de minha filha.
Gingar com o tempo, para dar conta de minha própria existência e da existência de um outro ser, tão pleno de necessidades ...
cuidar da casa, trabalhar, estudar, cuidar da filha, da melhor maneira possível, existir (KALA) ...
Eu nunca conseguiria tudo isso se estivesse sozinha.
E sei que por isso também passam milhões de mulheres ao redor do mundo, que só existem porque vivem em cooperatividade.
Só existimos porque nosso corpo é parte de um corpo maior. o corpo comunidade.
corpo família, uma rede de relações humanas, constelações de afetos, que nos ampara e nos dá condições de trabalhar e trazer o sustento para casa. e poder viver bem.
é o que estamos buscando
memórias de sabedorias e entendimentos ancestrais que nos foram talhados, quebrados, partidos, dissolvidos ...
mas que vira e mexe voltam, trazidos pelas águas das marés do mundo ...
Como atravessar a existência de uma maneira saudável, plena, audaz, como se ancestralizar da melhor maneira, atravessando pelos DINGO DINGO, e se desemaranhar destes emaranhados ... criados pelos sistemas opressores machistas cartesianos tecnologicistas multifóbicos e racistas, em que nos meteram?
"Viver a experiência de ter sido sua identidade massacrada, confundida em suas perspectivas, (...) a experiência de comprometer.se a resgatar sua história e recriar-se em suas potencialidades" (Neuza Santos Souza)
Eu nunca conseguiria tudo isso se estivesse sozinha.
E sei que por isso também passam milhões de mulheres ao redor do mundo, que só existem porque vivem em cooperatividade.
Só existimos porque nosso corpo é parte de um corpo maior. o corpo comunidade.
corpo família, uma rede de relações humanas, constelações de afetos, que nos ampara e nos dá condições de trabalhar e trazer o sustento para casa. e poder viver bem.
é o que estamos buscando
memórias de sabedorias e entendimentos ancestrais que nos foram talhados, quebrados, partidos, dissolvidos ...
mas que vira e mexe voltam, trazidos pelas águas das marés do mundo ...
Como atravessar a existência de uma maneira saudável, plena, audaz, como se ancestralizar da melhor maneira, atravessando pelos DINGO DINGO, e se desemaranhar destes emaranhados ... criados pelos sistemas opressores machistas cartesianos tecnologicistas multifóbicos e racistas, em que nos meteram?
"Viver a experiência de ter sido sua identidade massacrada, confundida em suas perspectivas, (...) a experiência de comprometer.se a resgatar sua história e recriar-se em suas potencialidades" (Neuza Santos Souza)
Buscando novas formas, buscando os caminhos da descolonização, buscando os caminhos de curar as afetividades feridas, buscando diluir estas memórias de maus tratos e silenciamentos por que tantas ancestrais caboclas, africanas, negras, misturadas, latino americanas passaram e tantas ainda vem passando, na pele de suas ascendentes descendentes ?
Buscando despertar do sono imposto pelos dominadores.
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Buscando despertar do sono imposto pelos dominadores.
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No ano passado tive uma conversa essencial para minha vida com Makota Valdina, uma mulher que é uma grande guardiã da ancestralidade espiritual bantu na Bahia.
Conversávamos sobre os aprendizados bakongo ...
Quando ela me disse que, para compreender e experienciar de verdade KINDEZI (a arte bakongo de cuidar de crianças), eu deveria passar um tempo arrodeada de minha família, em minha comunidade natal.
Quando ela me disse que, para compreender e experienciar de verdade KINDEZI (a arte bakongo de cuidar de crianças), eu deveria passar um tempo arrodeada de minha família, em minha comunidade natal.
Os tempos coincidiram com a passagem espiritual da minha avó materna e eu vim passar um ciclo em Mariana, com minha filha Flor, no seio da minha família consanguínea. Mergulhada neste universo entre crianças e idosos ...
Mas o que é Kindezi?
Mas o que é Kindezi?
"Kindezi, a arte de cuidar de crianças, é uma arte antiga entre os africanos, em geral, e os Bântu, em particular. É basicamente a arte de tocar, cuidar e proteger a vida da criança e do ambiente, Kinzungidila, em que o desenvolvimento multidimensional da criança ocorre. A palavra “Kindezi”, um termo da língua “Kikôngo”, deriva do verbo raíz Ieia, que significa desfrutar de tomar e dar cuidados especiais.
Cuidar de crianças – Ieia, ou seja, dar cuidados especiais- é, antes de tudo, uma forma de transferir padrões sociais para os membros mais jovens da comunidade. E, em segundo lugar, é a orientação da criança para a vida que compreende orientações muito bem determinadas de acordo com as normas e valores comunitários. Com tal, osKindezi/Kindesi podem variar de uma sociedade para outra em relação aos sistemas individuais e seus valores.Kindezi, a arte de cuidar de crianças, também oferece a oportunidade de testemunhar uma experiência de vida pessoal ao longo do processo de desenvolvimento do estágio mais delicado da vida: a infância.
Por causa destas visões filosóficas sobre Kindezi entre os povos africanos e o Kongo, em particular, cuidar de crianças é considerado um método terapêutico altamente recomendado para ajudar os anciãos (ao “usá-los” como cuidadores) a lidar com seus diversos problemas sociais, psicológicos e/ou gerontológicos." (KINDEZI, FU KIAU E LUKONDO WAMBA)
(Eu escrevo aqui minha narrativa pessoal, porque as experiências que vivo é que vão me orientando pelo mundo, e gerando em mim reflexões. Nāo pesquiso nem estudo na universidade. Escrevo conforme as chispas do interior, em relação com o que está à minha volta. Sem refinamento e termos mais elaborados ... )
"Durante séculos as mulheres africanas foram elas mesmas os "reis", "generais", pescadoras, médicas, comerciantes... graças à descoberta de KINDEZI, que lhes permitiu ser seres humanos mais livres. Elas não precisavam de um marido para atravessar uma estrada, um rio ou para garantir sua presença física na fazenda. Confiar na presença do homem/marido, dizem as mulheres africanas, é dar credibilidade à doutrina da inferioridade feminina, fundamento do chauvinismo masculino ocidental. Esta doutrina provou atrofiar o potencial feminino como mãe ou outras profissões dentro da sociedade."
Foi o contato e o estudo das cosmopercepções africanas, em especial a cosmovisão bakongo, que passou a provocar em mim uma transformação muito profunda, um verdadeiro divisor de águas ...
mas ainda que estas transformações estejam acontecendo em meu interior, NUNCA farão sentido se acontecer somente dentro de mim ou entre eu e minha filha. Porque estas noções e entendimentos do mundo e do universo, da natureza e das relações humanas só fazem sentido se praticadas dentro do corpo familiar, comunitário, social ...
mas ainda que estas transformações estejam acontecendo em meu interior, NUNCA farão sentido se acontecer somente dentro de mim ou entre eu e minha filha. Porque estas noções e entendimentos do mundo e do universo, da natureza e das relações humanas só fazem sentido se praticadas dentro do corpo familiar, comunitário, social ...
CORPO SOCIAL . Somos corpo comunidade, somos corpo família ... parte de constelações e clãs ancestrais ...
no entendimento bantu das experiências de vida, um CORPO SÓ não existe. Eu existo porque você existe (já diria a máxima ubuntu). Uma mãe sozinha só existe quando o bebê Kala dentro de seu ventre.
Há um provérbio bakongo que diz "uma criança no ventre da mãe, é preocupação da mãe, mas depois de nascida, é preocupação de todos."
no entendimento bantu das experiências de vida, um CORPO SÓ não existe. Eu existo porque você existe (já diria a máxima ubuntu). Uma mãe sozinha só existe quando o bebê Kala dentro de seu ventre.
Há um provérbio bakongo que diz "uma criança no ventre da mãe, é preocupação da mãe, mas depois de nascida, é preocupação de todos."
Fu Kiau e Lukondo Wamba no livro "Kindezi, A arte Bakongo de Cuidar de Crianças" nos contam que:
"sem kindezi a mulher africana nunca experimentaria a grande liberdade que ela desfruta. Também não ocuparia a posição que ocupa no controle da terra e da produtividade econômica. Ao contrário da mulher ocidental, a mulher africana é mais agricultora do que o homem. A mulher africana, nessa perspectiva, é muito mais auto-empreendedora do que sua colega do ocidente. Aqui no ocidente, a mulher é basicamente um empregado para o trabalho do homem. A mulher africana permanece em sua fazendo da manhã ao cair da noite." (KINDEZI, K. Kia Bunseki Fu Ki.Au e A.M. Lukondo-Wamba)
KINDEZI trata de conectar a sabedoria e experiência dos idosos com a força e vigor dos mais jovens, enfatizando o conceito de "continuidade intergeneracional", "consistência da formação de valores e transmissão de responsabilidade mútua", "A arte e prática africana da Kindezi é de grande importância na presença dos anciãos na comunidade e sua responsabilidade para a saúde do grupo".
Essas palavras que ele escolhe para definir kindezi trazem elementos muito importantes: continuidade intergeneracional ... arte pratica ... de viver a importância da presença dos anciões para a saúde do grupo.
Eles seguem dizendo:
"O seu trabalho é um trabalho de terra feito sem qualquer participação masculina, graças à arte de KINDEZI . Uma mãe com um NDEZI (cuidador, babá) é um pássaro voando, ela pode ir para onde for possível. Esse tipo de liberdade de que gozam as mulheres africanas para administrar seus próprios assunos não foi descoberta por mulheres ocidentais até recentemente, como o movimento de libertação das mulheres, que nasceu aliás, como resultado da descoberta antropológica do :terceiro mundo: . No Ocidente, a terra é domínio dos homens apenas. Em África, é principalmente o domiínio das mulheres, graças ao papel desempenhado pelos KINDEZI na libertação das mulheres da casa. E esse é um novo fenômeno no Ocidente."
Na história desta negra cidade que é Ouro preto, por exemplo, as mulheres desempenharam um papel super importante na libertação dos afrikanos e afrodescendentes. Com seus trabalhos e conhecimentos, tanto no comércio quanto na mineração, as mulheres compravam suas cartas de alphorria e as cartas de alphorria de seus companheiros.
E onde estavam seus filhos? Como estavam seus filhos?
Na histórica cidade preta que é Ouro Preto, como ainda estão estas crianças?
Onde estão nossas crianças? Como estão nossas crianças? Com quem estão nossas crianças?
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Mo Maiê.
Mariana, Agosto de 2018
Essas palavras que ele escolhe para definir kindezi trazem elementos muito importantes: continuidade intergeneracional ... arte pratica ... de viver a importância da presença dos anciões para a saúde do grupo.
Eles seguem dizendo:
"O seu trabalho é um trabalho de terra feito sem qualquer participação masculina, graças à arte de KINDEZI . Uma mãe com um NDEZI (cuidador, babá) é um pássaro voando, ela pode ir para onde for possível. Esse tipo de liberdade de que gozam as mulheres africanas para administrar seus próprios assunos não foi descoberta por mulheres ocidentais até recentemente, como o movimento de libertação das mulheres, que nasceu aliás, como resultado da descoberta antropológica do :terceiro mundo: . No Ocidente, a terra é domínio dos homens apenas. Em África, é principalmente o domiínio das mulheres, graças ao papel desempenhado pelos KINDEZI na libertação das mulheres da casa. E esse é um novo fenômeno no Ocidente."
Na história desta negra cidade que é Ouro preto, por exemplo, as mulheres desempenharam um papel super importante na libertação dos afrikanos e afrodescendentes. Com seus trabalhos e conhecimentos, tanto no comércio quanto na mineração, as mulheres compravam suas cartas de alphorria e as cartas de alphorria de seus companheiros.
E onde estavam seus filhos? Como estavam seus filhos?
Na histórica cidade preta que é Ouro Preto, como ainda estão estas crianças?
Onde estão nossas crianças? Como estão nossas crianças? Com quem estão nossas crianças?
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Mo Maiê.
Mariana, Agosto de 2018
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