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As caixeiras do divino no Maranhão




Para tornar-se uma caixeira é necessário estagiar no ritual das caixas. Enquanto são jovens, as mulheres acompanham as caixeiras carregando bandeiras e bandeirinhas, aprendem os cânticos e danças para quando atingirem a maturidade possam integrar um novo grupo de caixeiras, em geral dedicam-se a prática como cumprimento de promessa. Embora não recebam pagamento, as caixeiras são muito respeitadas, e no Império do Divino, recebem muitos banquetes durante as festas e são saudadas por todos os visitantes. Por ser uma festa com muitas comidas, acredita-se que comer na Festa do Divino garante comida em casa o ano todo.
O ritual que marca o início da Festa é o levantamento do mastro: muitos homens vão à mata procurar um tronco alto e bonito para colocá-lo como mastro, no percurso de volta até o terreiro os homens se exibem pelas ruas em sinal de orgulho pelo achado. No levantamento, o mastro é enfeitado e em cima dele colocado a bandeira do Espírito Santo junto com uma pomba esculpida em madeira. Segue-se então com o batismo do mastro, as caixeiras, o império e os padrinhos dão voltas ao seu redor colocando velas, fazendo rezas e entoando cânticos. Com o mastro levantado se inicia oficialmente a festa. Durante os dias há uma salva de caixas pela manhã, ao meio dia e ao anoitecer, esses toques são chamados de alvoradas.
No dia de Pentecostes, ápice da festa, há uma missa na igreja da cidade, onde a maioria dos integrantes do terreiro comparece. As caixeiras deixam seus instrumentos do lado de fora da igreja, indicando que em alguma época era proibida a entrada de elementos considerados pagãos pela igreja. Após a missa forma-se um cortejo para a volta ao terreiro, a frente vão as crianças do Império e atrás as Caixeiras, com muitos cânticos a cidade vai sendo despertada para o dia de Pentecostes.
Depois de muitos rituais durante os dias de festa, acontece o derrubamento do mastro, então as caixeiras se reúnem diante da tribuna para saudar a entrega dos cargos do império aos próximos imperadores e mordomos, com toques, cânticos e lágrimas das crianças que deixam os cargos. Em alguns lugares, acontece ao final das festividades uma roda de Carimbó, quando as caixeiras se reúnem para tocar e se divertir com os convidados que ainda permaneceram, essa é denominada a parte profana da festa.

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