
«Caminho como canta o coração; com ritmo de vida e de luz. Não obstante todos os obstáculos colocados por raças obscuras. A vida pertence-me. É linda. Será minha enquanto ela viver. Eternamente. É isto que canta o meu coração. É isto que diz a marcha rítmica a pés descalços no caminho pedregoso. No caminho da vida e da luz. Jovem, não tenhas medo. A natureza é tua amiga e o ritmo é a tua riqueza. Canta, dança, vive e ri e sê feliz. Trabalha na beleza que se desprende dos cânticos dos “griots” que semeiam doçuras de optimismo no esforço dos homens. Canta, vive e trabalha e assim serás um homem.
Eis a lição do meu povo. Negro do oeste a este e até ao Cabo da Boa Esperança. Povo de tristezas e alegrias todas embebidas de música e dança. Para o nascimento da criança. Para ajudá-la a crescer e a viver uma longa vida como homem. Para lhe abrir, por fim, as portas de uma outra vida, quando já tiver fechado os olhos para rever melhor. “Os mortos nunca partiram. Os mortos não estão mortos.” Exclama Birago Diop em nome de toda a África negra.
Em nome de todas as comunidades negras que, desde séculos, em todo o continente se reúnem em volta desta crença. Crença suprema.
Sem qualquer comparação no mundo. Crença que sempre a música, o ritmo e a dança, redescobrindo o homem, o renovam. Cada dia, em cada século. Para além de qualquer humilhação e injustiça. Bem para além de todos aqueles complexos de superioridade de que se acumulam os homens mortais.
Os negros de África continuarão a viver graças à música, ao ritmo e à dança. Eternamente. Desde os séculos passados até aos milénios vindouros. Na condição de que eles não se deixem invadir de mais por este excesso de bens materiais que matam a imortalidade. Está aqui o segredo da sua vitalidade».
Francis Bebey, músico dos Camarões e ex-responsável do departamento de música da UNESCO, citado por Elisabetta Tosi, in La Kora e il Sax, Bolonha 1990
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