mestre rené vive na rua do sodré. uma das ruas mais antigas do brasil, o
sodré fica num bairro chamado 2 de julho, bem no centro antigo da cidade. antigo
e decadente, que vem sofrendo de especulação imobiliária e sendo vendido por
dois cachos de bananas para estrangeiros ou de grandes empresas.
é uma rua
confusa e pulsante. é uma haorta da cidade de são salvador. são antigos casarios
charmosos e caindo aos pedaços, esquecidos por quem tem poder, cheio de saco de
lixos pelo chão. de longe dá pra ver o mar, lá embaixo. de perto dá pra ver um
buraco gigante no meio da rua, aberto há mais de 15 dias, atrapalhando o caminho
de quem pensa que passa, passa que pensa que pensa que passa. essa é a rua do
sodré.
tem criança, tem mulher viciada em crack, tem cachorro, tem sacizeiro.
tem vendedor de livros tem "aluga-se excelente quarto", tem filho de chinês e
tem chinês também. tem dona vendendo dendê, tem malandro vendendo quentro, tem
capoeira navio negreiro. tem seu santos e dona lúcia, tem menino filho de puta,
dona atrás de dona, gente falando com gente, gente ouvindo música alta com
gente, gente que gosta de arrocha, shampoo de quiabo, gengibre, água de côco,
tem peixe fresco. mas tem sempre mais lixo. o lixo aqui pulula, lixo aqui se
esbanja.
rua do sodré foi a rua onde morreu castro alves, que dizia
assim:
"A canção do africano
Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão ...
De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez pra não o escutar!"
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão ...
De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez pra não o escutar!"
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